quinta-feira, maio 29, 2008

DESTINO TRAÇOU GRANDE
DUELO NA COPA DO BRASIL

Tem certas coisas que acontecem no futebol que nem o mais criativo roteirista de Hollywood poderia imaginar. Essa final da Copa do Brasil, por exemplo. Corinthians e Sport. De um lado o alvinegro, recuperando o respeito e a dignidade após o rebaixamento vergonhoso. De outro, o treinador que capitaneava o time quando foi rebaixado, recuprando, ele, sua dignidade e seu respeito. O reencontro de Nelsinho Batista com o Corinthians é coisa dos melhores roteiristas americanos, com o sem greve.
Ambos mereceram chegar onde chegaram. Começo pelo Sport, representante do Nordeste, sempre tão esquecido e desprezado pela crônica esportiva do Sudeste Maravilha. O Sport é um baita de um clube, com uma torcida gigante, uma bela história e um time extremamente competitivo. A Copa do Brasil é o palco ideal para equipes com o perfil desse time dirigido pelo Nelsinho Batista. Jogadores que muita gente acreditava estarem acabados, como Leandro Machado. Outros que o senso comum classificam apenas como "jogadores de time pequeno", como Romerito. Atletas de grande prestígio no Nordeste, como Carlinhos Bala. Outros de nível nacional, com futebol para jogar em qualquer time do País, como Dutra. Um goleiro de personalidade e cuja história ficou marcada por ter sofrido o milésimo gol de Romário. No banco, Nelsinho. Teve grandes conquistas e derrotas marcantes. Ficou afastado do Brasil por algum tempo, correndo atrás do justo e merecido conforto financeiro. Quando voltou, pegou o Santos depois da rápida passagem de Alexandre Gallo. Foi condenado por ter, ele, condenado o trabalho feito por seu antecessor e carregou a cruz de ter sentado no banco no dia em que o Santos perdeu de 7 do Corinthians. Retornou ao Corinthians, onde não é apenas mais um treinador. É o treinador do primeiro título brasileiro, em 1990. Também é o treinador que perdeu o título que tirou o Palmeiras da fila, em 1993. É o treinador do título paulista do São Paulo em cima do Corinthians, em 1998, no famoso duelo do nó tático contra Luxemburgo. E, o que é mais saboroso em termos de roteiro, Nelsinho caiu com o Corinthians para a Série B do Brasileiro.
Agora o treinador e o time que o transformou em técnico de ponta estarão frente a frente numa final de Copa do Brasil. Competição que o Sport e o futebol do Nordeste jamais venceram em quase 20 anos de disputa. A campanha do Sport é sensacional. Deixou pelo caminho Palmeiras, Inter e Vasco. Jamais poderia ser considerado zebra, simplesmente por ser o Sport. Com um currículo desses, então, nem se fala.
O Corinthians tem duas conquistas de Copa do Brasil. Se papar a terceira, colocará fim a qualquer possibilidade de gozação dos torcedores rivais, a não ser que consiga a proeza de não voltar à Série A - retorno que pelo nível mostrado pelos advesários na Série B deve acontecer bem antes do final do campeonato. O time está longe de ser brilhante. Mas tem uma característica fundamental, além da luta: conhece e administra bem seu potencial. O melhor exemplo disso é o Herrera, argentino pra lá de limitado tecnicamente, que joga fazendo falta o tempo inteiro, mas que sabe se colocar bem na área, não tenta fazer o que não pode e contagia o time. A defesa é boa, todo mundo sabe. O treinador é competente, embora ande com mania de perseguição. Será uma final de arrepiar.

A HORA DO FLUMINENSE

2 a 2 com o Boca em Buenos Aires, teoricamente, seria para soltar rojão. O Palmeiras fez o 2 a 2 e soltou rojão na final de 2000 e perdeu nos pênaltis, em casa. Repetiu a dose: 2 a 2 e rojões em 2001, e caiu na semifinal, em seu estádio. Portanto, não há como festejar nada antecipadamente quando se trata de Boca Juniors na parada.
Mas que o Fluminense mostrou que pode sonhar mais alto, isso pode. Um time que tem Conca, Thiago Neves, Washington, Dodô, Júnior César (ah se ele passa aquela bola pro Washington....), se estiver num bom dia, não é parada fácil para adversário algum, mesmo para Riquelme e cia.

AJUDEM-ME A ENTENDER

O Brasil está parando de tantos congestionamentos. Seja nas metrópoles ou até mesmo em outrora tranquilas cidades do interior. Há a necessidade de incentivos para a indústria para que o bom momento econômico seja, quem sabe, perpetuado. E leio nos jornais que 53% de todos esses incentivos praprados pelo Governo vão exatamente para a indústria automobilística, que nunca vendeu tanto como agora. Tudo bem que o partido e o presidente têm origem na região de fábricas de automóveis, mas será que o Brasil vai apostar sempre nisso, em fabricar cada vez mais automóveis? E a indústria de alta tecnologia, de produção de chips, informática em geral, a Embraer, a agricultura, a indústria do verde, tão urgente e necessária? A de fabricação de equipamentos médicos, e tantas outras coisas que o Braisl não fabrica ainda e poderia fabricar, reduzindo custos, ampliando horizontes, capacitando profissionais. E o turismo, a indústria do turismo de pesquisa, preservação etc. Por fim, e a porcaria de transporte público?
Talvez eu esteja sendo um pouco preconceituoso, mas não consigo entender muita coisa do que os ministros Mantega e Mangabeira Unger falam. Talvez seja o leve sotaque do primeiro e o carregadíssimo do segundo. Mas um dia eu ainda acho que uma mente capacitada para tal vá pensar realmente o Brasil de um jeito grande.

