quarta-feira, agosto 12, 2009

Ainda sobre o calendário,

uma voz que também não

quer adequação ao europeu


Tem sido um bom debate, com muitos argumentos. Sigo pensando que mudar nosso calendário será uma ação que em nada vai alterar o curso das coisas e está sendo utilizada politicamente.
Penso exatamente como o ex-dirigente corintiano Antonio Roque Citadini e aqui reproduzo o que ele postou recentemente em seu blog.

É também parte da resposta ao comentário do internauta que se identifica como Jesus The Lord, que tem bons argumentos a favor da mudança. Mas sigo achando que não atentam para o cerne da questão e sempre acham que basta copiar a Europa para fazer o que é certo. Cheguei a ler a insanidade de que a Argentina fez isso com sucesso. Basta ver a penúria em que se encontra o futebol vizinho para perceber que a afirmação não se sustenta.

Há também a corrente que se considera politicamente correto, parte dela na mídia, que separa grupos entre o bem (sempre eles) e o mal. Acho que o debate precisa ser maior que isso.



Não ao calendário europeu

Por Antonio Roque Citadini


Uma corrente significativa - e de respeito - no mundo do Futebol defende a adoção do Calendário Europeu para o Brasil. Digo, desde já, que não é esta a minha opinião.

Imagino que seja um grande equívoco a adoção deste calendário, em que as competições ocorrem no Outono, Inverno e em parte da Primavera, pois estaria longe de resolver os principais problemas futebolísticos brasileiros.

Calendários de eventos são adaptações do homem ao tempo e, situando-se o Brasil no Hemisfério Sul, há claras diferenças com o Norte.

Embora sejamos um País de estações climáticas com definição menos precisa do que a Europa Central ou Estados Unidos, nada nos indica que devamos realizar nossas competições em situação que os europeus consideram a pior.

Entre os países do Norte, o ano de trabalho começa no Outono, em fins de Setembro, e se estende até o meados da Primavera. Neste espaço, concentra-se quase tudo, desde as atividades governamentais até o lançamento de programas de televisão, inclusive shows, óperas, concertos, livros, congressos etc. É a temporada das realizações e do trabalho. O período também coincide com todos os eventos esportivos.

O Verão é o tempo das férias, em que tudo para, do futebol aos parlamentos, dos shows à renovação das grades de TV. Os próprios governos entram em férias e não se agenda coisa alguma. Nada ganharíamos disputando campeonatos em tempo adverso, no auge do calor, quando muitos, e esperamos que cada vez mais pessoas, viajam para aproveitar as praias e descansar.

Pouco nos acrescentaria adotar este Calendário Europeu, até porque as janelas de transferência, que tanto incomodam ao esporte, são, basicamente, no meio e no final do ano. Só teríamos a perder.

Hoje, nos meses de Inverno brasileiro e Verão europeu, as TVs europeias são inundadas com transmissões de partidas de nossos campeonatos, uma vez que estão sem jogar. Isto desapareceria, já que somos concorrentes deste esporte na Europa.

Taí uma mudança quase "gattopardista": mudar tudo para deixar na mesma, ou pior do que já está.

5 comentários:

Michel Costa disse...

Prezado Nori,
É impressionante como a mudança no calendário brasileiro se tornou o assunto da moda.
Mais impressionante ainda é a ignorância das pessoas acerca desse tema.
Dentre os que são contra, poucos parecem demonstrar saber que existe uma enorme diferença entre os investimentos que os clubes europeus realizam no meio e no início de cada ano. A janela do início é, basicamente, usada para reparos no elenco. Bem diferente da outra que muitas vezes se presta à quase que total reestruturação dos elencos.
Deste modo, a mudança serviria, basicamente, para mudar o momento em que o nosso calendário é entrecortado pelo êxodo, visto que o Brasileirão só começaria depois e seria pouco afetado pela abertura movida a "retoques".
Li o seu argumento sobre a janela ocorrer no momento em que os times estão sendo pensados, mas não é melhor neste período do que com o campeonato em andamento com o treinador correndo o risco de perder meio time?
Ainda estou em busca de argumentos melhores da ala que é contra.
Abraços.

Unknown disse...

Oi Nori!


Gostei do texto do Citadini, até porque sou Geógrafo, e sob essa ótica, realmente pode-se ter algum receio para com as consequências da adequação.

Porém, me ajude um pouco a pensar amigo...

Não acho totalmente pertinente, ou melhor, convincente para justificar na plenitude a "não adequação".

"Hoje, nos meses de Inverno brasileiro e Verão europeu, as TVs europeias são inundadas com transmissões de partidas de nossos campeonatos, uma vez que estão sem jogar. Isto desapareceria, já que somos concorrentes deste esporte na Europa."

- Olha que maravilha essa inundação cessar. Nossos jogadores não teriam tanta notoriedade igual se tem hoje com nosso calendário. Seus (europeus) famigerados olhos futebolísticos estariam mais atentos ao seu próprio mercado, ao invés de continuarem sugando exaustivamente o nosso. Não cessaria por completo, óbvio, mas com certeza atenuaria, pelo menos nessa época.

