sábado, abril 18, 2009

Maracanã, a catedral
ecumênica do futebol



Sempre que vou ao Rio de Janeiro procuro sentar na janelinha do avião para aproveitar um pouco daquela paisagem insuperável. Gosto particularmente de quando o avião sobrevoa um trecho do centro velho do Rio. Fico a pensar nas muitas histórias dos Anos Dourados, desse Rio charmoso e romântico da década de 50 que, infelizmente, eu não conheci, mas já ouvi e li muito. Seja em histórias, em discos ou livros.

Outra coisa que sempre faço lá de cima é procurar o Maracanã. Aí parece que escuto a trilha sonora do Canal 100 e me lembro das matinês no cinema, daquelas imagens maravilhosas, dos golaços, dos geraldinos. Fui ao Maracanã pela primeira vez em 1977. Tinha nove anos. Meu pai, Luiz Noriega, foi ao Rio para narrar alguns jogos do Mundial Juvenil de Vôlei, no Maracanãzinho (ali começou o projeto do melhor voleibol do mundo), e num intervalo entre os jogos me levou ao Maracanã.

Acho que era Fluminense x Vasco, mas não tenho certeza. Porque pouco vi do jogo. Eu queria mesmo era olhar para aquele monstro de concreto que eu só tinha visto pela TV e no cinema. Queria prestar atenção na geral, na magia daquelas cadeiras azuis, no ritmo da dança das bandeiras nas arquibancadas.

Voltei muitas outras vezes ao Maracanã. E fui a muitos outros estádios pelo mundo. Posso afirmar que nenhum gol é mais bonito que um gol marcado no Maracanã. Aquela baliza, o jeito que a rede absorve as bolas, é tudo diferente, mais plástico.

Isso sem contar que o Maracanã não pertence a nenhum clube, a nenhuma torcida. É de todos, é do mundo, é do futebol. A isso se chama templo. É uma autêntica catedral ecumênica, que aceita todos os credos e paixões do ludopédio.

O Maracanã explica muito do jeito carioca de ser e de ver o futebol. As pessoas vão ao Maracanã, onde jogará o time delas. Em São Paulo as pessoas vão ver seus times jogar. O time vai jogar em um estádio. É muito diferente. Acho que antes da construção do Morumbi, quando o Pacaembu reinava, talvez fosse assim em São Paulo. O Pacaembu era de todos. Hoje existe o fator mando de campo, que potencializou rivalidades, exasperou ânimos, plantou animosidades.

Por isso o Maracanã reina absoluto, acima de tudo isso, de rivalidades. Também é por isso que jamais deveria ser cogitada a possibilidade de demolição do Maracanã, como defende o amigo Lúcio de Castro. Ele deve ser presevado, conservado, quando muito adaptado como vem sendo.

Eu faria sempre a final da Copa do Brasil no Maracanã. Como os americanos fazem com o SuperBowl, um jogo, a cada ano em uma cidade. A diferença seria o fato de ser sempre no Maracanã. Como a Copa da Inglaterra em Wembley, não é isso?

Sou da época em que a Seleção Brasileira praticamente só jogava no Maracanã. Talvez fosse outro ponto a se pensar.

Enfim, nada se compara ao Maracanã. Visto do alto, de um avião, do Cristo, de baixo, por dentro.

Em 2000 tive uma oportunidade rara de bater um papo com Zico, no vestiário do Maracanã. Ele acabar de participar de um jogo de veteranos promovido pela empresa em que eu trabalhava. Jogou um Brasil x Argentina ao lado de Roberto Dinamite. Eu, o amigo Anelso Paixão, no vestiário do Maracanã, falando com aquele que talvez tenha sido o jogador-símbolo do estádio.

Na saída, o silêncio, aquele gigante calado, esperando a próxima vez em que abriria suas portas para receber multidões de fiéis. Amém, Maracanã!

3 comentários:

cassiano disse...

Caro Noriega sempre leio seus textos aqui no blog, assisto aos jogos no sportv com seus comentários e admiro suas colocações. Sou jundiaiense torcedor e sofredor do galo do japy; e vejo que você tem tudo para ser chamado de jundiense também pois trabalha com um dos mais bem secedidos jornalistas da minha terrinha e é amigo de um outro que também não nega sua origem, falo de Anelson Paixão

Esmeraldino disse...

Nori

Não fique triste por não ter vivenciado o Rio de Janeiro dos chamados anos dourados.
Eu os vivi morando no Rio de Janeiro e, por própria experiência, garanto-lhe que não foram tão dourados como se diz nos dias de hoje.
Se havia a tranquilidade, respeito ao próximo e ao patrimônio alheio, havia carências de sociais de toda a órdem e o futebol, como sempre, era a grande válvula de escape.
Eu lhe diria que os anos dourados existiram, do ponto de vista social, apenas para os abastados e para a elite predominante, mormente a classe militar.
Agora, que o futebol era outro, ah, isso era! Sobretudo porque o Brasil era um país monoesportivo,
com pouca importância para as demais modalidades diferentes do futebol, exceto o futsal.
Não havia equipamentos, uniformes ou apetrechos acessíveis para a população de média e baixa renda e o futebol podia ser praticado em qualquer lugar até com uma bola de meia. Detalhe: As cidades eram menores e havia milhões de campos de futebol em todo o país.
Pode-se dizer que 90% da população em idade de praticar esporte jogava, exclusivamente, o futebol.
Em razão disso, você tinha quantidade para apurar qualidade.
Daí a existência de tantos craques.
Todo time grande tinha de seis a sete grandes jogadores.dos quais tres ou quatro eram craques, verdadeiros artistas da bola.
O "dourado" desses anos residia em uma vida pacata da população, sem medos ou sobressaltos decorrentes da violência que grassa hodiernamente.
A luta pela sobrevivência, de quem não tinha dinheiro, era até mais violenta do que a dos dias atuais.
Mas que o futebol daquela época foi insuperável e deixou muita nostalgia e saudade, é fato indesmentível e inquestionável.

Luiz Augusto Lima disse...

Boa idéia essa de final única da Copa do Brasil no Maracanã. Acho que nunca irá acontecer, mas que seria charmoso, seria.