quarta-feira, maio 28, 2008

CPMF DE NOVO É SACANAGEM


Odeio imposto. Por dois aspectos: tem muito e não serve pra quase nada no Brasil. Agora o governo muito bom e muito populista do presidente Lula acena com a intenção de recriar a CPMF. O argumento é o mesmo, dinheiro para a saúde, o que motivou a criação da CPMF lá atrás, no governo tucano. E a saúde pública brasileira continuou um lixo, uma vergonha, uma nojeira. Como continuou no primeiro mandato do Lula, continua nos segundo e continuará nos outros, com ou sem CPMF.
Digo que o governo do Lula é muito bom porque eu acho muito bom mesmo. E daí que ele esteja surfando nas ondas de um período de bonança mundial - que está terminando. Pior seria se ele não pegasse esse vagalhão. O problema é esse viés que eu entendo como populista e estatizante. O País cresce e o Governo cresce mais que o País, incha, contrata politicamente, faz concessões, vira um estadão cada vez mais paquidérmico. É por isso e para isso que eu acho que o governo quer reviver a CPMF. Por que a eleição vem chegando, é preciso investir na mesma, a máquina do Governo precisa estar aparelhada, o funcionalismo público precisa crescer, porque funcionário público sem concurso, na minha maneira de ver as coisas, é garantia de voto.
Sem a CPMF a arrecadação de impostos não pára de crescer no Brasil. É dinheiro que não acaba mais. A carga tributária é sufocante. Segundo levantamento da Rádio Jovem Pan, em breve o brasileiro vai trabalhar metade do ano só para pagar impostos. E o que recebemos, desse e de todos os outros governos anteriores?

sexta-feira, maio 23, 2008


A EXPRESSÃO MÁXIMA DA

ARTE EM FORMA DE MÚSICA


Para mim, é o momento máximo da arte musical e da raça humana como produção cultural. Ouça. É impossível não se emocionar. Pavarotti executando a ária Nessun Dorma, de Turandot, em 1980, com a Filarmônica de Nova Iorque sob a regência de Zubin Mehta.


O CLÁSSICO TRICOLOR
NUNCA VAI TERMINAR


O Fluminense e São Paulo da última quarta-feira é um jogo que jamais terminará. É daquelas partidas que permanecerão vivas durante séculos, retumbando nas memórias de jogadores e torcedores que a presenciaram. Avôs e pais a passarão em diante, para filhos e netos, que a perpetuarão como uma das maiores apresentações de futebol de todos os tempos. Pelo grau de dramaticidade, emoção e imprevisibilidade.
Quem vence um jogo desses tem sua força multiplicada e sonhará com o triunfo por muito tempo. Já o derrotado certamente terá pesadelos por longos períodos. Dificilmente veremos um jogo como esse na temporada, seja na América do Sul ou na Europa.
Explicações são difíceis de se encontrar. Não gosto de quem pensa que tem explicação para tudo. Na verdade, o debate sobre futebol se faz, na minha opinião, de análises, de pontos de vista diferentes que, confrontados, ajudam alguém a formar também a sua maneira de ver o jogo.
O Fluminense jogou muito futebol na maior parte do jogo. Teve como grande mérito o fato de acreditar sempre que era possível, isso era visível na fisionomia dos jogadores captadas pelas câmeras de transmissão de TV. O São Paulo jogou um grande segundo tempo, como talvez não tenha feito nesta temporada. Mas se já era difícil tirar o Fluminense de perto do seu gol com 11 contra 11, com um a menos foi impossível.
O Fluminense está mais forte, mais competitivo, deixou de acreditar naquelas bobagens típicas de exaltação baba-ovo. É um time mais sério. O São Paulo segue sério e forte, mas como sempre foi um time, nessa atual encarnação, que jogou no limite, sucumbiu porque seus horizontes atuais são mais limitados, frágeis. A equipe hoje erra muito mais do que errava em 2007. De Rogério ao último atacante. E o Tricolor paulista não tem um jogador como o argentino Conca, capaz de determinar qual o rumo que o jogo tomará, ao seu gosto.

O FENÔMENO BOCA JUNIORS

O diabo para o argentino das Laranjeiras e para todos os tricolores cariocas do mundo se apresenta não de vermelho, tridente e chifres. Ele veste as cores amarela e azul. Não adianta bater no peito e exaltar o futebol pentacampeão mundial. Em se tratando de disputa entre clubes, nenhum clube do Brasil chega perto do que é o Boca Juniors. Claro que o Fluminense pode eliminar o Boca e ganhar a Libertadores. Mas a média de aproveitamento dos xeneizes na Libertadores é de fazer inveja a qualquer grande time nacional. Que time brasileiro, tirando o Santos de Pelé, poderia ter ido ao México e feito o que fez o Boca? Que time brasileiro joga fora de casa com a autoridade de Palermo, Palacio e cia.? E o Boca vem se enfraquecendo tecnicamente a cada temporada, o que curiosamente não enfraquece o desempenho do time. Que se aproxima do sétimo título de Libertadores. Ou seja, São Paulo, Grêmio (ou Cruzeiro) e Santos somados. O Boca é simplesmente o dobro do maior time brasileiro na Libertadores. E pode igualar o Independiente, que não dá mostras de que voltará a ser o que era.
Taí a missão do Fluminense, difícil mas não impossível. Porque depois de quarta-feira é um outro Fluminense o que estará em campo contra o maior time das Américas.

