sexta-feira, agosto 31, 2012



O autógrafo do morto

 
 

Por Nelson José Xavier da Silva *


 
Fazia muito frio naquele mês de maio de 2009. Eu e minha filha Daniela fomos à Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Lá, o comentarista esportivo Maurício Noriega estava autografando seu novo livro “Os 11 Maiores Técnicos do Futebol Brasileiro’  pela Editora Contexto.

A livraria estava lotada. Estavam lá o Muricy Ramalho, Mário Travaglini, Leivinha, Orlando Duarte, João Zanforlin, Milton Leite, Luiz Noriega e outros. Lembro-me que naquela noite estava vestindo a camisa do C.A. Ypiranga.

Após adquirir o livro do Nori, este me deu seu autógrafo e tirou uma foto comigo. De repente algo estranho começou acontecer. Uma jovem mãe com seu filho pequeno, estendeu a mão que segurava o livro do Noriega e pediu-me um autógrafo. Eu sem jeito e sem saber o que estava acontecendo, autografei.

Depois um jovem casal fez o mesmo e pediu para tirar foto comigo. Um senhor, além de pedir  autógrafo, fez questão de tirar uma bela foto .

Logo em seguida um rapaz com a camisa do Grêmio pediu para tirar foto ao meu lado, além de autografar a camisa. De repente havia uma fila querendo o meu autógrafo.

Nesta altura do evento, o próprio Nori ficou ofuscado. O pessoal do CQC da TV Bandeirantes veio entrevistar-me. Eu já estava ficando preocupado, quando um detalhe me chamou atenção. Aquela gente que queria o meu autógrafo, vinha com o livro aberto na página que tinha uma foto do Ênio Andrade. Achavam que eu era o gaúcho “Cabeção”, tal a semelhança física com o grande treinador.

Se toda aquela gente acompanhasse mais de perto o mundo do futebol, saberia que o Ênio já tinha morrido há mais de doze anos.

Saí de fininho, fui à toalete, mudei o penteado para não ser confundido e fui para casa, rezando para não encontrar nenhuma assombração pelo caminho.

* Este foi um dos muitos momentos divertidos da festa de lançamento de "Os 11 Maiores Técnicos do Futebol Brasileiro". O Nélson, carinhosa e generosamente me enviou esse texto, que reproduzo aqui. Recentemente, um amigo meu me disse que tinha guardado com carinho o autógrafo do "Ênio Andrade" no livro dele. Pouco afeito às coisas do futebol, ele acreditava piamente que o Cabeça esteve presente. Acredito que espiritualmente ele tenha nos dado essa honra. E deve ter rido á beça da história. 

quinta-feira, agosto 30, 2012



Luxa, Inter, Palmeiras,

 

Ganso e outros "causos"



O futebol brasileiro pode andar em baixa dentro de campo, com qualidade técnica duvidosa, mas ainda produz personagens e situações em ritmo industrial.

O Brasileirão enfileira uma série de "causos" que ajudam a avaliar o que representa o futebol para as pessoas, e também as pessoas que representam o futebol.

É uma reviravolta atrás de outra. Uns sobem, outros afundam. Como ensinam os mestres Milton Nascimento e Fernando Brandt, são só dois lados da mesma viagem.

Começo essa incursão pelo mundo da nossa bola por Wanderley Luxemburgo. Injustamente taxado de ultrapassado por muitos analistas, ele está aí, conduzindo o Grêmio a uma bela campanha, candidato legítimo ao título nacional. Polêmico por natureza, o Luxa muitas vezes é avaliado mais pelo que fala do que pelo que treina. O que é injusto pra caramba.

Seus times muitas vezes são classificados sob a ótica de uma suposta sofisticação. Nada mais equivocado, na minha opinião. Como treinador, Luxemburgo sempre foi direto e objetivo, apostando na simplicidade lógica do jogo. É isso que vai implantando no Grêmio, sem mistérios. Dois volantes que dão ritmo ao time, marcam e também jogam. Dois meias (no caso da necessidade atual são dois volantes que foram transformados em meias porque o mercado não produz mais os armadores de outrora) ou um meia e um terceiro homem de meio-campo com mobilidade e aproximação. No ataque, jogadores que sabem atuar dentro e fora da área, sem o tradicional poste, ou referência. Basta puxar pela memória futebolística todos os bons e os grandes times que Luxemburgo dirigiu e a fórmula é basicamente esta.

