quarta-feira, abril 22, 2009

O fim do time de Osasco
e os problemas do vôlei


Que tristeza o fim do time adulto feminino de vôlei do Osasco. Mais triste ainda é ler notícias de que outros times devem seguir a mesma decisão e fechar as portas.

Infelizmente, não é novidade no voleibol. O esporte escolheu um caminho de administração competente, vencedora, e um modelo de negócios que agora se mostra numa encruzilhada. Em vez de clubes sociais ou de futebol com seus times, o vôlei embarcou na onda dos times-empresa a partir dos anos 80, com a Transportadora Americana, de Americana, interior paulista. A mais famosa daquela época era a Atlântica Boavista, do Rio. Havia ainda clubes com um trabalho de base fenomenal e constante, como o Minas Tênis Clube, o Banespa, a ADC Pirelli, o Paulistano, o Pinheiros, a Sogipa.

Mas o caminho escolhido foi o dos times de empresas. Ou juntar um grupo de atletas, técnicos e dar a eles uma camisa com a estampa de um patrocinador. Sem preocupação alguma ou obrigação de ter times de base. Como fez a extinta equipe da Sadia, que foi tricampeã brasileira, conseguiu uma exposição absurda na mídia e foi embora. Deixou o quê para o esporte?

Muitas outras deixaram, não só no vôlei, como no basquete. Empresas sérias, que investiam no esporte como projeto não apenas de divulgação, mas de valorização da marca. Muitas outras, no entanto, querem apenas a divulgação e aproveitar os incentivos fiscais. Só fazem reclamar do fato de a mídia não mostrar todos os nomes de times que tinham absurdos cinco patrocinadores. Acreditem, havia times de vôlei com cinco nomes.

E houve um fato que pouca gente comenta: o mercado foi inflacionado. Antes dos jogos de Atenas em 2004 uma levantadora reserva de um bom time de vôlei feminino, grande, vencedor, ganhava 25 mil reais por mês. Uma reserva. No mesmo período, havia times pagando 5 mil reais para jogadores da categoria infantil, apenas para que eles não mudassem de clube.

Com a conquista da medalha de ouro olímpica, o mercado ficou ainda mais inflacionado. Ficou caro demais manter um time profissional e um projeto de formação e social. No caso do Finasa Osasco fala-se em algo entre 10 e 12 milhões de reais por ano para manter o time adulto. Imagino que o Rexona deva gastar o mesmo. E também fala-se em drástica redução de custos por parte do Rexona, que tem um belo trabalho social paralelo.

O vôlei, pelo que ouvi de muita gente que conheço há tempos, ficou caro demais. Em alguns períodos e casos os salários chegaram a ser compatíveis com o de grandes estrelas do futebol brasileiro. E o retorno é bem menor em termos de exposição na mídia.

Também ficam no ar algumas dúvidas: de que maneira são remunerados esses atletas? São funcionários das empresas patrocinadoras? Prestadores de serviço? Têm direitos trabalhistas, plano de sáude? Recebem verbas indenizatórias?

Enquanto fala-se em organizar Olimpíada o esporte brasileiro segue sem projeto e sem plano para gerenciar crises como essa do voleibol. E trata-se da mais organizado e profissional das nossas modalidades.

Resta aguardar os próximos capítulos.

13 comentários:

annddrea disse...

Noriega,
então quer dizer que, se Osasco tivesse ganho a Superliga, TALVEZ tivesse conseguido se manter vivo ? E então TALVEZ fosse o time do Rio de Janeiro que estivesse passando pela crise ? Oras, estamos falando das duas maiores equipes do voleibol feminino atual no Brasil, não é ?... E como ficam, como será que estão as outras equipes ??? Ouvi dizer, como vc mesmo citou, que há outros times na berlinda tb, como Brusque, que chegou à semifinal da Superliga. Se quem se dá bem não tem tido crédito, que garantia tem aqueles que não chegaram tão longe ? Ninguém vai saber onde pisa... Não dá pra "sacar" mais nada...
Um abraço

Alcides disse...

Nori
A CULPA É DOS EMPRESÁRIOS DE TELEVISÃO!

