sexta-feira, outubro 09, 2015

Atenção, Pachecada!

Para a pachecada que adora ostentar os números da seleção brasileira de Dunga em amistosos, algumas péssimas notícias: foi a primeira derrota do Brasil em estreia de Eliminatórias; dos últimos quatro jogos oficiais, o Brasil perdeu dois, empatou um e ganhou um.

O Chile tem mais técnico, tem mais time, tem sistema de jogo atualizado e teve dois jogadores que seriam titulares em qualquer formação brasileira: Vidal e Sanchez.


Dunga ainda está preso a conceitos de jogo do século passado. Na seleção brasileira ainda existem volantes, quando no futebol atualizado os meio-campistas atacam e defendem, em constante troca de posições. Dunga tranca Luis Gustavo e Elias.

O melhor zagueiro chileno, Medel, tem 1m71, e neutralizou a "bola parada", a obsessão dos treinadores de futebol do Brasil. Eduardo Vargas, de 1m75, fez um gol de cabeça em bola parada. Para que tanto treino fechado?

Jéferson é um bom goleiro, assim como Cássio, Alisson, Victor, Fábio, Prass. Qualquer um poderia estar jogando.

Não foi um desastre, mas deixou claro que o Brasil sem Neymar não tem protagonistas em campo, e a estratégia de jogo de Dunga abdica do protagonismo, que sempre foi a marca das seleções brasileiras, das melhores e das piores.
É bastante provável que o Brasil se classifique para o Mundial da Rússia. Também é bastante provável que o futebol e a seleção do Brasil continuem como estão ainda por muito tempo.

terça-feira, setembro 01, 2015

O futebol distante


Vejo com preocupação um movimento que ocorre no futebol brasileiro.

Sob a desculpa esfarrapada da organização, alguns clubes e assessores de imprensa de clubes desencadearam um processo que está afastando e isolando os jogadores de futebol de seu público-alvo: os torcedores.

Pode parecer que a ideia esteja envolta em um ar de modernidade. Ela envolve os repórteres que acompanham o dia-a-dia dos clubes. Também passa pela divulgação das marcas dos times e do próprio trabalho dos jogadores.

Hoje os atletas profissionais do futebol estão sendo escondidos do público. Falam cada vez menos. Há casos em que o destaque do jogo não fala, não mostra a cara, não vende seu peixe, mesmo depois de ter decidido uma partida. Tudo porque não estava programada sua entrevista coletiva.

Qual o efeito disso tudo? A perda da naturalidade e do protagonismo.

Hoje somos bombardeados por enfadonhas entrevistas coletivas de treinadores. Eles foram catapultados, muito por culpa da própria mídia, ao posto de grandes estrelas de um espetáculo do qual nem sequer são os protagonistas. Técnico tem sua importância, claro, mas ninguém compra ingresso para ver o Tite, o Mano, o Luxa, o Levir, os Oliveira, o Roger. Quem vai a campo, vai para ver uma camisa, uma história e os jogadores de futebol.

Muito do que se sabe hoje da gloriosa história do futebol brasileiro foi contado por jornalistas que viram essa história acontecer. Treinadores espetaculares como Tim, Ênio Andrade, Brandão, Telê, Minelli, entre outros, trabalharam em uma época em que era tudo menos complicado e mais natural.

Treinadores e jogadores muitas vezes cobram comentaristas dizendo que não assistem aos treinos.

Ora, que treinos, cara-pálida? A maior parte deles é fechada, tida como secreta, e o que se pode ver é um festival de roda de bobinho e cruzamentos.

Perguntar, conversar, investigar?

Está cada vez mais difícil. Isso só faz proliferar a ideia de que os jogadores são estrelas inacessíveis, trancafiadas em suas caixas-fortes de hotéis, aviões e concentrações. E que treinadores são primas donas inacessíveis e donos da verdade.

Felizmente, alguns poucos ainda falam e trazem boas histórias e informações. Além de explicarem algumas situações que ganham a rua por falta de esclarecimento.

Essa postura gera, também, informações equivocadas, as chamadas barrigas. Porque quando o jogador não fala, outros falam por ele. É aí que mora o perigo.

Recordo uma história que vivi em meus tempos de repórter de jornal. Trabalhava em A Gazeta Esportiva. Mirandinha, aquele atacante do final dos anos 90 que era velocíssimo, estava em alta no Corinthians. Tinha acabado de jogar bem e se destacar em um clássico. Era personagem. Fui entrevistá-lo no vestiário - ainda se permitia que repórter entrasse em vestiário após o jogo. Ele disse que tinha um compromisso numa emissora de TV e que precisava sair rápido, mas acrescentou o seguinte: "Anota meu endereço e passa amanhã na minha casa que a gente faz a matéria".

Fui à casa de Mirandinha na segunda-feira. Divertido, ele me pediu desculpas e disse que precisava almoçar com o filho e me convidou para comer. Recusei educadamente. Ele foi almoçando e respondendo. Papo bom, mas nada de espetacular.

Até que depois da sobremesa ele pegou o filho e foi jogar videogame. Montou seu time e escalou o ataque: ele, Mirandinha, e Ronaldo Fenômeno. Disse que seu sonho era jogar com o Fenômeno e que só podia realizá-lo no videogame.

Era a matéria. Fotografia do jogo, dele jogando, das jogadas que fazia no game com o ídolo, respostas sobre a admiração pelo Fenômeno, que brilhava na Espanha.

A matéria teve ótima repercussão e recebi um telefonema do José Maria de Aquino, que era o chefe do esporte da Globo em São Paulo à época, pedindo o telefone do Mirandinha, elogiando a reportagem e perguntando se tinha problema eles fazerem uma matéria com o mesmo tema na TV. Claro que não tinha.

Enfim, apenas uma situação para ilustrar como o futebol pode se beneficiar de uma relação que não precisa ser bagunçada, mas pode ser mais aberta com os jornalistas.

Muitos torcedores jamais chegarão perto de um jogador, de um ídolo. O contato com a mídia ajuda a fazer esse meio-campo, com o perdão do trocadilho, e a desmistificar (ou até negar) uma ideia corrente que aponta os jogadores da atualidade como estrelas mimadas e desconectadas da realidade.

Falta visão para alguns clubes, empresários de jogadores e assessores de imprensa.

sábado, agosto 29, 2015

Valeu, Riva!!!!!

Que noite! Uma honra sentar ao lado de um dos maiores gênios do futebol mundial e um dos caras mais divertidos e sinceros que já conheci. Agadeço ao grande Roberto Rivellino. A perna canhota jamais se cansava, mas a mão direita ontem foi testada ao extremo.







sexta-feira, agosto 28, 2015

sexta-feira, agosto 21, 2015

Osório provoca o bom debate


Nada tenho contra treinador estrangeiro trabalhando no futebol brasileiro.

Acredito que quanto mais a informação circular, maior a chance de ser transformada em conhecimento. Em qualquer parte.

Também não tenho nada contra o treinador brasileiro trabalhar fora do País. Acho que nossos treinadores de elite vivem numa bolha de conforto. Ganham muito bem, têm um vasto mercado e não são impulsionados a tentar desafios fora do Brasil.

Memória nunca foi o forte do brasileiro ligado em futebol. Muita gente esquece que Tim, Didi, Brandão, Oto Glória e outros existiram e foram bem sucedidos trabalhando fora do Brasil.

Os resultados recentes de Felipão podem apagar a passagem importante que teve em Portugal.

Também não é de hoje que treinadores estrangeiros trabalham no Brasil.

O tema aqui é debater a situação que vive hoje o colombiano Juan Carlos Osório, contratado pelo São Paulo, e projetá-la mais à frente. Porque Osório está jogando no centro de um debate que ele não propôs e nem criou. Mas do qual faz parte, ao emitir conceitos futebolísticos e filosóficos acerca do mercado em que está trabalhando.