quarta-feira, maio 21, 2008

TUDO É POSSÍVEL NO
DUELO DE ALVINEGROS


Foi um bom jogo Botafogo e Corinthians. Poderia ter sido melhor. Muitas faltas atrapalharam o espetáculo, mas elas eram as chamadas faltas de jogo. A orientação era evidente, partindo dos dois bancos: matar a jogada o quanto antes. Mataram também o que poderia ter sido um baita espetáculo.
No conjunto da obra, o Corinthians foi melhor, mais consistente. Mano Menezes está provando que é realmente uma grata revelação como treinador. Peguemos o Corinthians do Paulistão e esse da Copa do Brasil e veremos dois times que praticamente não têm pontos em comum. O atual é competitivo, organizado e ciente de sua nova capacidade.
O Botafogo é refém de seus nervos. Depois de tomar 1 a 0 poderia até ter sido eliminado em casa, tal a pane que se abateu sobre seus jogadores. É caso para divã. Na segunda etapa, porém, contando com uma boa dose de nervos em seu lugar, o alvinegro carioca melhorou e conseguiu virar o jogo.
O último lance do jogo é polêmica pura. Para mim, foi gol legal do Corinthians, equivocadamente anulado pela arbitragem, que vinha boa na condução do gaúcho Gaciba.
Para o jogo de volta, esse sim, com todos os ingredientes para ser dos melhores da temporada, há desfalques às pencas. O Corinthians não terá Lulinha, André Santos, Carlos Alberto e Fabinho. Muitos problemas e um time enfraquecido em talento. A advertência a Lulinha foi ridícula, fruto de uma tremenda burrice do jogador. O Botafogo não terá Túlio e Alessandro.
Para a volta, algumas conclusões que ficaram evidentes ontem. A primeira delas: a defesa do Botafogo é horrível no jogo aéreo. A segunda: Chicão e William não vivem seu melhor momento na dupla de área defensiva do Corinthians e, quando Fábio Ferreira se soma a eles, 3 acaba sendo pior que 2.
Será um teste para os nervos o jogo do Morumbi. Para os nervos da Fiel e para os nervos do time do Botafogo, que tem fraquejado sempre que parece ter chegado a sua hora. Anote na sua agenda.

PELÉ E MARADONA, QUE SACO ISSO!

Nada pode ser mais chato e irritante que as frequentes trocas de farpas entre Pelé e Maradona pela imprensa. Dois gênios do futebol incontestáveis, maravilhosos. Fora de campos, ambos tiveram atitudes que não podem ser dignas de exemplares. E sempre um está procurando algo para cutucar o outro. Estão virando dois vovôs rabugentos. Duas malas.


2010, O MAIOR DESAFIO DA COPA DO MUNDO

A África do Sul é o maior desafio que a Copa do Mundo enfrentará como evento ao longo de sua história. Para quem acha temeroso fazer o Mundial no Brasil, a África do Sul é um barril de pólvora. Xenofobia, racismo velado, violência, desigualdade. Esperemos para ver e tomara que dê tudo certo. Mesmo porque a África merece demais uma Copa, merece demais uma sorte melhor do que a que parece condenada a suportar. Tudo bem que, pelo menos para mim, a África do Sul não seja o representante ideal do continente, mas é o representante. Torço muito para o sucesso em 2010. Faço figa, na verdade.

segunda-feira, maio 19, 2008

CHORO DE DENÍLSON
FOI O GOL DA RODADA


Choro há de todo tipo. Sincero, dolorido, triste, feliz, nervoso, raivoso, forçado, falso. Foi um choro e não um lance, um gol, uma polêmica o que mais chamou a atenção na segunda rodada do ainda morno Brasileirão. Denílson, fama de gozador, fanfarrão, mulherengo, se debulhou em lágrimas na entrevista coletiva após a vitória do Palmeiras sobre o Inter.
Pois estava ali um choro sincero. Denílson estava de coração aberto e fez seu desabafo sem agressões, sem levatar a voz, sem atacar ninguém. Por isso soou sincero e honesto.
Sempre fui contra verdades absolutas e sentenças definitivas. Para tudo na vida. Abomino quem afirma que alguém está acabado, ultrapassado etc. Acho que ninguém tem o direito de fazer tal julgamento. Denílson tem apenas 30 anos. Mesmo se tivesse 40, idade considerada muito avançada para um atleta, não poderia ser chamado de ex-jogador. Quem decide quando encerra a carreira é o atleta, nunca a mídia, o analista, o torcedor.
Denílson sabe que muito do que sofreu foi ele mesmo quem procurou. Mas a reviravolta também foi buscada por ele. Não importa se ele jogará em alto nível, se vai se transformar no craque cuja promessa ainda não se concretizou. O que vale é que Denílson recuperou sua dignidade como trabalhador, como profissional e ser humano. E isso não tem preço.