Esse caminho a que voce se refere, adotado pelo volei, era singular. Não havia alternativas.Poucos clubes sociais ou esportivos podem dar-se ao luxo de manter um time de volei, de basquete ou de qualquer dessas modalidades, tidas como amadoras, mas que, na realidade movimentam muito mais dinheiro do que vários clubes de futebol profissional.
O que os clubes sociais ou esportivos ganham com a manutenção desses esportes ? Gloríolas efêmeras e a contabilidade no vermelho! Promovem o nome de uma cidade ou estado e não têm, sequer, mera isenção de pagamento do IPTU. Esta é uma luta antiga do Minas em Belo Horizonte. Os poucos clubes que se aventuraram, deram-se muito mal. O próprio Palmeiras que tinha um ótimo time de volei comandado pelo atual técnico Talmo, na época o levantador.
Exceção feita ao futebol, os demais esportes, pela própria cultura vigente no país, não têm alternativa senão recorrer às empresas, dado o alto custo de manutenção de equipes competitivas A exceção fica por conta de alguns clubes privilegiados, a maioria de de São Paulo e um ou outro de outras capitais, como o próprio Minas Tênis em BH. Estes sim, poderiam manter equipes de competição. Muitos até tentaram...
Sei que a crise econômica é uma realidade, mas é forçoso, também,que se frise um aspecto que se reveste de suma importância: a falta de retorno aos poucos e corajosos investidores que se aventuram a colaborar com o esporte. As grandes redes de TV recusam-se a mencionar o nome dos times. Assim nunca é o Finasa de Osasco, mas, simplesmente, o Osasco. Nunca é o Fiat-Minas, apenas o Minas e assim sucessivamente.
Como se não bastasse tudo isso, as redes de TV agem na contramão da modernidade, pois além de não mencionar os nomes dos patrocinadores, não filmam as camisas, os bonés ou qualquer material que contenha publicidade, tornando inócuo o investimento. Os narradores dos eventos, certamente orientados, não associam os nomes dos clues aos dos patrocinadores.
Quando das entrevistas dos técnicos e jogadores de futebol nas coletivas,após os jogos, caras medonhas, em exagerado close, tomam conta da tela em razão da supressão dos anúncios. Domingo passado a cara de Luxa na TV era enorme, gigantesca, simplesmente para que não aparecessem os nomes dos patrocinadores inseridos no microfone da SE Palmeiras.
O amadorismo televisivo é tão grande e a preocupação é tanta no sentido de omitir os anúncios que as câmeras chegam a desfocar a imagem dos baners colocados como fundo de tela.
Se a TV, que se arvora em parceira do futebol, age dessa forma amadorística ao tratar com esse esporte, imagine o que eles são capazes de fazer para impedir a propaganda das empresas que investem no volei ou nos chamados esportes especializados.
Por essas e por outras que eu rio quando vejo colegas seus na Tv fazendo apelos para que as empresas apliquem mais verbas para ajudar o esporte ou este ou aquele atleta em particular. Ninguém, que não seja um otário, aplica em negócios que não trazem retorno. Repito: A TELEVISÃO É A GRANDE CULPADA E VAI PIORAR. NÃO APENAS PELA CRISE MAS PORQUE OS PATROCINADORES ESTÃO CANSANDO DE FAZER O RIDÍCULO PAPEL DE BOBO!

Anônimo disse...

Caro Nori,

Concordo em genero, numero e grau com a opinião do Alcides. Em que pese seu ponto de vista, é lamentável assisitir aos jogos de volei transmitidos pela Globo e pelo Sportv sem qualquer menção ao nome dos patrocinadores, isto porque outros meios de comunicação (jornal, rádio e internet) divulgam noticias das equipes com o respectivo nome do patrocinador, acostumando o público com essa identificação. Lembro que quando comecei a acompanhar as partidas de volei era justamente a época da Pirelli (Willian, Montanaro, Xandó, etc) contra a Atlântica Boa Vista (Bernard, Bernardinho, Renan e companhia), jogos e equipes que ficaram marcados na memória do torcedor.
Não acredito que esse fato seja o grande causador para a extinção de algumas equipes, mas que não é bacana assistir as partidas com essa omissão dos narradores e comentaristas, isso não é!!!

Abraço

André Antunes
São Paulo

Unknown disse...

Acho que os clubes podem assimilar o Volei se a tv fizer a cabeça do telespectador! O voley jamais teve o espaço do futebol. Num país movido a telinha, creio que esta tem muita responsabilidade com o desenvolvimento dos esportes! Também!

Della Valle

Ademir Backes disse...

Prezado Noriega
Leio teu blog diariamente e fico imaginando quanto deve ser constrangedor para uma pessoa como vc, tentar justificar as atitudes que toma, a empresa que paga teus salario. Pra que pedir patrocionio hoje em dia?? Pra não aparecer em nenhum lugar??
Qualquer dia irão filmar apenas a boca dos entrevistados!! Quem vai investir senão aparece???
Com sinceridade, tu conhece algum time de futebol chamado Canoas?? Tenho 51 anos de idade e nunca ouvi falar desse time, Por que sou obrigado pelo monopolio da tua empresa a ficar ouvindo essa aberração?? Para finalizar, por favor me cite o nome da equipe que tinha 5 nomes, apenas pra não ficar pensando que vc, chegou a esse ponto, pra defender o indefensavel.
A Rede Globo, esta matando sua propria galinha dos ovos de ouro. O Patrocinio..

Atenciosamente

Ademir Backes
BH 22.04.2009
cral.bh@uol.com.br

Rodrigo disse...