Após os 7 a 1 da Alemanha, uma corrente de pensadores, que merece respeito como todas as outras, decretou que o futebol brasileiro estava acabado, ultrapassado, era um Robinson Crusoé. Há outras correntes que entendem que temos problemas, mas não é o fim dos tempos. E há a CBF, para quem está tudo sempre ótimo, perfeito, maravilhoso, no mundo de fantasia em que vivem seus dirigentes.

O que vejo, e é apenas um ponto de vista, é que existe um excesso de má vontade contra a instituição treinador de futebol brasileiro. Acompanhado de um excesso de boa vontade para com a ideia de que um estrangeiro dê certo trabalhando num clube nacional - como já aconteceu no passado, mas o passado não costuma ser considerado relevante para uma nova geração de pensadores, analistas e torcedores.

Vamos ao caso específico de Osório. O argentino Ricardo Gareca, quando passou pelo Palmeiras, não contou com 10% da boa vontade dirigida ao colombiano por grande parte da mídia . Gareca talvez merecesse essa boa vontade se tivesse mais tempo. Mostrou anteriormente ser bom treinador e levou o Peru a uma boa campanha na Copa América. Gareca e Osório foram contratados na hora errada, em meio de temporada. Isso interfere no rendimento, no aproveitamento de jogadores, no conhecimento de adversários e na assimilação de conceitos e métodos. O ideal seria que tivessem começado a temporada. Espero que Osório tenha essa oportunidade, o que Gareca não teve.

O que talvez contribua para essa boa vontade quanto a Osório seja o currículo teórico, a formação acadêmica europeia e a graduação mais alta como treinador da Uefa. Hoje nossos olhos estão voltados para a Europa. Nossos jovens torcedores são educados vendo os grandes times europeus na TV e no videogame, e nossa nova geração de analistas e treinadores também segue o que eu definiria como paradigma Uefa de futebol. Paradigma respeitadíssimo, diga-se.

Não quero aqui comparar Gareca e Osório. Odeio comparações individuais. Mas estou comparando o tratamento, para chegar mais adiante na avaliação do treinador brasileiro em geral. Como treinador principal, Osório tem títulos apenas nos EUA e na Colômbia. Para alguns analistas, pelo que ouço e vejo, os anos como assistente no Manchester City são a cereja do currículo de Osório, não os trabalhos como treinador principal. Com o que, modestamente discordo. Gareca tem mais conquistas como treinador principal do que Osório. No Peru e na Argentina, inclusive conquistando uma Copa Conmebol com o modesto Talleres de Córdoba.

Repito: não comparo Gareca a Osório. Analiso o tratamento. Dia desses ouvi que foi só dar uma semana para Osório trabalhar que ele mudou o time. Peraí! Quando perde depois de uma semana de trabalho o que acontece? Não é por aí.

Vou ser mais direto: vejo uma enorme torcida por parte de formadores de opinião para que o trabalho de Osório dê certo e que, com isso, a tese da supremacia do pensamento europeu prevaleça sobre o conceito do "ultrapassado" modelo brasileiro.

O futebol brasileiro tem problemas, claro. Inúmeros. Tem treinadores desatualizados, sim.

Mas existe muita gente capaz, séria e trabalhadora no futebol brasileiro. Existe debate de ideias com boas propostas, como no caso da Universidade do Futebol. Existem treinadores que estudam, se atualizam, evoluem. Não se trata de jogar pela janela a informação que as gerações de profissionais do futebol brasileiro acumulou. É preciso saber utilizá-la para que seja transformada em conhecimento.

Voltando a Osório, ele acerta e erra como qualquer treinador, colombiano, brasileiro, inglês. Ele tem seus métodos e sua forma de trabalho. Em alguns jogos, particularmente, acho que inventa, chuta o balde. Como disse durante a transmissão de São Paulo x Ceará, se fosse o Carpegiani, analistas o teriam chamado de Professor Pardal. Citei Carpegiani porque muitas vezes ele propôs coisas parecidas com o que propõe Osório e foi chamado de Pardal. Assim como Caio Júnior, por exemplo. Novamente evito comparações, cito apenas dois exemplos.

Menos entusiasmo parcial com Osório (e menos críticas dirigidas por setores políticos de clube) e menos críticas generalizadas a treinadores brasileiros serviriam para enriquecer o debate. O fim dos tempos ainda não foi instalado e o treinador colombiano não veio ao Brasil para fazer o julgamento final de nosso futebol e separar os justos dos condenados.

Não tenho a fórmula do sucesso e nem o segredo para a recuperação do futebol brasileiro. Mas acho que há informação e conhecimento aqui gerados que podem ser muito bem aproveitados.

Não creio que a solução seja simplesmente copiar o que se faz lá fora. Ainda acredito que podemos buscar uma solução nacional, aprendendo com o que é para ser aprendido e vem sendo muito bem feito lá fora, em termos de seriedade, organização, estrutura e método. Mas não gostaria que a escola brasileira de futebol sucumbisse simplesmente para ser assimilada pelo modelo europeu, como faze os Borg em Jornada nas Estrelas. Precisamos formar mais e melhores jogadores, recuperar a base, para depois incutirmos a ideia tática. Minha opinião.

Vida Longa e Próspera ao bom debate.

segunda-feira, agosto 10, 2015

Boas notícias do Brasileirão

Pode ser que não dê em nada.

Pode ser que nem sequer cheguem até a zona de classificação da Libertadores no final do campeonato.

Mas as melhores histórias futebolisticas do primeiro turno do Brasileirão estão sendo contadas por Sport, Grêmio e Atlético Paranaense.

Começaram longe das famigeradas listas de favoritos. O Sport, mesmo sendo o clube mais poderoso do Nordeste, com bons recursos, pagando em dia, nem de longe conta com o poder político e financeiro dos clubes do Sudeste e do Sul. Manteve o treinador e tem desempenho consistente, perde pouco. O problema é que ganha pouco fora. Se vencesse mais fora estaria na disputa pelo título com boas condições.

O Grêmio estava esfacelado no início do torneio. Segue financeiramente encrencado, não conta com os recursos do estádio, não competem em condições de igualdade pelo mercado de compra. Mas apostou em Roger, que encontrou uma equipe competitiva mesclando garotos a alguns jogadores rodados.

O Furacão há tempos investe em pré-temporada, deixando de lado o estadual e apostando no Brasileiro. Também conta com recursos limitados se comparado aos times mais poderosos, mas tem uma linha de conduta tática: times rápidos com aposta em jovens jogadores e treinadores.

Atlético Mineiro, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Fluminense, todos contam com mais elenco, mais dinheiro e condições. Galo e Timão confirmam o favoritismo. Verdão, Tricolor e Fluzão patinam numa gangorra inconsistente. Dão pinta de que vão avançar e se firmar, mas escorregam.
Aguardemos o segundo turno.

segunda-feira, agosto 03, 2015

Novo livro chegando: Rivellino



Em breve será lançado e chegará às livrarias mais um desafio que abracei: fazer um perfil jornalístico de um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos.

É um perfil, não é uma biografia. O objetivo é tentar explicar porque Roberto Rivellino encantou gerações e gerações de torcedores e jogadores que o admiram mesmo sem tê-lo visto jogar (apenas em vídeo).

Rivellino foi um dos melhores produtos de um futebol e de um País que não existem mais. 

Depoimentos de Pelé, Zico, Tostão, Platini, Beckenbauer, Neto, Alex, Zé Roberto Padilha (da Máquina do Flu). Em breve informações mais detalhadas sobre o lançamento, pela Editora Contexto.

terça-feira, julho 28, 2015

O dia em que entrevistei meu ídolo


Fui um modesto, esforçado jogador de voleibol.

Tive a sorte de jogar em bons clubes, bons times e com grandes jogadores. Muitos se transformaram em amigos para toda a vida.

Pude contar com excelentes treinadores que me ensinaram os fundamentos do esporte e, mais do que isso, tornaram-se bons amigos.

Eram os anos 80 do século passado. O vôlei explodia no Brasil. Eu conhecia alguma coisa do esporte, acompanhando meu saudoso pai, Luiz Noriega, nas transmissões. Via jogar Antonio Carlos Moreno, Badá, Suíço, William, Bernard, os craques que foram os precursores - e muitos viriam integrar - a geração que faria o País se apaixonar por esse esporte, a chamada Geração de Prata, que vale ouro.