O BRILHO DAS COPAS

Os adoradores dos pontos corridos que me perdoem mas - lá vou eu de novo - mata-mata é fundamental. Enquanto o Brasileirão não pega no breu, Copa do Brasil e Libertadores estão aí para providenciar a dose indispensável de adrenalina que alimenta o futebol. Na Copa do Brasil, dois confrontos que prometem muito. Sport x Vasco e Botafogo x Corinthians. Muito equilíbrio e muita pegada dos quatro times. Difícil apontar um que desponte tecnicamente. Mas em termos de dedicação, a briga é pra lá de boa.
Na Libertadores, Fluminense e Santos têm missões complicadas pela frente, mas longe de serem impossíveis. Principalmente a do Fluminense. O Santos precisa de mais um jogo épico, como foi aquele diante do Cúcuta, na primeira fase. Só sei que por enquanto os meios de semana estão goleando os finais de semana no futebol.

BOA, ABELÃO!!!

Abel Braga não é de brincadeira. Nos tempos de Ponte Preta, chegou pagar comida do próprio bolso para os jogadores. Agora, no Inter, deu outro exemplo ao condenar publicamente a atitude de Edinho, que entrou forte em Valdívia e foi expulso, atrapalhando a vida do time gaúcho. Melhor do que gritar e espernear contra a arbitragem, é chamar a atenção de jogador que perde a cabeça gratuitamente e prejudica o trabalho do grupo e o espetáculo.

quinta-feira, maio 15, 2008


HISTÓRIAS DA VIDA:
ADRIANO E HERRERA


Não quero comparar Adriano com Herrera, mesmo porque não há comparação. Minha intenção é falar das boas histórias que o futebol escreve. Histórias que fazem desse o esporte que é.
Começo pelo Adriano. Andava largado, esquecido pela Inter de Milão. A aposta em sua recuperação era investimento de alto risco. Houve momentos difícieis. Adriano gosta de se divertir fora do ambiente profissional, se envolveu em algumas confusões, mas no São Paulo voltou a fazer o que sabe: gols. Mais que isso, voltou a jogar bem. Muito bem, como fez diante do Nacional e do Fluminense. Ele é o fio condutor do time são-paulino. Se não joga, o time cai. Se joga mal, o time acompanha. Quando atua como fez diante do Flu, carrega o time com ele.
Adriano é jogador de nível internacional. Pode não ser craque no sentido estético. Mas é diferenciado. Sua maior virtude é saber utilizar no limite do desempenho suas qualidades. Com isso, diminui sensivelmente seus pontos fracos. Completou o ciclo da recuperação e está pronto para voltar à Seleção Brasileira. Com Ronaldo Fenômeno mais interessado em outras diversões, essa vaga é de Adriano, por merecimento.
Herrera não é Adriano, longe disso. Chegou sob um manto de dúvidas, começou a trabalhar diante de um mar de descrença. Trabalhou duro, sua entrega em campo é digna do melhor estilo argentino. Talvez o único ponto em que o futebol dele se encontre com o de Adriano seja o fato de ambos conhecerem suas limitações e explorarem ao máximo suas qualidades. Herrera é um batalhador incansável. Luta por ele e pelo time. Não virou craque por causa disso, mas conquistou o torcedor corintiano. Mesmo sem grandes atributos técnicos, tem a sensibilidade dos centroavantes de verdade, faz a leitura da jogada, sabe onde precisa estar dentro da área.
Herrera e Adriano são duas belas histórias do futebol. Histórias em que o trabalho derruba qualquer previsão pessimista ou aposta precipitada.

QUEM SEGURA O LEÃO DA ILHA?

A principal notícia do primeiro semestre no futebol brasileiro chamase Sport Club do Recife. Tricampeão pernambucano, o time é a sensação da Copa do Brasil. Deixou pelo caminho dois favoritos, Palmeiras e Inter, com vitórias categóricas e incontestáveis. Vai pegar o Vasco na semifinal e com status de favorito. Outra bela história de recuperação, agora protagonizada por Nelsinho Batista, que tocou o fundo do poço com o rebaixamento do Corinthians, mas não ficou preso na lama. O Leão da Ilha está com tudo. Uma justa alegria ao torcedor pernambucano e - por que não? - nordestino, que ama o futebol como poucos.