Do lado interno da fronteira de rivalidade gaúcha, ali pertinho do Olímpico em seus últimos dias, a crise ronda o Beira-Rio. O Inter, sempre citado como favorito por nove entre dez analistas (eu entre eles) continua com uma sequência impressionante de decepções. O Colorado parece a noiva que desiste do casamento na hora da cerimônia. Promete, promete e não cumpre.

Parece fácil querer buscar uma solução, encontrar a chave do problema. O elenco é bom, mas, como qualquer outro, tem suas falhas. Em alguns casos, talvez a direção do Inter tenha algum constrangimento e misture gratidão com avaliação. Há jogadores como Índio, Guiñazu, Nei e Bolívar que já não rendem tanto como renderam em outros tempos, mas cujo passado serve como desculpa para suas manutenções. Assim como me parece uma tentativa algo sem fundamento a de inventar Fernandão como treinador. Ídolo é ídolo, técnico é técnico. De ídolo a burro, num futebol apaixonado e irracional como o nosso, não passa um mês, se for o caso de uma sequência de derrotas. Cruel, porém verdadeiro.

Que psicanalista, com sangue boleiro ou não, explicaria o Palmeiras? Dizia-se que a falta de títulos era o problema do clube, que fazia pressão. Veio um título que era pouco provável, de forma invicta, e o que vemos? Um time acuado, pressionado, apavorado com uma ameaça que perigosamente se transforma em tendência: rebaixamento.

A tônica dos times que enfrentam o Palmeiras é a mesma: esperam um erro do adversário, que os comete em profusão. A Lusa, que tem um time mais técnico, fez isso com muita frieza e inteligência.

A Copa do Brasil não desopilou o Palmeiras. Claro que houve uma sequência inacreditável de contusões, e alguns erros incríveis de arbitragem, mas isso é passado. Não serve como justificativa. Para sair da enrascada em que se meteu, o Palmeiras precisa parar de errar e selecionar cuidadosamente quem mandará a campo. Alguns jogadores claramente demonstram pouca personalidade em situações críticas, se escondem do jogo. Outros, como o Inter, prometem muito e entregam pouco. Caso de Valdívia. Para alcançar o patamar de 11 vitórias, que foi o número de triunfos dos times que terminaram em décimo-sexto lugar de 2009 a 2011, o Palmeiras precisará de muito mais ousadia do que mostrou em dois anos e alguns meses de gestão Scolari.

Por fim, o caso Ganso parece o mais triste de todos. Porque envolve especificamente um atleta, um ser humano. Ganso é um potencial incrível como jogador. Eu mesmo o chamo de Elo Perdido entre o que era e o que é o futebol brasileiro. Mas sua cabeça anda sendo bombardeada por muita gente que pouco se interessa com seu desempenho futebolístico e vê apenas o lado financeiro.

Acho que o rapaz tem jogado mal, mas não acredito que faça corpo mole. Não foge de perguntas, não foge do jogo, mas certamente não está concentrado nele.

É lamentável que seja chamado de mercenário e atirem moedas sobre ele. Principalmente partindo de alguns torcedores cuja relação com a direção do clube é condenável em termos de etica. Não me refiro apenas do Santos, mas de todos os clubes.

Ponto para Muricy, que saiu em defesa do atleta, deu a cara para bater e mostrou que nessas horas não foge da raia.

Há outros "causos" interessantes a serem destacados.

Como o Bahia, que parece um estrangeiro em Salvador, mas joga como local fora de casa.  Por que será? Talvez seja a limitação técnica, que em Pituaçu fica evidente quando o torcedor e os jogadores acham que o Bahia pode partir para cima de qualquer adversário com se fosse o esquadrão histórico de 1959. Quando deixa a Boa Terra, o time não precisa assumir essa postura, joga de forma compacta e inteligente, e se beneficia do contra-ataque de forma fatal.