O Campeonato Brasileiro, então, deverá se iniciar no segundo semestre para encerrar no ano seguinte, certo? Com isso a janela de transferência principal será antes da competição e não durante. Isso é bom para o planejamento de um clube. Assim, adequaremos nosso campeonato ao calendário da FIFA, evitando que os clubes brasileiros fiquem desfalcados de jogadores que servem a Seleção, por exemplo.

Parece que a principal exigência é haver uma abertura no meio do ano, para que os clubes possam participar de competições internacionais e o Brasil possa, inclusive, receber clubes estrangeiros para competições de pré-temporada. Isso renderá boas receitas aos nossos clubes, além de instituir um bom período de preparação, coisa que não existe no Brasil.

Mas adjacente à adequação, seria importantíssimo a diminuição dos estaduais, ou então a volta do regionais. Adequar também a Libertadores, Sulamericana, fazendo com que fossem disputadas concomitantemente, ao longo do calendário, até o término deste.

Creio também que a Copa do Brasil ficaria mais valorizada, pois um mesmo time poderia disputar a Libertadores e a Copa do Brasil ao mesmo tempo, como os clubes europeus fazem.

*continua...

Unknown disse...

*continuando...


Imagina o período de descanso aos times, já que não haveria problema de adaptação ao clima do inverno, que no Brasil tem temperaturas amenas nessa época do ano. Além disso, acredito que os atletas seriam beneficiados com um tempo maior de descanso.

Sem contar que, além do intervalo maior no meio do ano, os jogadores teriam também o intervalo referentes às festividades do fim de ano. Os atletas no Brasil terão um tempo a mais de descanso.

Claro que o poderio econômico europeu vai continuar prevalecendo... mas como eu havia dito: tudo a seu tempo! As coisas vão "se ajeitando" com a adaptação ao calendário.

Você realmente consegue enxergar uma PIORA com a adequação ao calendário europeu?

Sinceramente acho que só tem a melhorar, mas com o passar dos anos... Nada de imediato, claro!

Mas deixar do jeito que está??

Fazendo uma vaga analogia, podemos usar esse "medo" em adequar nosso calendário ao europeu, como um time que entra no jogo com medo de tomar gol, todo retrancado. "Quem tem medo de vencer, está fadado ao fracasso"

A adequação ao calendário europeu, na minha humilde opinião, na verdade deveria partir de lá pra cá; o ano começa em janeiro e termina em dezembro, apesar do calendário escolar e esportivo não começar. Mas essa é uma questão menor comparada à necessidade de uma uniformização do futebol mundial.

São medidas paliativas, ou seja, é pra remendar mesmo. Nossa economia é mais frágil, nossa estrutura é mais frágil e enquanto não tivermos potencial pra segurar jogador, dos males o menor: que saia no começo e no final, não no MEIO de uma competição. Os clubes não fazem um planejamento graças a isso, e sim apesar disso.

Provavelmente eles prefeririam, pelo menos a torcida preferiria, que a janela de negociação não cortasse em dois o Campeonato Brasileiro.

A Copa do Brasil deveria ser disputada nos moldes da Copa da Itália, com os clubes que participam da Libertadores entrando nas 4as de final, e os que jogam Sul-americana nas 8as, isso manteria tanto os clubes que jogam Libertadores e Sulamericana quanto os que não jogam, ocupados. Além de ser jogada paralelamente ao Campeonato Brasileiro.

As competições continentais deveriam ser paralelas.

Os estaduais deveriam ser enxugados tanto que deveria excluir os times que jogam a primeira divisão das primeiras fases, ou seja, as primeiras divisões estaduais deveriam ser disputadas pelos times do interior brigando pra achar um ou mais representantes para a disputa do título, com os grandes numa espécie de quadrangular ou hexagonal final, com cerca de 10 datas em média.


Sinceramente... com boa vontade, e nem que seja aos poucos, nosso futebol iria galgar patamares antes nunca nem imaginados!

E eu, como torcedor... você, como comentarista.. e todos nós, como seres humanos apaixonados pelo futebol, iríamos sair TODOS vitoriosos!!! E acima de tudo, satisfeitos!

Abração Norí!

Unknown disse...

Prezado Michel, todos têm seus pontos de vista. Não acho que o meu seja o correto, apenas penso assim. Ninguém é dono da verdade. Só discordo dos argumentos de que adequando à Europa vamos melhorar nosso futebol e salvaguardar os clubes. E repito: temos nossas necessidades e podemos nos virar sem fazer a coisa igual.
Outro detalhe: ninguém fala que o Inter trouxe o Edu, o Corinthians ou outro Edu, o Palmeiras pode trazer o Love. A janela tem duas vias.
Abs

Unknown disse...

Amigo Jesus The Lord, não se iluda. Os times vendem porque gostam de vender e precisam vender. Não tem nada a ver com o calendário e nem com a janela.
Abs