segunda-feira, maio 12, 2008


BRASILEIRÃO: AINDA É CEDO


É o que diria o saudoso Renato Russo se fosse convidado a comentar a primeira rodada do Brasileirão. Não serve como parâmetro para coisa alguma, embora contabilize pontos importantes. Sempre trabalho com o número de dez rodadas para, depois desses 200 jogos podermos ter uma idéia de qual será a cara desse Brasileirão.
Por quê dez jogos? É porque entendo que nesse período cada clube já terá jogado algumas vezes em casa, fora e feito algum clássico, o que dá para se fazer uma análise do potencial de cada um.
Também já estarão resolvidas as situações dos times envolvidos na Copa do Brasil e na Libertadores, e algumas transferências estarão concretizadas.
Por dever de ofício, acompanhei apenas jogos envolvendo as equipes paulistas nesse primeiro final de semana.
Sábado, trabalhei em São Paulo x Grêmio. Jogo tecnicamente fraco. A disposição tática do Grêmio fez a diferença. O Tricolor gaúcho marcou forte, foi mais atento e mereceu o resultado. O Tricolor paulista abriu mão de seu principal jogador, Adriano, e ainda segurou Hernanes no banco e não pôde contar com Jorge Wagner. Esse trio responde pelos melhores momentos do time na atualidade e foi quase todo inteligentemente preservado para o duelo com outro Tricolor, o carioca, pela Libertadores. Desfalques que enfraqueceram o time de Muricy Ramalho. Mas o que deveria deixar os são-paulinos mais preocupados é a situação quase de dependência do time pela jogada de bola levantada na área do adversário. O São Paulo é um time praticamente viciado nisso. Sem contar com Adriano, Muricy transformou o zagueiro Alex Silva em centroavante em boa parte do segundo tempo. A equipe pode render mais, pode buscar outros caminhos, mas nao está buscando. O Grêmio vive essa dúvida quanto ao trabalho de Celso Roth. Que se defendeu ainda no vestiário do Morumbi contra os rótulos que lhe foram aplicados. É péssimo rotular qualquer profissional, mas a carreira de Roth é que levanta algumas dúvidas. Por que seus times, geralmente, largam bem e não sustentam o ritmo? Talvez o Grêmio tenha essa dúvida também.
No Paraná, o duelo de campeões estaduais foi melhor para o Coritiba. Méritos para a aplicação do time e para o bom treinador Dorival Júnior, dos melhores da nova geração. Belo retorno do Coxa à Série A. O Palmeiras foi mal e mostrou um detalhe que parece recorrente: os atacantes têm grande dificuldade quando sofrem marcações mais fortes, falta movimentação. O aspecto negativo foi a arbitragem, que permitiu a pancadaria de ambos os times.
O Santos também fez o certo ao priorizar a Libertadores. Pagou um preço que pode ser considerado justo por ter escalado um time reserva e cheio de garotos contra o Flamengo. Sofreu gols em erros do próprio time, que só reforçaram a superioridade do time principal rubro-negro contra o time B santisa.
A Portuguesa protagonizou o primeiro grande jogo do torneio, um sensacional 5 a 5 com o Figueirense. Pelo que vi dos melhores momentos, foi realmente um grande jogo. Parece fácil dizer que a Lusa deixou escapar a vitória só porque vencia por 5 a 2. Mas por que não reconhecer o empenho do Figueira, que foi à luta, valente, e conseguiu o empate? Prefiro ver dessa maneira.
De qualquer modo, foi dada a largada e vamos aguardar a sequência de jogos. Já disse várias vezes e reitero: prefiro campeonatos que tenham o mata-mata, os jogos eliminatórios. Mas sou daquele tipo que, pra falar bem de alguma coisa não precisa falar mal de outra. Também vejo pontos positivos no sistema de turno e returno com somatória geral de pontuação. Assim como no mata-mata, é fundamental ser consistente jogando em casa. Quem tiver bom aproveitamento como mandante vai puxar a fila. E quem, além disso, for competente para roubar alguns pontinhos fora de casa, fatalmente disputará o título.

A EPOPÉIA CORINTIANA

Começou a aventura corintiana pela Série B. Com vitória, o que é mais importante. Além dos três pontos, o Corinthians tem a festejar o fato de que conseguiu recuperar a confiança de sua incrível torcida. O rebaixamento tem esse viés. No início, revolta, desonra. Depois, o torcedor percebe que o principal, seu time do coração, continua ali, vivo. Cria-se, então, um sentimento de solidariedade, como se um irmão estivesse passando por um problema sério e precisasse de ajuda. Foi assim com Palmeiras, Grêmio, Botafogo, Coritiba e será com o Corinthians. Haverá momentos difícieis, porque o time é a atração, é o adversário famoso a ser derrotado. Mas dentro da normalidade, o Timão retorna à Série A antes de o campeonato terminar.

FRASE DO DIA

Essa é do amigo Rodrigo Borges, sempre esperto, com grandes sacadas. Reproduzo aqui:

"É bem legal ver time grande na Série B. Desde que não seja o meu!"

COLINA SAGRADA

Recebi uma mensagem do amigo Daniel, me cobrando por não escrever muito sobre o glorioso Clube de Regatas Vasco da Gama. É apenas coincidência, Daniel. Tenho profundo respeito pelo Vasco, por sua história de realizações e pioneirismo em momentos históricos do nosso futebol. Jamais confundirei o Vasco, essa centenária instituição brasileira, com quem o dirige momentaneamente. O Vasco está acima de tudo isso.
A primeira final de Brasileiro em que trabalhei foi a de 1989, São Paulo x Vasco, no Morumbi. Cobri o Vasco, que foi campeão, com aquele gol do Sorato. Impressionantes a qualidade do time e a presença da torcida vascaína no Morumbi. Também me lembro do Zé do Carmo, hoje um amigo e colega, puxando o coro de "casaca" no vestiário.
Em 1997, acompanhei a final do Brasileirão, Vasco e Palmeiras. Trabalhei no primeiro zero a zero, no Morumbi, e vi o segundo em Florianópolis. Para quem não faz idéia da força nacional da torcida do Vasco, assim que acabou o jogo, houve uma impressionante carreata de vascaínos tomando as ruas de Floripa. Um desavisado pensaria que estava no Rio.
O que incomoda qualquer admirador do futebol brasileiro é ver um gigante como o Vasco adormecido. Sem disputar títulos, pensando pequeno, preso a um modelo de gestão com o qual não concordo. Só o futebol brasileiro perde com isso. Sempre que o Vasco estiver forte, o futebol do Brasil estará ainda mais forte.