Em 1980 meu pai transmitiu os Jogos Olímpicos de Moscou. O Brasil no vôlei masculino quase foi ás semifinais. Em 1981 seria medalha de bronze na Copa do Mundo, o primeiro pódio de grande vulto na história, e tudo começaria a mudar.

Em meus devaneios de jovem atleta fui fisgado em uma madrugada enquanto via um jogo de voleibol das Olimpíadas de Los Angeles-84. O time dos Estados Unidos jogava o fino, mas um cara se destacava: Karch Kiraly. O sujeito parecia um livro ou um vídeo que ensinava como se joga voleibol. Fundamentos perfeitos, completos, técnica absurda, inteligência.

Eu era um grande fã do Renan, cracaço brasileiro, mas ver o Kiraly jogar era uma experiência diferente.

O tempo passou, o time dos EUA foi multicampeão, sempre com Kiraly.

Em 1991 houve um campeonato mudial de clubes, em São Paulo. Fui à cobertura com meu grande amigo Nicolau Radamés Cretti, pelo Diário Popular.Nicolau abria todas as portas do voleibol com seu talento e credibilidade. Fora isso, era generoso. Sabia que eu tinha jogado vôlei, gostava e era fã do Kiraly. Conseguiu um tempo para uma entrevista e me "escalou".

Foi um papo rápido, mas o cara mostrou educação e extremo conhecimento. Jogava pelo Ravenna, da Itália, que seria o campeão,. De forma objetiva, franca e direta, ainda na primeira fase do torneio, disse que seu time era muito superior a todos os outros, inclusive ao Banespa, representante do Brasil, e que deveria vencer com tranquilidade. Não exalava arrogância ou prepotência. Era prático e conhecedor.

Minha missão como jornalista era evitar o deslumbramento de estar diante do cara que deve ser o Pelé do vôlei e era um ídolo dos meus tempos em que sonhava com um futuro de atleta que jamais chegaria. Ali eu era um profissional extraindo informação com o objetivo de transformá-la em conhecimento para o leitor. Não era um tiete entusiasmado. Não pedi autógrafo, não fiz selfie (nem existia). Cumpri meu dever.

Kiraly ainda seria campeão olímpico no vôlei de areia e hoje é o treinador do melhor time feminino do momento, os EUA.

Deve travar um duelo contra outro ícone e ídolo, José Roberto Guimarães, provavelmente o principal treinador da história dos esportes coletivos no Brasil.

Quem gosta de voleibol agradece.

sexta-feira, julho 10, 2015

O Pan e a potência olímpica


Há diversas maneiras de se ver os Jogos Pan-americanos.

Eu os vejo sob várias óticas.

Uma delas é a de quem foi atleta, como eu. Atleta cuja falta de talento não permitiu concretizar o sonho de disputar um Pan, por exemplo.

A outra é do fanático por esportes.

Lembro-me como se fosse hoje da imagem do inesquecível João Carlos de Oliveira batendo o recorde mundial do salto triplo, inacreditáveis 17m89, no Pan da Cidade do México, em 1975. Eu estava com caxumba e via tudo pela TV. Aquele Pan deveria ter sido realizado em São Paulo, mas um surto de meningite impediu.

Há ainda a histórica conquista do basquete masculino em 1987, a do basquete feminino em 1991, o vôlei masculino em 1983. São muitas.

Uma terceira via de análise é a do crítico. O Pan hoje perdeu muito do brilho, por razões comerciais e esportivas. Entre as comerciais está o fato de que o Pan perdeu, em especial na maioria dos esportes coletivos, a prerrogativa de ser classificatório para as Olimpíadas. Por que comerciais? Porque as Federações Internacionais preferiram criar os Torneios Pré-Olímpicos, um evento a mais, que gera receitas com patrocínios, direitos de TV e ingressos.

O Pan tromba com algumas das principais seletivas olímpicas dos EUA, eventos muito bem tratados em termos esportivos e de mídia.

Além disso, o calendário esportivo hoje oferece uma gama de oportunidades para atletas muito mais ampla do que nos tempos de glória do Pan. Existem provas com premiação em dinheiro que atraem os principais atletas.

Há ainda uma outra visão, essa muito brasileira, que é a forma como o Pan é usado como propaganda por atletas, federações e o Comitê Olímpico. Principalmente às vésperas da primeira Olimpíada a ser realizada no Brasil. Os resultados muitas vezes são superavaliados. Porque é preciso renovar patrocínios, buscar novas parcerias e turbinar os Jogos de 2016.

O torcedor brasileiro adora vitórias, muito mais do que esporte, e as vitórias trazidas pela TV em HD e grandes imagens provocam um efeito muitas vezes enganador quanto à real capacidade de atletas e equipes.

Tento ver o Pan como ele é. Uma competição importante, da qual pouquíssimos atletas conseguem participar, raríssimos conseguem subir ao pódio e vencer.

Mas o Pan em nível técnico, salvo o caso específico de alguns esportes, não é mais uma competição de primeiro nível técnico.

Mesmo assim ainda pode ser uma atração divertida.

segunda-feira, junho 29, 2015

O futebol brasileiro rumo ao abismo

Enquanto for tocado na base de projetos pessoais e colocar o negócio acima do esporte o futebol brasileiro seguirá rumo ao abismo. 

Não existe sequência de trabalho e lógica. A seleção é entregue aos treinadores, que têm superpoderes e não existe ninguém acima deles para contestar com conhecimento técnico e experiência. 

Quando o barco aderna, é cada um por si. Patéticas entrevistas exclusivas para simpatizantes, apagões, viroses, chupou laranja com quem etc.

A maioria dos jogadores e ex-jogadores de futebol brasileiros acha que é Phd em futebol apenas por ter jogado futebol. Falta preparo, estudo para seguir outra carreira no jogo. Raros são os que se preparam.

Há um conflito de gerações, falta unidade. Os jogadores de épocas mais recentes consideram os dos anos 80 e 90 superados. Não assumem publicamente, mas escancaram nos bastidores.

A geração de 58 e 62 está partindo e sua experiência está sendo perdida. A geração de 70 é vista pela turma de 90 para frente como representante de um futebol antigo e desatualizado. Com isso deixam de aprender com os melhores.

As vitórias recentes produziram uma geração raivosa, vingativa e outra marcada por certa soberba.
A seleção perdeu a conexão com as ruas, com o País. Seria lógico que perdesse a conexão com o estilo de jogo que a consagrou.

Que moral tem a direção da CBF para propor um amplo debate com todas as gerações campeãs mundiais e com gerações que perderam mas encantaram, além de treinadores atuais e jornalistas experientes que viveram os tempos de glória e testemunham  a crise atual?

No Brasil a vitória legitima trabalhos medíocres e a derrota condena projetos maravilhosos.
A mídia quando toma partido e deixa de lado a isenção, por amizades ou preferências pessoais, contribui para a ruína.

A estatística oportunista é usada para tentar demonstrar erudição e não para transformar informação em conhecimento.

O campeão mundial de amistosos cujos contratantes convocam segue caindo pelas tabelas nas competições oficiais. 

Quando começar a Copa de 2018, o Brasil estará completando 16 anos sem conquistá-la. Sem encantar. De 1970 a 1994 pelo menos houve 1982. 
De 2002, se chegarmos a 2018, o que houve?

terça-feira, junho 09, 2015

O problema não é trocar de técnico. É o embasamento da troca


Existe uma nuvem de indignação no que se refere à troca de treinadores de futebol no Brasil.

Não resta dúvida de que as trocas são exageradas.

Mas cabe ressaltar que mudar não é proibido e muitas vezes se faz necessário.

O problema está no embasamento por trás da troca, nos motivos e nas circunstâncias.

Talvez não seja saudável e na maioria das vezes pode até ser errado.

Mas não há regra que diga que a troca seja sempre absurda, equivocada ou intempestiva.

Não me refiro especificamente a caso algum.

