quinta-feira, outubro 15, 2009

O dia em que Dios

foi salvo pela Bruja



Logo que a equipe do SporTV chegou a Montevidéu para transmitir Uruguai x Argentina, Vicente, nosso simpático e falante motorista, deu a senha do que o jogo representava para ele. "Nem sou fanático por futebol, mas o que interessa é ganhar dos argentinos. Depois vemos o que acontece".

Vicente é apenas mais um dos uruguaios que não engolem as provocações dos argentinos, que adoram chamar a "banda oriental" de mais uma província argentina. Em especial os porteños, vizinhos de mar doce, que conseguem ser mal vistos até pelos próprios argentinos de outras regiões.

Mas havia uma Bruxa a assombrar os sonhos de vingança do amigo Vicente. Ou melhor, uma Bruja. A Brujita Verón, Juan Sebastián, o filho de Juan Román. Os Verón são da alta sociedade futebolística mundial. Família baseada em La Plata, quatro vezes campeã da América.

Foi Verón, o filho, quem conduziu a Argentina a mais uma Copa do Mundo. Sempre que o vejo jogar, parece que escuto a música do Canal 100 ao fundo. Verón é um jogador de futebol que saiu da máquina do tempo. Ele joga com a elegância e o estilo dos anos 60, 70, mas está aí, em plena atividade no século 21.

Como se fosse o dono da bola, Verón impôs seu ritmo, sua cadência em pleno Centenário. Foi graças às diabruras da Bruja com seus toques precisos e leitura perfeita de jogo que Maradona, chamado de Dios pelos argentinos, pode destilar toda sua grossura na vingança contra o alvo preferido - o de sempre - os jornalistas.

Maradona preferiu gritar "chupa!" para o mundou ouvir em vez de reverenciar o futebol de Verón. Num jogo tecnicamente pobre, em foi a Bruja que fez o Uruguai arder na fogueira do Centenário. Toca pra cá, toca pra lá, esfria o jogo, faz a bola girar de um lado para outro. E o Monumento do Futebol Mundial, que cantou a plenos pulmões o hino charrúa, foi ficando calado, calado.

Maradona parecia mais preocupado em olhar para as tribunas e fazer caretas para as câmeras de TV. A toda hora era alertado pelo auxiliar Mancuso ou por um jogador do banco sobre o que acontecia em campo. E o que acontecia quem determinava era Verón.

O torcedor do Cruzeiro já havia provado da poção da Bruja na final da Libertadores. Ele calou o Mineirão no mesmo estilo, ditando o ritmo, como que batendo a mão no peito e dizendo: "vocês querem jogar futebol, é? Tudo bem, mas tem que ser do meu jeito". E foi.

Se alguém ligou a TV ou foi ao Centenário esperando ver Messi, de novo opaco, frio, como se fosse um finlandês naturalizado argentino, viu mesmo foi mais um show de Verón.

Nunca tive problemas ao chamá-lo de craque. O mais recente capítulo, o de número 205 na história do Clássico do Prata, serve de argumento para quem ainda não considerava Verón craque. Não apenas de bola, mas de cabeça. Sua entrevista ao final do jogo foi um lampejo de lucidez em meio às vociferações e impropérios da dupla Maradona-Bilardo. Que atiraram nos repórteres quando 84% dos ouvidos pelo jornal Crítica condenavam o comando da Seleção.

Verón disse que não adiantava empurrar a sujeira para baixo do tapete só por causa da vitória e da classificação. Havia muita coisa errada e só com bastante conversa elas seriam resolvidas.

Ecos da noite em que Dios foi salvo pela Bruja.

6 comentários:

O autor disse...

Concordo plenamente Nori. Burxinha salvadora e craquérrima. Parabéns pela transmissão e comentários perfeitos.


Passa no meu blog quando puder: http://diarioesportivogolaco.blogspot.com

Abraços

Anônimo disse...

Perfeito !!! Um maradona a la luxa é tudo que a argentina não precisa. O Veron, sim, dá raiva jogar contra. O cara quando tá com condições físicas, toma a batuta do jogo.

Rildo Ferreira dos Santos disse...

Noriega,
Fiquei super dividido entre querer a Argentina na África do Sul, por conta de craques como Verón e Messi, também querendo ver o Tevez voltar a jogar como jogou no Coríntians e o Aimar, como joga pelo seu clube, e entre desejar que o Uruguai desse um sacode na Argentina e o Equador vencer o Chile pra nem pra repescagem a Argentina ir por conta desse temperamento repugnante do Maradona. Que pena! Ele podia ser como treinador um pouco daquilo que ele foi enquanto jogador. Pena que as drogas consumiram o cérebro do cara.
Um abraço

Raul Torres disse...

Realmente Véron é um jogador sensacional. Classe, precisão, experiencia, catimba e até, maldade na hora certa. Eu queria muito ter a oportunidade de jogar 90 minutos ao lado dele e aprender como se candencia um jogo, sem ser molenga.

Véron tem que ser tratado como craque!

Abs!
http://nopiquedabola.wordpress.com/

Tiago disse...

Bom dia Noriega. Qual a sua opinião: é melhor o campeonato brasileiro por pontos corridos ou mata-mata?
Abraço

Unknown disse...

Tiago, não tenho nada contra os pontos corridos, mas prefiro o mata-mata. Até já escrevi sobre isso aqui no blog.
Abs