quinta-feira, maio 08, 2008

BOCA E SÃO PAULO SABEM OS

ATALHOS DA LIBERTADORES


Todo mundo diz que a Libertadores é diferente, que é preciso saber jogá-la. Claro que cada um tem a sua explicação, mas vendo as vitórias do Boca sobre o Cruzeiro e do São Paulo sobre o Nacional dá para perceber como esses dois times entendem a competição sul-americana. Quase sempre que participam, mesmo com times e treinadores diferentes, Boca e São Paulo fazem boas campanhas.
Basicamente, o Boca joga fora de casa melhor do que ninguém, e o São Paulo é um mandante quase imbatível na Libertadores. Os jogos do torneio continental são, geralmente, de poucas chances, de espaços limitados e concentração constante. É preciso saber aproveitar as raras oportunidades e, também, não ter vergonha de passar a fechadura no time, dar de bico para onde estiver virado. Boca e São Paulo fizeram tudo isso contra Cruzeiro e Nacional. Porque os clubes se preparam para a Libertadores, as instituições compreendem o sistema de disputa e a alma que nela se coloca. Dirigentes, comissão técnica e muitos dos jogadores das duas equipes já rodaram muito pela Libertadores e já não se assustam mais com as particularidades dessa que é, para mim, a melhor competição entre clubes do mundo, por tudo que a cerca. É por isso que nem precisam estar jogando o fino, gastando a bola, para sempre serem apontados como candidatos ao título sul-americano. São seis títulos do Boca, três do São Paulo e ainda muitas finais disputadas. Isso é tradição. Como são equipes brasileiras tradicionais na Libertadores o Santos, o Cruzeiro, o Grêmio, o Palmeiras. Todos jogaram muitas finais.
O que não ocorre, historicamente falando, com o Flamengo, que foi campeão em 1981 e nunca mais disputou outra final de Libertadores. Óbvio que cada time tem sua época, que períodos não se misturam, mas o Flamengo não tem a tradição de Libertadores que ostentam os times citados acima. Talvez isso sirva um pouco para amenizar a dor rubro-negra pelo Maracanazo diante do América do México. Porque jogo de Libertadores não é palco para festinhas como aquela feita pelo Flamengo antes de a bola rolar. Claro que foi tragédia, acidente, vacilo, mas o espírito ali estava comprometido. Como fez o São Paulo em 2004, que providenciou uma bandeira do Japão para decorar o gramado do Morumbi antes da hora e teve de aturar a festa do Once Caldas. Enfim, a Libertadores é para iniciados ou para times excepcionais como era o Flamengo de 81.

UMA PROVA DE AMOR

Foi assim com Palmeiras, Grêmio, Atlético Mineiro, Coritiba, Bahia. Será com o Corinthians. Se rebaixamento fosse bom não teria esse nome. Mas não é o fim dos tempos, o time continua, a paixão se renova, há uma espécie de comunhão entre torcedor e jogadores, como velhos amigos que se ajudam na necessidade. A partir desse sábado o Corinthians mostrará, na Série B, que torcedor de verdade não abandona seu time. E, pelo jeito, esse time do Corinthians, mesmo longe de ser brilhante, mostrar-se-á digno da paixão de seus fiéis seguidores.

segunda-feira, maio 05, 2008


PARABÉNS AOS CAMPEÕES!

E VEM AÍ O BRASILEIRÃO


Os estaduais chegam ao fim com algumas goleadas expressivas, belos momentos e o anúncio de um Brasileirão que promete ser o mais equilibrado da era dos pontos corridos.
Trabalhei em Palmeiras e Ponte Preta. O Verdão levou fácil, sem contestação. Em momento algum dos 180 minutos da decisão a Ponte teve o domínio das ações. No último jogo o Palmeiras confirmou a melhor campanha, o artilheiro, o melhor futebol e, pelo menos para mim, o melhor jogador do campeonato, o Valdívia. A Ponte sentiu o peso da final, mas o trabalho merece crédito e, se não houver desmanche, o time entra com boas possibilidades na Série B.
O Palmeiras deve anunciar cinco contratações e, ao que tudo indica, não perderá Valdívia. Está no grupo dos teóricos favoritos ao título nacional, com Internacional, Flamengo, Fluminense, São Paulo e Cruzeiro. O Santos vem num segundo pelotão, precisando ainda de alguns reforços. Nas primeiras rodadas do Nacional, os clubes que estiverem na Libertadores ou na Copa do Brasil podem possibilitar às equipes que não disputam essas competições uma chance de somar pontos importantes na arrancada. Claro que em oito meses de disputa muita coisa pode mudar e, na prática, a teoria do favoritismo pode ser bem diferente. Mesmo porque há bom times como Sport, Figueirense, a tradição do Grêmio.
Que dizer do Inter? 8 a 1 na final, um espetáculo do elenco que considero atualmente o melhor do País. A Copa do Brasil deve ser a meta principal do Colorado agora, já que o Brasileirão é longo (para mim até demais) e há tempo para recuperação de eventuais pontos perdidos. Alex, Fernandão, Iarley, Nilmar, é um belo time.
O Cruzeiro confirmou a tendência em Minas, também com uma equipe muito boa. Há o desafio da Libertadores em primeiro plano, mas o time é uma das potências para o Nacional.
No Rio, o Flamengo confirmou o momento iluminado e, de novo, despachou o Botafogo, sem contestações. O Rubro-Negro contratou Caio Jr., que vive um momento ruim, perdendo uma classificação na Copa do Brasil e um título para o qual era favorito em Goiás (esse precisa se reforçar porque começa fragilizado o Nacional). É um instante crucial para o Flamengo. Tudo é uma questão de resultados, mas, na teoria, a mudança não foi boa e a saída de Joel Santana ocorre num momento desfavorável. O time é capaz de superar isso, no entanto.
Agora, será que o Botafogo supera outra frustração? O que acontece com o time, e, principalmente, com o técnico Cuca? Faltaria espírito vencedor a ele? A mesma pergunta vale para Caio Jr.
Dorival Jr., uma das revelações entre os treinadores, conquistou o título paranaense com o Coritiba, que segue em franca recuperação após a volta à Série A. O time deve perder Keirrison para o Palmeiras, desfalque que será sentido.
A Série B começa na sexta-feira, tendo o Corinthians como grande atração e principal favorito ao título. Antes o Timão tem a Copa do Brasil, embalado que vem pela goleada sobre o Goiás. A disputa pelas quatro vagas promete. Bahia, Paraná, Juventude, Ponte Preta, Barueri, Fortaleza, tem muita gente boa pelo caminho.