Contra-ataque que anda fazendo falta ao Corinthians, que marca muito, se fecha bem, mas tem dificuldades para contragolpear. Diante do Flu, fez um gol e parecia que estava defendendo a última trincheira. Sheik destoa da postura às vezes excessivamente calma da equipe. Ele dá a eletricidade que falta ao Corinthians em muitos jogos. Mas sozinho tem pouca carga para eletrizar um time inteiro.

O Flu tem algo que está na alma de seu treinador. Tal como Abelão, é um time que encara o jogo de peito aberto. Não tira o pé, não desiste, quando preciso entra chutando a porta e, como fazia o treinador, as canelas adversárias. Apresenta-se, com o Grêmio, como principal adversário do Galo mineiro na disputa pela taça. Galo que oscilará como todos oscilaram, porque o campeonato é assim mesmo, parelho.

Para complicar, vem aí a seleção brasileira, que em algumas situações mais atrapalha do que ajuda, não é mesmo?

segunda-feira, agosto 13, 2012


Qual o caminho do esporte?



Foi-se a Olimpíada de Londres. O desempenho brasileiro é um instantâneo da realidade do esporte no País. Ilhas de excelência em meio à falta de um modelo para o esporte no País.

Vejo da seguinte forma: o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) deve cuidar do topo da cadeia, do esporte de alto rendimento. Ao Governo cabe tratar do fomento ao esporte e de sua inserção como elemento transformador da sociedade. Numa comparação rasa, afirmaria o seguinte: todos os professores são fundamentais no processo educativo, mas não se coloca professor de pré-escola para dar aula em curso de pós-graduação. Cada um no seu quadrado.

Em vez de gastar alto para patrocinar atletas de alto rendimento, o Governo deveria canalizar recursos para oferecer o acesso universal, capacitar professores de educação física, padronizar e fiscalizar o ensino dessa cadeira pelo País.

O apoio ao esporte competitivo e profissional deve vir de mecanismos de incentivo fiscal para que a iniciativa privada possa investir e ter bom retorno ao associar suas marcas aos atletas de ponta.

Como não existe um modelo esportivo no Brasil, o que se vê é uma bagunça completa, tudo misturado. Estatais investem pesado em modalidades que estão organizadas e praticamente andam sozinhas, como o voleibol. Enquanto isso, as escolas públicas com bons professores e equipamentos esportivos são raríssimas.

Sem uma definição de qual será o modelo esportivo brasileiro, não sairemos do lugar. Antes de pensar no quadro de medalhas, é preciso olhar para a importância de uma boa educação esportiva na formação de novas e melhores gerações de brasileiros.
O pai de uma criança que se encantou pela esgrima, pelo nado sincronizado, ou pelo pentatlo moderno vendo pela TV tem para onde levá-la para começar no esporte? Refiro-me ao pai brasileiro padrão, sem boas escolas públicas, sem bons clubes públicos, sem dinheiro para pagar um clube privado ou a gasolina para deslocar sua criança até um local distante de sua residência, quase sempre mal atendida pelo transporte público.

Um dos melhores projetos de inclusão social do mundo chama-se esporte. Tira gente das ruas, das drogas, cria bons cidadãos e, se for o caso, campeões.

Mas no Brasil parece que a preocupação dos governantes é o impacto nas urnas que uma fotografia com um medalhista olímpico terá, não o impacto na sociedade e no futuro dos jovens.

quarta-feira, agosto 08, 2012



Habemus Basquete!!!



Joguei vôlei mas adoro basquete. Fui rato de jogos inesquecíveis no Ibirapuera, no Sírio, em Franca, no Monte Líbano. Sempre que meu pai dizia que ia narrar um jogo de basquete pela fantástica equipe da TV Cultura eu ia junto. Vi jogar o Wlamir e a Norminha no finalzinho, vi uns bons jogos do Ubiratan. Invadi a quadra quando o Sírio ganhou a Copa William Jones, com Oscar e Marcel brilhando. Acompanhei quadrangulares inspirados contra Porto Rico, Iugoslávia, bons times universitários americanos, e pelo nosso lado gente como Adílson, Hélio Rubens, Carioquinha e tantos outros. Torci feito um desesperado no dia da conquista histórica do Pan de 87 e gritei "suck that the sugar cane is sweet, Uncle Sam!" Vi de pertinho o Brasil fazer um belo jogo contra o Dream Team em 92.