A opinião é macro, não micro.

O que deveria ser avaliado não é a troca, na velha dicotomia do certo ou errado, que muitas vezes vai para o lugar comum de que nunca se deve trocar de treinador, de comando. Em alguns casos, a mudança é salutar e absolutamente necessária.

O que pega é quem troca e porque troca.

Quem decide trocar tem capacidade para avaliar se o resultado é bom, independentemente dos resultado?

Ou quem decide se deixa levar por opiniões de conselheiros, torcedores, corneteiros, comentaristas?

Quem banca a troca tem conhecimento para argumentar com o treinador demitido e enumerar os motivos da demissão?

Aposto que na maioria das vezes, não.

A demissão se decide pela urgência dos resultados e pela pressão política interna do clube, de torcedores e da mídia.

Deveria existir uma figura nos clubes de futebol que pairasse acima do treinador e abaixo da Diretoria estatutária que respondesse por essa decisão.

Resposta embasada de um profissional com conhecimento técnico de futebol e de gestão de um clube. Capaz de cobrar do treinador a falta de qualidade de um trabalho ou defendê-lo junto à Diretoria se identificasse qualidade apesar de eventual falta de resultados.

Desde que haja uma avaliação séria, isenta e consistente, nada existe de mal em se trocar um treinador.

Assim como não há pecado no fato de um treinador que está tocando um belo trabalho num time médio, por exemplo, aceitar convite para assumir um time grande. Decisão esta que é muito menos contestada por treinadores, dirigentes, jogadores, torcedores e mídia no Brasil.


quarta-feira, junho 03, 2015

Causos do Nori - A bomba do Cipri


Tive a ideia de escrever alguns pequenos contos. Que por definição contam histórias do cotidiano, curiosas, engraçadas.

O primeiro será uma lembrança dos tempos de Escola Nossa Senhora da Consolação, em São Paulo.


A bola era objeto de culto para a molecada na Escola Nossa Senhora da Consolação. Antes - e se bobear durante - e depois das aulas, tudo era motivo para um bate-bola improvisado. Na ausência de bola, garrafinha de Yakult e tampa de lancheira iam para a pequena quadra com gols de cano de ferro.

Naquele dia havia uma novidade agitando a escola. Cipriano tinha chegado de Belém do Pará para se tratar com um médico famoso, Haruo Nishimura, que cuidava do então presidente João Figueiredo, e tinha consultório pertinho da escola.

Cipri, como foi rapidamente apelidado pela molecada, era a cara do Nélson Piquet. Ele tinha uma perna menor do que a outra e vinha ao ortopedista para buscar alternativas.

Na hora do recreio a pelada era a lei. Formavam-se três, quatro times. Na hora de escolher, Cipri se apresentou para jogar. Todo mundo se achava malandro e na maldosa ingenuidade da pré-adolescência a sentença era cruel: ninguém queria um manco no time.

Cipri bateu o pé (sem trocadilhos) e foi escolhido.

Quando entrou em quadra precisou de alguns minutos para virar ídolo. O danado era rápido, driblador e soltou uma bomba justamente com a perna mais curta que varou o goleiro adversário e foi explodir na parede atrás do gol.

Delírio na quadra. Juntava gente para ver o Cipri que, mancando, jogava mais do que a maioria dos que se julgavam craques.

Cipri ficou pouco tempo na escola, mas sua passagem pela nossa quadra foi marcante.

Fica a lição.

Quando for escolher seu time na pelada, não tenha preconceito com os mancos.

quarta-feira, maio 27, 2015

Não tem projeto. Acabou o dinheiro


Vejo muita gente festejando como se fosse uma guinada administrativa o momento no futebol brasileiro, no qual clubes dispensam jogadores e treinadores caros.

Na verdade, trata-se do fundo do poço chegando rápido.

Quebrados em sua maioria, os clubes brasileiros foram vítima do pensamento do novo-rico.

Esbanjaram, posaram de poderosos. Houve quem sonhasse disputar a popularidade internacional com as potências europeias.

A dura realidade se manifesta agora.

O País em crise, a escassez de crédito e de patrocinadores fechou a torneira.

Nunca circulou tanto dinheiro no futebol brasileiro como nos últimos 20 anos, mas o que fizeram os clubes?

Chafurdaram e hoje estão passando o pires.

Há tentativas louváveis de adequação a uma nova realidade, como a do Flamengo, e existem clubes de perfil mais modesto que tentam sobreviver sem cheques voadores.

O Corinthians dispensa Guerrero e Sheik mas gasta 24 milhões ao ano com três reservas. Um deles jogou três meses para o clube descobrir que está fora de forma: Vágner Love.

O São Paulo prega modernidade e inovação ao trazer o colombiano Osório, mas na verdade está reduzindo em 50% o que pagava para o treinador anterior, Muricy Ramalho.

Luxemburgo reclama de que a diretoria do Flamengo não sabe nada de futebol, mas a do Grêmio acreditou nele e quebrou o tricolor gaúcho. Como explicar o caso de Kléber Gladiador, que ganha um salário astronômico para não jogar.

O Palmeiras trocou a dívida com bancos por uma dívida com o presidente. Que acontecerá se a lua-de-mel entre torcida e time terminar e as arrecadações milionárias de estádio e sócio-torcedor forem reduzidas?

Não existe almoço grátis e ninguém é bobo.

A crise é brava, chegou forte ao fuebol e os clubes estão cortando na carne porque não têm outra alternativa.

Se houvesse dinheiro e crédito fartos, continuariam gastando mal.

JOGADOR DECISIVO

Respondo à pergunta de um leitor sobre o que eu considero jogador decisivo.

Como a própria palavra diz, o que decide jogos com frequência. Não precisa ser um grande craque, mas um goleador frequente, que aparece nos momentos importantes e não refuga. Um goleiro espetacular, que evita derrotas e garante vitórias.

Exemplos atuais? Temos alguns, mesmo que não sejam craques e nem vivam grandes fases. Fred em clubes é um jogador decicivo. D´Alessandro também. Guerrero. Ceni, Vítor, Fábio, entre os goleiros. Mas não vale jogador que decide um torneio e desaparece, tipo Gabiru, Betinho etc.

segunda-feira, maio 25, 2015

Correr certo e correr errado

Cada vez mais me convenço que, além da safra muito fraca de jogadores que hoje atua no Brasil, um dos motivos para a péssima qualidade está no treinamento.

Como sempre digo, temos muitos atletas e poucos jogadores de futebol.

Após as partidas, vemos treinadores e jogadores dizendo que o jogo foi bom só porque os times correram e lutaram. 

Eles acham o que está aí bom, porque é para isso que treinam. Correr, correr e correr. Pensar o jogo e estar preparado para correr, sim, mas correr certo, em conjunto, de acordo com uma estratégia, é cada vez mais raro.

Por isso tantas lesões musculares com 5 meses de temporada.

O jogador de futebol no Brasil não é treinado e preparado para jogar futebol, é treinado e preparado para correr.

Um olhar atento à maioria dos jogos e times do Brasil perceberá que numa puxada de contra-ataque, ou numa bola esticada, o atacante geralmente vai sozinho, lutando contra três ou quatro marcadores, e o resto de seu time apenas assiste, como espectador privilegiado.

Quantos gols acontecem porque o time está saindo para o campo de ataque e um ou dois zagueiros desavisados não vão junto, de forma coordenada, dando condição aos homens de frente adversários em caso de contra-ataque?

O jogador brasileiro de hoje corre muito e quase não pensa. Os que pensam não correm. Porque hoje o jogo pede essa dinâmica, é preciso ter raciocínio e execução rápidos.

Dois exemplos: Ganso e Valdívia. São dos raros que têm capacidade de pensar e executar. Ganso pensa rápido mas é lento para executar. Valdívia pensa mas não tem condição física para executar rápido.

Os dois brasileiros que sobrevivem na Libertadores são times que taticamente, embora ainda busquem ajustes, conseguem ser mais compactos. O Cruzeiro ainda apenas na Libertadores. O Inter um pouco mais adiantado. Percebe-se claramente uma coerência na proposta de jogo com o que se executa.