VERGONHA NA LIBERTADORES

A Conmebol é uma entidade que perde crédito a cada temporada. Parece preocupada apenas em cobrar multas e faturar com indisciplina e irresponsabilidade de clubes e jogadores. Sempre parece complicado para a entidade punir duramente clubes brasileiros e argentinos. Por aqui já tivemos garrafadas em bandeirinha, invasão de campo, batalha campal e apenas os estádios são interditados, além de pesadas multas em dólar. Agora a entidade passa por cima do regulamento que ela própria escreveu, certamente temendo punir o poderoso Boca Juniors. Os cofres estão cada vez mais cheios, e a selvageria instituída agradece.

ATÉ QUANDO?

Cenas lamentáveis, novamente, em meio a uma festa. Desta vez foi nas cercanias do Palestra Itália. Já aconteceu nas cercanias do Morumbi, do Pacaembu, do Maracanã, do Mineirão, de São Januário. As autoridades insistem em falar em interdição de estádio. Policiais são ameaçados, provocados, agredidos e nada acontece. Na lógica de quem está cuidando disso, o raciocínio parece ser o seguinte: se o sujeito dirige embriagado e atropela alguém, eles acham que resolve apreender apenas o carro. Falta vontade política de resolver a questão. Basta prender e não deixar entrar nos estádios. Em dia de jogo, quem brigou vai varrer rua, pintar parede pichada, plantar árvore. Aposto que resolve rapidinho, porque, felizmente, é uma minoria baderneira.