Tudo isso tinha ficado para trás, estava perdido no tempo. O orgulhoso basquete brasileiro, bicampeão mundial, três medalhas de bronze olímpicas, perdeu-se em meio a vaidades e picuinhas entre gerações de jogadores e treinadores, administrações desastradas e tentativas ridículas de salvação da pátria.

Foi preciso que um estrangeiro mostrasse o caminho do trabalho e da adequação à modernidade do jogo para que o basquete masculino do Brasil recuperasse sua dignidade, voltasse aos Jogos Olímpicos e passasse a ser respeitado como nos tempos de glória.

A Argentina, que talvez alguns esqueçam, foi a primeira campeã mundial de basquete, e tirou décadas de atraso em relação ao Brasil com trabalho sério e uma geração espetacular. Enquanto isso, o Brasil ia perdendo tempo com discussões entre técnicos, acusações entre jogadores e dirigentes e interesses comerciais.

Rubén Magnano mostrou que o Brasil ainda produz jogadores para ser forte de novo no basquete. Não voltará a ser campeão ou medalhista da noite para o dia. Mas conseguiu tirar boa parte do tempo perdido com bobagens. A perspectiva de um bom desempenho em 2016 existe, é palpável.

Com uma boa base, seriedade e dedicação, talvez jogadores de quem se espera capacidade de decisão, enfim, decidam. Mas certamente há um novo ambiente, uma nova aura envolvendo o basquete brasileiro.

Hoje torcemos como há muito tempo não se torcia por aqui. Foi um dia para relembrar as noites memoráveis do Ibirapuera nos anos 70, ou a magia do Maracanãzinho em 1963.

Temos basquete novamente!

terça-feira, agosto 07, 2012



O JOGO 2, A MISSÃO



Na última linha do último post tem a frase que afirma: o grande jogo da Olimpíada. Até agora.

Santa boca, boca santa!

Brasil e Rússia foi não sei o quê.

Quando tem a torcida pelas nossas cores é diferente.

O que joga a Sokolova não tá no gibi (sou tiozão, é do meu tempo).

Mas o que fez a Sheilla não existe. Dois seis pontos de jogo da Rússia ela salvou quantos? Quatro? Não lembro, juro.

É muita frieza, muita confiança no talento, no trabalho e na capacidade de resolver.

Grandes jogadores gostam de grandes jogos.

Desconfio que vem aí o jogo três, a missão de novo. 


O JOGO



Você não viu Japão 3 x 2 China pelas semifinais de voleibol feminino da Olimpíada de Londres? Não sabe o que perdeu. Peça a alguém que gravou para copiar em DVD, estoure pipoca, grude na cadeira, porque você assistirá algo histórico e inesquecível.

Vi cada segundo de uma partida que merece ser chamada de épica em todos os sentidos. Alguém precisa ganhar, mas todas as jogadoras e as duas comissões técnicas foram vencedoras. Todos deixaram em quadra tudo e algo mais. Anos de treinamento, estudo, práticas, experiências, tudo foi colocado à prova na partida mais espetacular dos Jogos de Londres.

Admito que torci pelo Japão. Mas uma eventual vitória chinesa não me deixaria triste. Mas por que torcer pelo Japão? Talvez pela quase imediata simpatia pelo teoricamente mais fraco, no sentido literal da expressão. A levantadora japonesa Takeshita tem 1m59. Muitos poderiam achar impossível jogar qualquer coisa em alto nível nesses tempos de atletas cada vez mais altos e fortes. Mas Takeshita não só joga como é craque de bola. As atacantes Ebata e Saori também jogam muito. Cada uma delas fez inacreditáveis 33 pontos. A líbero Sano é uma aula da posição.

O time chinês também tem um punhado de craques. As atacantes Hui e Wang, incríveis, e a excelente levantadora Wei, outra craque na arte de fintar bloqueios. Assim como a versátil líbero Zhang, também uma ótima levantadora nas emergências.