O Corinthians começou o ano assim, rápido, coerente, compacto. Mas foi se desfazendo com o tempo.

O Atlético Mineiro é hoje o time mais coerente do Brasil. Coerente com sua proosta de jogo, de sempre buscar a vitória com posse de bola e transição rápida, aproximação, tabelas. Nem sempre consegue, mas quase sempre tenta de maneira fiel ao que propõe.

Os demais investem na correria desenfreada, no preparo físico, no chutão ou na retranca pura e simples.

O problema é que correm errado. Não correm como conjunto, correm para corrigir erros de posicionamento, fazer coberturas que em um time organizado não seriam necessárias. Saem de campo exauridos porque correram muito mais do que precisariam correr. 

É preciso repensar muita coisa no futebol brasileiro.

Isso passa necessariamente pela base e pelo treinamento, em conjunto com a preparação física.

domingo, maio 10, 2015

Brasileirão: projeção só após 12 rodadas


Analista de qualquer coisa sempre se complica quando tenta dar uma de adivinho.

Fujo desse tipo de comentário como o diabo da cruz.

Comentarista não é pitonisa, diz o grande Roberto Petri.

Infelizmente, torcedores e analistas de futebol no Brasil são escravos da mania do palpite. Narradores, apresentadores e repórteres também.

Sempre tem a famigerada pergunta do palpite. Para o jogo, para o campeonato, para a zona de Libertadores e para o rebaixamento.

Palpite é chute.

Para se fazer uma análise com algum conteúdo do que pode ou não pode acontecer no Brasileirão eu trabalho com um número: 12 jogos.

Equivale a um terço do torneio de 38 partidas.

Depois de 12 jogos todos os times terão enfrentado grandes times, babas, clássicos importantes e jogado dentro e fora de casa uma quantidade de jogos que possa servir de parâmetro.

O torneio é muito equilibrado e depois de 12 jogos a Libertadores não deve ter tanto peso em relação aos times brasileiros participantes. A maioria deve estar voltada mesmo para o Brasileirão.

O que se fala sobre favoritismo tem relação com o desempenho dos times até o momento e a qualidade dos elencos.

Mas a medida certa só pode ser avaliada quando os jogos do Brasileiro começam,

Qualquer time da Série A é melhor do que a maioria dos times que participam dos estaduais. Inclusive as equipes reservas dos grandes times.

Portanto, em 10 de julho, quando estiver terminada a rodada 12 do Brasileiro, será possível ter alguma noção do que será essa disputa.

Antes disso, é puro chute.

quarta-feira, maio 06, 2015

Mando de jogo vira várzea no Brasileirão


A questão do mando de jogo no Campeonato Brasileiro virou várzea.

Quebrados financeiramente, alguns sem estádio próprio para viabilizar uma renda fixa com programas de sócios-torcedores ou vendas de carnês, alguns times vendem seus mandos de jogo.

Tal qual cambistas, dirigentes oferecem seus jogos para quem oferecer mais. Quase tudo em cima da hora.

O que poderia ser uma saída interessante para casos de perda de mando de jogo transformou-se em estratégia manca de marketing de segunda linha.

Como cobrar equilíbrio técnico em um campeonato que chuta para escanteio a ordem de jogos na sequência de mandante e visitante?

Como exigir igualdade técnica e esportiva se uma equipe enfrenta certo adversário em um estádio e outra equipe faz jogo contra este mesmo adversário em outra arena?

Citemos aqui um caso sem dar nome aos clubes.

Uma equipe do Sul vai enfrentar um adversário do Sudeste num jogo no Rio. Então uma outra equipe do Sul tem que enfrentar o mesmo adversário do Sudeste, mas o jogo é marcado para Manaus, por exemplo? Houve a tão proclamada e exigida justiça? Isonomia, igualdade de condições?

Como o cartola brasileiro sempre se acha mais esperto que a esperteza, podem apostar que já tem dirigente estudando a tabela e fazendo cálculos para saber como pode fazer para que um adversário sofra mais com viagens, deslocamentos e mudanças climáticas.

CBF e clubes maltratam o próprio produto.

Um campeonato que não têm paralelo nas ligas nacionais em termos de equilíbrio e disputa. Mas que segue sendo tratado como torneio de várzea em termos de valorização e organização.

segunda-feira, maio 04, 2015

Vem aí o Brasileirão

Vem aí o Brasileirão.

Longo, complicado, equilibrado e cheio de armadilhas. Não vejo um grande favorito e parece que após muito tempo haverá mais times na disputa pelo título. Parece, porque isso costuma mudar e depende do desempenho dos times nacionais na Libertadores.


Antes de a bola rolar, citaria três times com um pouco mais de potencial: Corinthians, Atlético Mineiro e Internacional. 


O Corinthians largou bem, mostrou um padrão tático invejável, mas foi perdendo intensidade e levantou muitas dúvidas, principalmente quando não conta com Guerrero ou quando precisa mudar seu estilo de jogo, o que não conseguiu.

O Inter demorou para engrenar, mas cresceu na hora certa e fez um jogo no qual mostrou enorme potencial contra a Universidad de Chile.

O Galo é muito forte, intenso e decisivo.
No segundo pelotão temos vários times com potencial. O Cruzeiro muito mexido, mas com um treinador mestre em remontar equipes.


Santos e Palmeiras aproveitaram bem o estadual para armar seus times que são bons e competitivos. São Paulo, Flamengo, Fluminense, o renovado Vasco, o Grêmio remontado por Felipão com enorme dificuldade.

Todos têm condição de disputar um bom campeonato e, o principal, embolado.

Sem contar as surpresas e decepções.

Não há torneio nacional mais equilibrado que o Brasileirão.

Apostas veteranas e vencedoras

Robinho, aos 31 anos, e Ricardo Oliveira, aos 34, foram os fatores decisivos para a merecida conquista do Santos no Paulistão.

Escrevo sobre este estadual porque foi o que eu comentei no canal campeão. O que me impede de ver com profundidade os outros estaduais.


Robinho, falem o que quiserem dele, é craque, ainda é o melhor jogador brasileiro em atividade no território nacional. Ricardo Oliveira é o 9 por definição, frio e decisivo na cara do gol. 


Robinho é decisivo como Valdívia quase nunca consegue ser. Ricardo Oliveira tem a frieza que falta ao jovem e intempestivo Dudu. Detalhes que direcionam uma taça.


Se, para mim, aos 41 anos, Zé Roberto foi o melhor jogador do Palmeiras no jogo decisivo, temos um quadro preocupante.


Qual foi a jovem revelação do mais rico torneio estadual do País?

quinta-feira, abril 23, 2015

O futebol brasileiro e a malandragem


O futebol é o esporte que melhor imita a vida.

Com seus altos e baixos, reviravoltas, surpresas, justiças, injustiças, fatalidades.

Não é à toa que ocupa o Olimpo da popularidade, é o esporte rei do planeta.

No Brasil o futebol é absoluto em popularidade.

Também por isso reflete o que a sociedade brasileira tem de melhor e de pior.

A malandragem, por exemplo, é das piores manifestações da nossa cultura.

Esse comportamento associado á romântica e ultrapassada figura de terno e sapato brancos impecáveis, chapéu e lábia sedutora, que ganha a vida enganando quem passar pelo seu caminho.

O futebol brasileiro é pródigo em malandros e falsos malandros.

Dizem alguns estudiosos das ciências sociais que é possível distinguir malandros entre bons e ruins.

Segundo essa linha, eu citaria Garrincha como o exemplo supremo do bom malandro em campo. Bom porque "enganava" o marcador com sua arte. Garrincha foi um grande ilusionista, muito mais do que um malandro. Tivemos grandes ilusionistas e artistas no futebol brasileiro. Quem carrega solitariamente esta herança é Neymar.

Infelizmente, a malandragem fez escola. A cultura do futebol brasileiro celebra, protege, tenta regularizar a malandragem. Desde a tese do roubado é mais gostoso até o fato de achar bacana enganar um juiz, simular um pênalti que não houve, chorar uma agressão que não aconteceu.