Além da questão da exposição da marca - ou da falta dela - outra razão para a saída do Bradesco foi a não exebição de partidas da superliga feminina em TV aberta, como previamente acertado com a Globo.
Nos moldes em que ocorreu esse último campeonato, para o Bradesco é muito mais nogócio manter o projeto social (daí as isenções de que fala o Noriega) com times de base e abandonar o profissional que não dá o retorno esperado, uma vez que custa uma fortuna e não tem exposição satisfatória da marca.
Achei muito bom, inclusive, o Ary Graça tocar abertamente nesse assunto no Tá na Área do Sportv (notava-se certo constrangimento dos jornalistas). Ele deixou claro que para melhorar a parceria da Superliga com a Globo, as partidas precisam ser transmitidas em TV aberta e as empresas têm de ser citadas nas transmissões.
Para que o Noriega entenda, não há um clube de volei chamado Osasco. O time é do Bradesco mesmo. Ele o mantém com o objetivo de divulgar a marca Finasa (além dos benefícios fiscais - e que fique claro, estes não conpensam a manutenção de uma equipe profissional - é necessário retorno de mídia). Assim como não há um clube Canoas no Rio Grande do Sul. O time é da Universidade Luterana do Brasil. É até um contrasenso não dizer ULBRA e falar em Universidad Católica do Chile.

Unknown disse...

Prezado Rodrigo, essa questão é mais complexa do que a simples exibição do nome dos patrocinadores. Osasco já se chamou Finasa, Bradesco, CBN. E sempre foi Osasco, o que acaba sendo mais fácil de identificar.
Existe um problema comercial muito grande nisso tudo e pode ter certeza que ver a marca exposta nas transmissões vale muito mais do que apenas falar um nome o que na minha opinão pessoal não tem problema algum. Eu chamaria de Ulbra sem problemas. Mas eu não mando em nada.
Sobre esportes amadores na TV aberta, é preciso entender, também, que numa emissora com a audiência da Globo, 99% do que ela colocar no ar terá mais audiência em quase todas as ocasiões do que um jogo de basquete ou de vôlei, dependendo do horário. Fora isso há a imprevisibilidade do horário, a grade de programação de uma TV como a Globo é muito rígida. Imagine um jogo de 3 horas. Derruba tudo. E pode ter certeza que vão reclamar muito mais se a novela não começar na hora sagrada.
E a questão que não se debateu ainda a fundo é a seguinte: no que os chamados times de aluguel ajudaram o voleibol, a não ser no imediatismo? Tirando projetos como Finasa, Minas, Banespa, Pinheiros e Rexona.
Temos aí um bom tema para debates.
Abs

Juliano Macedo disse...

Nori,

Acabo de ler que o Botafogo e o Barueri estão pensando/tentando manter o time do Osasco, investindo nas atletas e comissão técnica. Essa informação é verdadeira? O que você pensa sobre isso?

Seria uma ótima iniciativa. Caso o Osasco acabe de vez mesmo, sem que nenhum outro clube assuma o comando desse time, será uma perda irreparável ao segundo esporte do Brasil.

Fiquei muito chateado com essa decisão do Finasa (Bradesco). Espero que voltem atrás ou alguém volte por eles.

Abraços,
Juliano Macedo.
www.macedofutebolclube.wordpress.com

Anônimo disse...

O esporte brasileiro é de uma eterna crise sem precedentes. O modelo não conta com subsídios governamentais para sua prática. Se o futebol vai mal com toda a visibilidade da mídia, imagine os demais sem nenhuma.
Criatividade e competência devem seguir juntas com o devido subsídio governamental. Isso mesmo! Governamental! Ninguém nesse país se arrisca. Todas as ações privadas sempre precedem movimentos políticos.

Fábio José Paulo (FAJOPA) disse...

O próprio título do seu texto explica pq a empresa caiu fora.

Qual o problema da Globo, da Sportv, do seu blog e de outras emissoras falarem FINASA OSASCO ou REXONA RIO DE JANEIRO?

Só na Rede Globo a equipe RBR existe. No mundo todo a transmissão traz Red Bull Racing.

Aí é só chegar as Olímpiadas para vermos pipocar matérias que os empresários não investem no esporte, etc, etc.

Se eu fosse empresário não investiria mesmo. É ridículo uma emissora de TV, a maior desse país, não citar o nome do patrocinador, aquele que permite que aquele time esteja na telinha dando audiência para a Globo.

RIDÍCULO!!!

João Carlos disse...

Os meios de comunicação são tão crueis com os patrocinadores das equipes que quando existia o time era Osasco, agora que não exise mais é o Finasa.
Ou seja, o Finasa só aparece na hora ruim, a de sair.

abs

Unknown disse...

Nori, gostaria de ler sua opinião sobre o que disse Juca Kfouri, que achou injusto o Bradesco que tanto lucra, fechar o time.

Ele também comentou que a mídia apenas citava o Osasco e não transferia a responsabilidade, assim, para o Bradesco.

O que, exatamente, o Juca disse?

Aqui está:

http://blogdojuca.blog.uol.com.br/arch2009-04-19_2009-04-25.html#2009_04-22_15_08_00-9991446-0

E aí, você pode comentar?

Forte abraço.

Lili parmera disse...

Com certeza a TV brasileira tem sua parcela de culpa. Houve um domingo em que tudo o que eu queria era ver uma final de mundial de volei, masculino, mas a Globo - que tinha os direitos - resolveu passar "A turma do Didi". Foi o Brasil X Bulgária mais emocionante de sempre, e os brasileiros tiveram que ouvir pelo rádio. Uma beleza!