O voleibol asiático, em especial o japonês, é um sobrevivente, um viajante no tempo. A base é o fundamento perfeito, a execução precisa de todos os movimentos, uma autêntica arte. É o estilo da resistência, um jeito muito mais técnico de jogar quando a força se impõe pelas quadras do mundo. A China alia esse apreço pelo fundamento com uma boa dose de força.

Fazia 24 anos que o voleibol das mulheres japonesas não alcançava uma semifinal dessa importância. Feito histórico, marcado com uma partida para os anais.

Foi tanta imersão no jogo que me fez viajar no tempo em que eu fui um modesto atleta, modestíssimo atacante de ponta no voleibol.

Os leitores desse espaço que me perdoem o devaneio saudosita, mas os amigos daquele tempo, de grandes jornadas, Piti, Maurão, Capi, certamente recordarão um Paulistano 3 x 1 Fonte São Paulo em algum dia de outubro ou novembro de 1981, no ginásio do Guarani, em Campinas.

Naquele dia saímos vencedores, mas o melhor foi ter feito um jogo, para aquele nível de atletas que éramos, também inesquecível, com um set de 21 a 19 e dois 16/14, no tempo da vantagem, sem líbero, não podia tocar na rede de jeito algum. São momentos que marcam a vida de atletas comuns, medianos. Exceto o Piti, que foi craque de bola e chegou à seleção brasileira infanto.

Imagino o que devam estar sentindo as atletas que nos ofereceram esse espetáculo que foi Japão e China. Mesmo na derrota, tenho certeza que as chinesas, em alguns anos, recordarão esse dia como aquele em que honraram o esporte e a modalidade que escolheram, honraram suas adversárias. E fizeram o grande jogo da Olimpíada de 2012. Até agora.

segunda-feira, agosto 06, 2012



De volta aos pitacos,

e ao Rio, Sul, Minas


Depois de quase um mês voltei a comentar um jogo do Brasileirão. Desde a final da Copa do Brasil que não comentava no estádio. Sempre é muito melhor para ver o jogo e o trabalho tático. Comentei a vitória convincente do São Paulo sobre o Sport, no gelado Morumbi.

Partida em que brilhou o goleiro Magrão, do Sport. Não fosse ele, e o Leão teria sido goleado. Fez grandes defesas, com agilidade, reflexo e colocação. O zagueiro tricolor Rafael Tolói também se destacou, com uma atuação de fibra e muito tempo de bola.

Taticamente, foi um duelo em que o Sport tentou marcar, e o São Paulo buscou jogar. O melhor momento pernambucano foi quando Vágner Mancini recuou Tobi para jogar como terceiro zagueiro pela direita. A equipe marcou melhor e conseguiu afastar o São Paulo de sua área. Mas quando colocou Edcarlos e reposicionou Tobi no meio, Mancini não conseguiu repetir o desempenho de marcação, e foi sufocado pelo São Paulo.

Arbitragem, como quase sempre, teve erros e acertos. Anulou um gol legítimo do São Paulo. Ou melhor, interrompeu uma jogada legítima, apontando impedimento inexistente. Mas também acertou no lance do gol, quando Cícero vinha em condição legal antes da finalização de Ademílson. Que, aliás, é um atacante esperto e que sabe se posicionar.

William José foi mal e sentiu as críticas da torcida são-paulina. Claramente perdeu confiança e deixou de arriscar lances individuais até ser substituído.

No Sport, acho que Hugo será titular em breve. É mais técnico e mais objetivo que Williams, que corre muito, mas conclui pouco as jogadas. Gilberto precisa de um atacante de velocidade ao seu lado para render mais.

O São Paulo deve brigar por uma vaga no G-4. Embora ainda precise de mais desempenho de seu meio-campo, em especial de Jádson, que é muito irregular. Maicon parece produzir melhor jogando recuado, já que é um pouco lento e, como meia, a marcação tem mais facilidade para segurá-lo. Como uma espécie de segundo volante, ele, que tem bom passe, pode produzir mais jogando de frente para o gol adversário a maior parte do tempo.