Isso teve reflexos na conduta de jogadores, treinadores, dirigentes, torcedores, jornalistas e árbitros. A velha história de reclamar do pênalti mal marcado contra e fazer vista grossa e dizer que não viu quando foi mal marcado a favor.

Levar vantagem em tudo, certo?

Errado.

Arbitragem sempre vai gerar polêmica, em qualquer parte do mundo. Malandragem não existe apenas no Brasil. Vide a mão boba do Henri, educado na melhor tradição francesa, e a "mano de Dios" de Maradona.

Mas no Brasil a combinação de atletas metidos a espertos e arbitragens indecisas e com critérios desequilibrados é pura combustão.

Sandro Meira Ricci apitou o clássico Majestoso pela Libertadores. Expulsou três jogadores: dois do Corinthians (Sheik e Mendoza) e um do São Paulo (Luís Fabiano).

Não existe verdade absoluta quando se trata de opinião. As minhas foram emitidas na transmissão do SporTV. Repito-as aqui e amplio o debate.

Rafael Tolói  dá um pisão em Sheik, que se achando mais esperto que a esperteza, passa a chamada chinela, de leve, no adversário. Pelas imagens, Ricci não viu uma coisa, nem outra, mas deve ter sido alertado por um de seus auxiliares e expulsou o corintiano. Deveria ter visto e sido alertado sobre o pisão de Tolói e expulsá-lo também. Acertou em uma e errou em outra. Claro que os árbitros não podem ver tudo, mas deveriam ter visto. São oito olhos que estão ali para isso. Não se avalia intensidade, se a chinela foi leve, forte, mas sim o ato, a intenção.

A regra 12, sobre Faltas e Incorreções, prega que serão sancionadas de diversas maneiras, entre elas esta: passar ou tentar passar uma rasteira em um adversário. Tiro livre direto e o árbitro avalia se a ação foi imprudente, temerária, força desproporcional ou agressão.

Luís Fabiano foi expulso por simulação. Por fingir tere sido agredido, quando não foi. A leitura labial de Ricci deixa isso claro. A regra fala disso no tópico Advertências por conduta antidesportiva, no seguinte item: tentar enganar o árbitro simulando uma lesão ou fingindo ter sofrido uma falta (simulação). Como já tinha cartão amarelo, o atacante tricolor levou o segundo, de forma correta, penso eu.

O corintiano Mendoza foi expulso por ter tentado atingir Luís Fabiano. Volto à regra 12, que versa sobre Faltas e Incorreções. A regra concede tiro livre direto para uma série de infrações e acrescenta que o árbitro pode considerá-las imprudentes, temerárias ou com uso de força excessiva. Entre os tópicos está o seguinte: golpear ou tentar golpear um adversário. Não é preciso acertar, o verbo tentar deixa claro. Na minha visão, Mendoza tentou golpear Luís Fabiano e a tentativa foi vista pelo árbitro como passível de expulsão. Concordo.

Um erro de Ricci, penso eu, aconteceu em relação a Elias, meio-campo do Corinthians. Ele já tinha cartão amarelo e fez carga proposital em Centurión, num lance idêntico àquele em que tinha sido advertido anteriormente. Passível de novo amarelo e consequente expulsão.

Há polêmica para muitos dias.

O problema é que a maioria dos jogadores brasileiros não faz nada para ajudar a arbitragem e, consequentemente, o espetáculo. Muitas opiniões acabam contribuindo para agitar o ambiente. Existe uma mania no Brasil de se dizer que o árbitro estragou o jogo, que não se expulsa jogador no início da partida e outras bobagens. Não existe nada na regra que fale em tempo para expulsar alguém ou se preservar este ou aquele talento em campo.

Também existe o árbitro malandro, que se acha muito esperto, finge ter o controle do jogo, exala uma autoridade que não possui. Esse tipo empurra os problemas para debaixo do tapete verde, se omite em lances complicados e olha para o relógio não para conferir o tempo, mas para ver se o jogo já terminou, que é seu grande desejo.

Há o treinador malandro, que se finge de bonzinho nas entrevistas e diz que não se preocupa com a arbitragem, mas passa o jogo inteiro azucrinando e pressionando. Aqui não me refiro a um indivíduo especificamente, mas ao gênero, cuja população é grande por aqui.

Enquanto não combater a falsa malandragem o futebol brasileiro não evoluirá como produto, espetáculo e negócio.

A verdadeira malandragem é a do craque, aquele que com sua arte e inteligência escapa do zagueiro botinudo, do volante maldoso e faz a alegria do jogo.

segunda-feira, abril 13, 2015

Sua majestade, a pauta


Discute-se aqui e acolá, na maior parte do tempo, nas onipresentes redes sociais, o momento atual do Jornalismo.

Ele sobreviverá, apesar de enfrentar mais uma das muitas crises porque passa periodicamente, com o perdão do trocadilho.

Acumulo algum tempo de estrada para poder opinar sobre o tema, sem achar que tenho a solução para tudo, como muitos colegas e consumidores do Jornalismo acreditam ter.

Eu vejo um problema em uma palavra de nome simples e execução complicada: pauta.

A pauta é a majestade de uma boa redação, de um bom informativo, em qualquer meio de distribuição. Notícia não se inventa, Jornalismo não é ficção. Mas notícia se fuça, se cava, se fareja. Grandes repórteres são perdigueiros da informação, com faro privilegiado.

Mas uma boa pauta muitas vezes dá o pontapé que falta para um bom repórter.

A pauta está morrendo por uma imposição econômica, que ceifa cabeças nas redações e muitas vezes leva as pensantes.

A pauta é uma função ao mesmo tempo ingrata e gratificante para quem a executa. Por isso é preciso ter vocação e uma boa dose de abnegação. O pauteiro é quem pensa para o brilho do repórter. Egos complicam essa relação.

Trabalhei com vários pauteiros. O melhor deles, de longe, foi o Nelson Nunes, nos tempos de Diário Popular. Nelsinho, como nós, os amigos, o chamamos, é um grande repórter e levava isso para suas pautas. Eu era novato na redação do velho Diário mas conhecia o Nelsinho dos tempos de Folha da Tarde e sabia de seu trabalho de excelência. Quando chegava à redação, ainda nos tempos de máquina de escrever, a pauta estava lá, afixada no quadro de recados. Detalhada e detalhista, com telefones de fontes, sugestão de perguntas, suítes e previsão do tamanho do texto e muitas vezes até a página em que seria publicada, porque o Nelsinho já antecipava o espelho para os editores.

Acredito que tenha sido um bom pauteiro quando exerci a função. Procurei usar as lições que aprendi com o Nelsinho, sempre tendo em mente que era preciso identificar os talentos dos repórteres para cada tipo de pauta. Quem tinha alma de repórter setorista, de dia-a-dia, quem gostava de fuçar, de investigar, quem sabia cavar bons perfis de entrevistados. Organização é outro requisito fundamental. Pauteiro confuso e bagunçado pode até ser um gênio, mas confunde.

A pauta é uma função solitária. Geralmente o pauteiro fica sozinho na redação, num horário em que pouca gente chegou. Também lida com o ciúme e com a ingratidão. Sempre há repórteres que acreditam estarem sendo preteridos em favor de outros repórteres - diga-se que muitos realmente têm razão. Se a edição do dia é fria e perde para a concorrência o primeiro a ser cobrado é o pauteiro.

Uma coisa que a pauta não admite é preguiça. Pauteiro preguiçoso é sinônimo de jornalismo preguiçoso. Pauteiro que não goste da função atrapalha tanto quando o preguiçoso. Se os dois tipos se unem no mesmo pauteiro, aí complica. Porque se um programa ou jornal nasce ruim ele dificilmente será salvo e terá o mesmo fim.

A recuperação do Jornalismo de mais uma crise, eu aposto, virá de boas pautas e boas reportagens.


segunda-feira, abril 06, 2015

Estaduais não são o problema. As federações é que são


A gritaria justificada contra os campeonatos estaduais me parece apenas com um problema de pontaria. A mira está nos campeonatos, quando deveria ser direcionada às federações.