sexta-feira, maio 02, 2008

NÃO DEIXEM O CD MORRER

Porque baixar música está afastando as pessoas



Antes de mais nada, que fique claro: eu também baixo músicas na Internet. Busco velharias, raridades, coisas que estão fora de catálogo ou não se acham por aqui. É impossível brecar a marcha da tecnologia e o avanço das novas mídias.
Sou um nostálgico assumido e não tenho vergonha disso. Adoro música e cresci na cultura do LP, depois sendo absorvido pela, então, novidade do CD. Comprar música era um evento. Você ia até a loja, ficava fuçando, vendo as capas, perguntando pros vendedores sobre novidades. Não existia a Internet, então os caras que sacavam de música, conheciam lançamentos internacionais, geralmente estavam nas boas lojas e nas galerias do centro especializadas em rock. Invariavelmente, você batia um bom papo, conhecia gente, fazia novos amigos e levava alguma bolacha (era um dos apelidos do velho LP) para casa.
Em São Paulo eu costumava ir a lojas como a Hi-Fi do Shopping Iguatemi, que sempre tinha coisas boas, discos importados, cujo som era bem melhor do que os produzidos aqui. Juntava uma grana e esperava para poder completar minha coleção de vinis do Genesis, que posteriormente vendi a preço de amigo para o parceiro Marcelo Laguna. Na velha Sears do Paraíso, onde hoje fica o Shopping Paulista, sempre tinha alguma coisa legal também, com preços mais em conta. Isso sem contar as lojas de bairro, que estão morrendo. Tinha uma ali na Rafael de Barros que era muito boa, eu comprei bons LPs do Chico Buarque, da Gal e do Rei Roberto ali.
Outro grande barato era pegar discos emprestados. Em reuniões ou festas, as pessoas levavam seus discos, ficavam olhando as capas, os encartes, enfim, havia uma convivência, uma aproximação que hoje não existe mais. Aí alguém pegava um disco emprestado, ficava um tempo, depois ia até a sua casa devolver, ou levava na escola. Havia uma integração, as pessoas conversavam. E as capas de discos chamavam muito a atenção, eram bonitas, tinham desenhos e fotos bem produzidos, gastava-se tempo e jogava-se conversa fora com tudo isso. O que é bom, pois poucas coisas são melhores do que gastar tempo e jogar conversa fora.
Eu costumava alugar discos na União Cultural Brasil-Estados Unidos ou no Centro Cultural da Vergueiro. Rita Lee e Tutti Frutti, entre eles. Levava para casa, escutava, selecionava. Limpava o vinil com uma flanela embebida em álcool e gravava uma fita cassete com a seleção preferida. Aliás, era um ritual daqueles tempos, para dar um início no xaveco, gravar uma fita e oferecer de presente para paquerinha (será que a molecada ainda usa esse termo?) da vez. Hoje eles trocam músicas pelo celular….
Então veio o CD. Em princípio relutei. Afinal, eu tinha uma relação de carinho com meus LPS, cuidava das capas, plastificava. Mas a possibilidade de ouvir suas músicas favoritas sem chiados foi sedutora. O próximo passo era atualizar a discoteca para o formato digital. Consegui boas pechinchas no Carrefour da Marginal Pinheiros e no saudoso Mappin, que tinham boas seções e preços interessantes. Confesso, envergonhado, que cheguei a trocar etiqueta de preços do Paris, do Supertramp, CD duplo, para pagar mais barato. Coisa feia…
Tinha uma loja chamada Gramophone, na Juscelino Kubitschek, muito boa, com CDs importados, coletâneas interessantes. Eu sempre passava minhas tardes de folgas às terças-feiras (como se folgava pouco no Diário Popular) garimpando algo por ali. E CD também se emprestava, se trocava. Havia lojas especializadas em trocas e, de novo, você conversava, interagia, conhecia gente, havia o saudável contato entre seres humanos. Vieram os gravadores de CD e o que se fazia com as fitas cassete passou a ser feito nos disquinhos.
Hoje o que existe? Baixa-se música via telefone, computador e, acredito, por alguns outros meios. Outro dia vi duas pessoas sentadas lado a lado que trocavam arquivos de música. Não conversavam. O único ruído era o das teclas e aquele som que identifica o fim do download. Estamos parecendo caramujos, enfurnados em nossos casulos, cada um com seu mp3 player, ouvindo sua música, muitas vezes no mesmo carro, na mesma sala.
Tudo bem, vão dizer que sou um dinossauro, mas é isso aí mesmo. É pré-histórico o tempo em que as pessoas se reuniam para ouvir um disco, mas, mesmo sendo pré-histórico, era bom. Não entro no mérito da discussão de baixar música, se é legal, se é crime etc. Mesmo porque eu ainda compro CDs. Se tem na loja, pechincho, mas vou lá e compro. Só baixo música que não consigo achar para comprar. Ou então compro via internet, seja fisicamente ou baixando o arquivo.
O que me incomoda é ver duas pessoas na mesma sala, lado a lado, que conversam sem se falar, sem se olhar. Baixar músicas é um caminho sem volta, mas será que isso precisa afastar as pessoas? Trocar arquivos é ótimo, ganha-se muito tempo, facilita a vida, mas talvez estejamos ficando escravos de nossas estações de trabalho, de nossos celulares multiuso.
Acho que é um pouco por isso que eu ainda compro CDs e DVDs. Porque é bom dar uma volta, ver gente, fuçar nas prateleiras, ouvir um barulho, até mesmo pedir para escutar o disco antes de comprar. Prova que ainda não transformamos em arquivos, em formatos, extensões. Embora estejamos caminhando em banda larga para isso.

quinta-feira, maio 01, 2008

EM RITMO DE FERIADO,
ECOS DA SUPERQUARTA


Já, já estou seguindo para a Vila Belmiro para a transmissão de Santos x Cúcuta, com toda a equipe do SporTV. Em ritmo de meio feriado, alguns pitacos da rodada de ontem.

* Trabalhei em Corinthians x Goiás. Atuação irretocável do time corintiano, inclusive com um primeiro tempo de almanaque. Fazia tempo que a Fiel não tinha uma noite como a desta quarta, para amenizar a sequência de sofrimento. André Santos joga muita bola, é acima da média atual do País, e é a partir dele que o Corinthians tenta se solidificar. O Goiás, com um time sem brilho e, principalmente, sem alma, precisar repensar muita coisa para o Brasileirão.

* Vitória espetacular a do Flamengo. E olha que poderia ter sido de mais, muito mais. Léo Moura e Obina perderam gols incríveis. O América é um arremedo de time, mas o Flamengo não deu bola para isso e carimbou passaporte.

*Grande resultado do Fluminense, também com chances espetaculares de classificação.

*O Cruzeiro saiu no lucro da Bombonera. Poderia ter deixado o estádio já eliminado, mas respira e precisará jogar muito para tirar o Boca. Mas a possibilidade é real.

*Vi apenas os melhores momentos de Nacional x São Paulo. Como quase todos os jogos do São Paulo este ano, vi um time amarrado, sem criatividade, que poderia ter perdido no primeiro tempo e vencido no segundo. Rogério Ceni, 800 jogos, figura histórica, continua vacilando como não costumava vacilar. Mas a classificação é bastante possível. O título já é outra história, o time precisa melhorar muito. Hoje está bem abaixo de Flamengo e Fluminense e até mesmo do Cruzeiro.

*O Sport foi melhor que o Palmeiras em São Paulo e em Recife e levou uma classificação justíssima. Principalmente porque soube explorar o ponto fraco do time de Luxemburgo, a bola pelo alto. Os três gols de Romerito foram de falhas grotescas da zaga palmeirense. Ponto para Nelsinho Batista, recuperado na carreira, e para o time do Sport, que foi mais inteligente e eficiente contra o Palmeiras que, por exemplo, o do São Paulo.

*Dos times que se classificaram para a sequência da Copa do Brasil, considero Inter e Botafogo os favoritos teóricos ao título.

*Torço para que todos os brasileiros passem na Libertadores para acabar com essa decisão estúpida da Conmebol de tentar eliminar a possibilidade de final entre times de um mesmo país. Típica atitude de dirigente retrógrado. E o Brasil engole isso calado.