Sobre o torneio em geral, por enquanto é um grande Rio, Sul, Minas. Ou Minas, Rio, Sul, pela ordem. O desempenho dos paulistas, exceto do São Paulo é fraco. Nos casos de Santos e Palmeiras, pífio.

Atlético Mineiro, Vasco, Fluminense e Grêmio puxam a fila, mas Inter, São Paulo, Botafogo e Cruzeiro estão no páreo.

Do oitavo para o décimo colocado há uma diferença de seis pontos. Ainda é pouco para provocar uma divisão radical de propósitos e afirmar que só briga por alguma coisa quem está até o oitavo ou nono lugar. Até porque o nono colocado está apenas cinco pontos acima da zona de rebaixamento, o que representa um risco considerável.

Com 82,1% de aproveitamento, o Galo segue sendo o time mais consistente. Foi sensivelmente prejudicado pelo absurdo adiamento do jogo contra o Flamengo. Não havia justificativa para adiar o jogo e não remarcá-lo para outro estádio em território fluminense.

Vasco e Fluminense são equipes também regulares e consistentes. O Fluminense tem conseguido vitórias importantes nos minutos finais das partidas, o que sempre ajuda no aspecto psicológico.

Grêmio, Internacional, São Paulo, Botafogo e Cruzeiro não demonstram a regularidade dos três primeiros.

Os clássicos regionais no final do turno podem colocar um tempero interessante na briga entre cariocas, mineiros e gaúchos.

Entre os paulistas, um clássico em especial marcará quem viverá o maior drama no segundo turno: Santos ou Palmeiras?

quinta-feira, agosto 02, 2012



 

Desculpas, patriotismo,

 

a glória e as polêmicas

 

do esporte nos Jogos



A cada ciclo olímpico a história se repete no Brasil, País sem tradição e cultura esportiva e com enorme vocação para festejar vitórias e cornetar derrotas. É uma mistura de termos como glória, honra, patriotismo, sacrifício, dificuldades, heroísmo, que produz uma salada de gosto duvidoso.

As Olimpíadas ganharam enorme visibilidade, alguns atletas de ponta se transformaram em celebridades milionárias e ficaram vulneráveis ao grande público, a essa massa que é pouco crítica mas que critica como poucos.

O que me motivou a escrever esse texto foram algumas postagens de atletas em redes sociais. Tomados pelo espírito de corpo, alguns saíram em defesa de outros que foram atacados por gente que mal sabe porque está atacando. Algumas dessas mensagens ressaltavam o fato de que atletas fazem sacrifícios pelo seu País. Outras que levam a bandeira do Brasil no peito.

Cada um tem sua maneira de ver cada coisa, mas não vejo conexão entre patriotismo e esporte. Ninguém é mais brasileiro ou mais patriota porque ganhou uma medalha. Nem menos cidadão por ter perdido um pódio. São situações que não se encontram, por mais que tentem forçar essa comparação, em todos os lados da polêmica - nós da mídia, inclusive.

Atleta não é soldado, não presta serviço obrigatório à Nação, não é convocado para a trincheira. Se faz sacrifício é porque escolheu essa vida, e seu sacrifício é pessoal, não coletivo. Quando escolheu essa vida, tinha todas as informações disponíveis sobre levar o corpo ao limite máximo da resistência, treinar exaustivamente, abdicar do convívio familiar, dos estudos, de tempo livre. No Brasil não se tem notícia de atleta escravo.

Infelizmente, alguns grandes atletas, figuras legendárias em suas modalidades, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo, superestimam e superavaliam seu papel para as sociedades de que fazem parte. Usam o termo defender o País como se fossem realmente defensores de alguma coisa, quando são representantes de suas modalidades em competições de alto nível. Apenas isso.

O atleta de alto rendimento, nas modalidades mais organizadas, populares e, consequentemente mais lucrativas, é como um grande artista, um grande executivo. São muitíssimo bem pagos para treinar duro e proporcionar retorno às marcas que investem neles. Muitos atletas são autênticas agências de publicidade ambulantes, anunciam da cabeça aos pés e, com justiça, recebem proporcionalmente ao desempenho e à importância de suas imagens.