Os campeonatos podem ser salvos, mas as federações não têm mais qualquer utilidade para o futebol, Servem apenas a elas próprias e a seus dirigentes.

A discussão sobre o calendário é saudável e bem vinda.

No entanto, sou contra decretar o fim dos estaduais.

Vejo uma tentativa de se encaixar uma realidade de país europeu no Brasil.

Inviável.

Ninguém é maluco de achar que atualmente os estaduais sejam torneios cobiçadíssimos.

Mas vejo como devaneio algumas propostas de limá-los do calendário e, por exemplo, liberar os clubes para excursões pelo exterior.

Os clubes brasileiros não competem pelo mesmo mercado que os grandes europeus e provavelmente jamais competirão.

Nosso futebol de clubes não é atraente e nem sequer conhecido em escala global.

Nossa praia, por enquanto, é tentar melhorar por aqui mesmo, tornar os clubes e campeonatos mais rentáveis e organizados.

Aplaudo a maioria das iniciativas do Bom Senso, mas faço essa ressalva com relação ao calendário. Claramente, e já disse isso para um executivo do Bom Senso, existe uma inspiração nos calendários de grandes nações futebolísticas europeias, notadamente a inglesa. Quem jogou lá provou dos melhores cardápios. Mas não se apresenta um menu feito ao gosto britânico para o consumidor brasileiros sem adaptações.

Vejo os estaduais como uma oportunidade jogada fora pela ganância e o amadorismo das federações. Eles deveriam ser os recepcionistas da nova temporada. Após as férias, o retorno ao futebol progressivamente, dando ritmo aos jogadores, apresentando as novas contratações, testando regras e formatos, fidelizando torcedores. Em tempo curto, permitindo, aí, sim, torneios de verão ou sendo eles próprios esses torneios.

Para que isso ocorra é preciso que os clubes entendam que são eles os donos do negócio e que os mais ricos precisam reservar uma parcela de seus ganhos para os mais pobres.

Não vejo saída a não ser que um percentual do que os gigantes recebem seja destinada aos clubes pequenos e médios para que eles sobrevivam e voltem a ser os fornecedores de matéria prima, interrompendo a maléfica atuação dos empresários mal intencionados.

Em alguns casos os torneios estaduais se justificam, em especial nos estados mais ricos. Em outros, competições regionais, com etapas classificatórias, parecem mais racionais. Taí o bom exemplo da Copa do Nordeste.

Assim como os anacrônicos Tribunais de Justiça Desportiva, as federações estaduais de futebol ficaram sem propósito. O que acontece no Rio de Janeiro só não ganha eco em São Paulo, por exemplo, porque a federação paulista paga uma bela grana aos clubes grandes para que joguem seu torneio.

Mas excetuando-se as torcidas de Corinthians e Palmeiras, o torneio paulista mostrou total desinteresse dos torcedores. E, convenhamos, corintianos e palmeirenses estão animados por razões que escapam à qualidade do estadual. O alvinegro está voando na Libertadores e seu programa de sócio-torcedor tem uma bem sacada cláusula de fidelização que torna a ida aos jogos quase obrigatória. O alviverde curte seu belíssimo novo estádio e vê a formatação de um time promissor após uma temporada de filme de terror.

Mas os clubes também merecem um puxão de orelhas: assinam regulamentos que parecem não ter lido e depois reclamam. Falta a eles coragem para se posicionar, de forma uniforme. Até porque sempre existem aqueles que adoram roer a corda e pensam micro, prejudicando o macro.

domingo, março 15, 2015

Os perigos do 4-2-3-1 à brasileira

Não sou um comentarista prancheteiro. Gosto de tática, mas acho que ver o futebol só pela tática é uma visão míope.

Mas falarei um pouco de tática.

Inspirados (ou seria tentados?) pelo que costumam ver na Europa - mais precisamente na Inglaterra), muitos dos treinadores que atuam no Brasil transformaram-se em adeptos do 4-2-3-1, o tal esquema da moda.

Que em alguns casos ganha uma versão numericamente distinta, o 4-1-4-1.

Antes permito-me diferenciar esquema tático de sistema de jogo. Sistema de jogo é o que o treinador escolher, a dança dos números. Sistema tático é como o time se distribui em campo e se movimenta.

Quem avança, quem cobre, quem arma, quem desarma.

Muitas vezes o treinador "vende" o 4-2-3-1, mas leva a campo, por exemplo, um time com 4 jogadores de defesa, 4 jogadores de meio-campo e 2 atacantes.

O problema do 4-2-3-1 à brasileira é ter jogadores que possam fazer as funções que esse sistema pede. Principalmente o tal do 1. No Corinthians funciona porque Guerrero sabe fazer esse 1. Ele sabe jogar de costas para a zaga, sabe esperar a aproximação dos e que chegam do meio e sabe quando é a hora de ir para a área finalizar.

Depende mais do jogador do que do treinador, penso eu.

Não adianta tentar o 4-2-3-1 se o 1 mata de canela, não consegue virar uma jogada e fica isolado dos outros números da prancheta o tempo todo.

O esquema tático e o sistema de jogo de um time devem sempre ser adotados em função dos jogadores, não da ideia do treinador. O bom treinador é aquele que percebe quando sua ideia não dá certo porque não há jogadores capazes de executá-la. O grande treinador é aquele que consegue encontrar um esquema tático que tire o máximo da capacidade individual de seus jogadores.

Para jogar nesse 4-2-3-1 dos sonhos - ou da moda - além desse 1 qualificado, é preciso ter atacantes de lado de campo que possam voltar para marcar ou atuar como meias, ou meias que tenham velocidade suficiente para se deslocar e atuar eventualmente como atacantes pelo lado de campo.

Pelo que tenho visto pelo mundo, em times estrelados como Real Madrid, Bayern e Barcelona, há alternativas.

O Real tem esse modelo que pode ser definido como 4-2-3-1, mas tem um fora-de-série pelo lado do campo, Cristiano Ronaldo, e outro extremamente veloz e qualificado: Bale.

O Bayern tem oferecido a Lewandowski uma companhia de luxo à frente, o Thomas Muller. O Barça tem, em minha visão, uma linha de 3 atacantes.

Enfim, é papo para prancheteiros.

Só acho que muitos treinadores podem estar colocando a prancheta na frente dos bois no Brasil.

Aconteceu algo parecido após a vitória da seleção brasileira na Copa de 2002. O sucesso da linha de três defensiva de Felipão inspirou imitações de quinta categoria.


quarta-feira, março 11, 2015

Atleta profissional e redes sociais


Não adianta correr, fugir. As redes sociais fazem parte de nossas vidas, estão inseridas no contexto do mundo atual.

Elas se multiplicam por plataformas, interesses, afinidades. Tem rede social para pegação, para devassidão, diversão e jogar conversa fora.

Há um lado psicológico irresistível nas redes sociais. A oportunidade de publicar o que se quer, sem intermediários. Comunicação direta. Também há o lado perigoso. Falta edição, alguém mais experiente para ler seu texto, ver seu vídeo, conferir se algo está errado, fora do tom, se é informação coerente, checada ou fofoca, se é opinião, análise etc.

Essas ferramentas tentadoras é claro que seriam adotadas pelos atletas profissionais. Muitos deles adeptos da desculpa esfarrapada da má interpretação. Não estou defendendo minha classe profissional, a do jornalista formado, que anda em péssima fase. Mas fato é que atleta profissional adora posar de mal interpretado quando o que fala gera repercussão negativa. Raros são aqueles que sustentam suas opiniões e, mais raros, aqueles que reconhecem quando falam bobagem. Reitero: na minha área, do meu lado do balcão a coisa anda feia, o nível caiu muito.

Mas voltemos às redes sociais. São instrumentos hoje adotados por muitos atletas profissionais, que são gente como a gente, Muitos deles jovens, ainda formando seus caráteres e posicionamentos. Muitos deles jovens e ricos, graças aos seus talentos.