Mas alguns parecem não saber que no Brasil e em qualquer lugar do mundo existe um enorme contingente de cidadãos que não dá a mínima para o que eles fazem, que não gosta de esporte, que não fica, como eu fico, grudado na TV ou trabalhando incessantemente numa cobertura de Olimpíada, de Copa do Mundo. Esse enorme contingente talvez não goste nada do fato de empresas estatais investirem pesado em modalidades esportivas e atletas, proporcionando do bom e do melhor para que eles possam exercer as profissões que escolheram.

Essa supervalorização do papel do esporte e do atleta chegou ao cúmulo do exagero em 1994, no famoso voo da muamba da seleção campeã mundial de futebol. O fato de ganhar um torneio não dá benefício alfendegário a ninguém, como muitos jogadores pensaram à época. Grandes atletas representam a cultura de seu País, de sua gente. Assim como grandes artistas, cientistas, médicos e o grosso da população comum.

Não se deve cobrar de atleta como se deve cobrar de políticos e administradores da Nação. Quem gosta de esporte, é apaixonado por esta ou aquela modalidade, deve acompanhá-la, rir, sofrer, chorar, se emocionar. Idolatria é uma coisa, privilégio e superestima são outras.

Para uma pessoa como eu, que tem esporte na veia, nomes como Maria Esther Bueno, Adhemar Ferreira da Silva, Guga, Pelé, Paula, Hortência, Moreno, William, Gustavo Borges, Aurélio Miguel, Scheidt, Grael e outros são importantíssimos.

Para milhões de brasileiros, há nomes de outras áreas que representam muito mais, como César Lattes, Tom Jobim, Miguel Nicolelis, Sérgio Vieira de Mello, Oswaldo Cruz, Machado de Assis, Heitor Villa-Lobos, Landell de Moura, Câmara Cascudo, Chico Mendes.

Há centenas de médicos brasileiros que levam o nome de nossa medicina mundo afora em congressos, criando métodos revolucionários que ajudam a salvar vidas. Há centenas de engenheiros brasileiros que constroem grandes obras mundo afora. Existem executivos brasileiros brilhantes comandando grandes empresas internacionais.

Não se vê, contudo, discurso ufanista, apelos à dedicação pelo País, defesa da bandeira etc. como se costuma ver em tempos de Copa do Mundo e Olimpíada. Claro que o esporte tem esse ingrediente popular e emocional, faz parte da indústria do entretenimento, é usado politicamente para aproveitar a emoção coletiva.

Sonhei um dia ser atleta de nível internacional, mas nunca tive talento para tanto. Tenho grandes amigos atletas, respeito seu desempenho, dedicação e a genuína emoção de representar seu País em grandes competições. Mas discordo frontalmente quando se atrela o termo patriotismo ao esporte. Ser um campeão não tem nada a ver com patriotismo. Ser um atleta cidadão exemplar é o maior exemplo de patriotismo que um profissional do esporte pode dar ao seu País.

Também não gosto de ver atletas pedindo desculpas ao povo brasileiro por uma derrota. Eles não devem nada a ninguém para se desculparem. Quem vai a uma Olimpíada sabe que estará disputando com gente, no mínimo, tão bem preparada quanto, com os mesmos sonhos e objetivos.

A obrigação de qualquer atleta para com o esporte e seus ideais é dar o seu máximo, respeitando as regras de sua modalidade, seus adversários, árbitros e o público.

Chorar é uma reação individual que pertence somente a quem chora. Pedir desculpas não faz parte do processo de quem trabalha, treina e vive de competição. Só um ganha.

Talvez refletindo sobre isso, não necessariamente concordando, possamos caminhar para um processo de implantação de uma cultura esportiva no Brasil. Cultura de educação para o esporte e pelo esporte, não uma cultura apenas de resultados. Para podermos dizer que brasileiro gosta de esporte e não verificar que gosta apenas de ver outro brasileiro ganhando no esporte. Para que o esporte ajude primeiro a formar brasileiros melhores e depois a fomentar o aparecimento de brasileiros campeões olímpicos e mundiais.