A combinação de fama e dinheiro, sem filtro, é perigosa.

Em um ramo da atuação dos atletas profissionais descamba para a ostentação pura e simples, com algumas pitadas de irresponsabilidade.

O que muitos atletas profissionais não entendem - e em muitos casos seus clubes e empregadores não informam ou se omitem - é que ninguém segue o Jádson, o Pato, o Valdívia, o Réver, o Adriano  (para citar alguns envolvidos em situações recentes) como pessoas físicas, pais de família, filhos, irmão, síndicos de condomínios. Esses caras são seguidos porque são os jogadores de futebol dos times. Tudo que publicarem será lido e interpretado como o Pato do São Paulo, o Adriano Imperador, o Valdívia do Palmeiras.

Como publicam textos, fotos e vídeos sem passar pela "edição" de ninguém ou então passando por amigos que engrossam o cordão dos puxa-sacos e chupins que orbitam em torno do dinheiro dos jogadores de futebol, quase sempre o resultado cheira mal.

Todos têm o direito de fazer o que bem entenderem em suas redes sociais, inclusive os atletas. Acho cruel a opinião de que atleta tem que ser exemplo. Bobagem. Atleta tem que ser bom atleta, exemplo você tem em casa, na família. Existem atletas de comportamento exemplar em campo e canalha fora dele. E vice-versa.

O que falta no mundo altamente profissional do esporte de hoje é competência e coragem de clubes e confederações para entender que os atletas sob contrato, assim como ganham dinheiro vendendo suas imagens, precisam assumir responsabilidades junto aos seus empregadores. A repercussão de uma postagem de um jogador de futebol, basquete, voleibol, um ginasta importante não é brincadeira. É a questão da pessoa física e jurídica.

Que tal os clubes, federações etc. passarem a incluir em seus contratos o fato de que a imagem do atleta, enquanto atleta de uma instituição, precisa ser administrada pelo próprio clube ou, ao menos, em conjunto? A ferramenta pode gerar inúmeros benefícios pessoais e profissionais.

Certamente pouparia atletas e empregadores de boas dores de cabeça, embora afastasse postagens potencialmente populares, algumas engraçadas e outras grotescas, do universo das redes sociais.

sábado, fevereiro 21, 2015

Coerência x torcedor

Torcedor será sempre torcedor.

Que não se cobre desta categoria racionalidade e análise isenta.

Lembro-me de ler e ouvir severas críticas a Tite em 2013, acusando-o de formar um Corinthians retranqueiro, que não sabia atacar, que jogava para trás.

Agora é saudado como moderno, eficiente e mestre nas estratégias defensivas. Uai, caras-pálidas, não era assim em 2012? Não foi em 2013 apenas porque não ganhou?

Muricy livrou o São Paulo de um rebaixamento que parecia certo em 2013. Foi saudado com libelos que atacavam sua anterior saída do time e pediam sua permanência eterna, como legítimo herdeiro do legado de Telê.

Ano passado o fato de a equipe mostrar bom toque de bola foi motivo para mais elogios. Lembro-me particularmente de um Majestoso no Morumbi no qual Maicon atuou como segundo volante e marcou Paulinho, que estava no auge, com precisão. Agora o treinador é chamado de ultrapassado e sem motivação.

Não tem jeito. Torcedor só acredita numa coisa: vitória.

Não vê futebol, vê a vitória a qualquer preço. Todo treinador é burro e o time quase sempre parece melhor do que realmente é aos olhos do apaixonado.

A maioria não sabe dizer o que é uma linha de três zagueiros, diferenciar sistema de jogo de esquema tático ou identificar um jogador em sua posição.

Mas acham que sabem mais do que os treinadores e os jogadores, todos juntos.

Fazem parte do mundinho da bola.

Entendem que porque fazem um golzinho na pelada com os barrigudos no fim-de-semana podem treinar e até jogar no Real Madrid.

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

Ecos do dérbi paulista

Foi um jogo de razoável para bom o dérbi paulista.

A rigor, em termos de oportunidades, foi igual, exceto pela falha do zagueiro palestrino Victor Hugo, que tem potencial e não deve ser crucificado.

Prass fez duas grandes defesas, em tiros de Bruno Henrique e Mendoza. Cássio fez uma, em cabeçada de Victor Hugo, e Walter outra, em chute cara-a-cara de Lucas. Em duas cabeçadas perigosas, Danilo e Victor Hugo poderiam ter marcado.

Claro que há uma diferença óbvia de padrão de jogo. O Corinthians tem sequências de bons trabalhos sendo aproveitados por Tite e Mano, Mano e Tite, sucessivamente. A equipe é praticamente a mesma da temporada passada, que foi boa. É um time que confia e acredita em seu trabalho e na sequência dele.

No Palmeiras praticamente nada tem sido aproveitado de uma temporada para outra e de 2014 para 2015 nada foi. Nada mesmo. É um time novo, com jogadores que ainda serão incorporados. Até equalizar condição física e conseguir padrão técnico e tático vai um bom tempo.

Fora isso, o Corinthians se preparou para jogar uma decisão em mata-mata de Libertadores e está num padrão físico superior, além da questão tática.

Individualmente, dois jogadores se destacaram: Danilo e Petros. Danilo é um dos jogadores mais inteligentes do futebol brasileiro, lê e entende o jogo como poucos e sabe o que precisa fazer. Frio, discreto e decisivo. Petros é mais explosivo, não tem a técnica de Danilo, mas mostra boa leitura tática e condição física e se destacou.

O Palmeiras mostrou uma dupla de zagueiros que é vigorosa e deve evoluir. Com Arouca o meio terá mais proteção e consistência, Cleiton Xavier pode dar poder de fogo ao meio-campo, assim como Valdívia, se ficar, o toque de criatividade. Não se pode julgar Dudu por um jogo. Falta um atacante que assuste a zaga adversária, como Guerrero. E o clube não pode repetir a burrada de 2014, que foi dar peso demais ao Paulistão e deixar de trabalhar a temporada. Talvez não seja um time para conquistar títulos imediatamente, mas certamente não passará sufoco se o trabalho for mantido.

O Corinthians seguirá sendo muito forte na defesa e se tiver em Jadson um armador mais consistente e ligado em todos os jogos, será candidato potencial a conquistas. Principalmente se mantiver Guerrero, seu melhor jogador.

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Truques e pegadinhas das regras

Embora pareçam simples, as regras do futebol são cheias de complicações e truques e pegadinhas.

Principalmente porque permitem interpretações e os árbitros são orientados interpretar os lances de acordo com a International Board.


No jogo de ontem entre Corinthians e Once Caldas um desses lances cheios de truques aconteceu, no gol anulado do time colombiano.


Em princípio achei que estava correta a anulação.


Por quê?

Porque havia um jogador em impedimento e participando da jogada, Penco, do Once Caldas.
Acontece que a orientação atual da Board, na tentativa de diminuir a subjetividade das interpretações, é para que as situações de "participar da jogada" ou "interferir no adversário" sejam em lances de efetiva disputa de bola.

É complicado.

Se colocarmos dez árbitros de futebol numa sala, duvido que os dez tenham a mesma interpretação.

Revendo a jogada, no intervalo, analisei a distância do Ralf em relação ao jogador colombiano para avaliar se há disputa de lance. Ralf parece longe demais para estar disputando a bola.

Outra questão: será que Ralf vai na bola porque sabe que o jogador colombiano está atrás dele ou simplesmente vai na bola para evitar que ela chegue até a pequena área?

No intervalo mudei meu conceito e achei que o gol foi mal anulado. Mas admito, não estou convicto nem de uma coisa e nem de outra.

O que parece é que o juiz anulou o gol porque o bandeirinha achou que quem tocou na bola foi um jogador do time colombiano. Porque de onde estava, com visão encoberta, ele não poderia ver quem tocou com clareza.

Nessas horas faz falta um árbitro auxiliar atrás do gol, o que não existe na Libertadores.

E a regra continua fazendo um trevo em nossas cabeças.