segunda-feira, julho 30, 2007


RESSACA DO PAN

E O BRASILEIRÃO


Foi-se o Pan e confesso que deixa uma certa nostalgia para um fã de esportes em geral. Dentro de suas limitações e características - repito uma vez mais, Pan é Pan, não tem nada que ver com Olimpíada - foi um belo espetáculo, com grandes momentos e imagens marcantes. Como, assumidamente, foi um Pan de candidatura olímpica, resta aguardar os próximos passos no sentido de o Rio disputar a realização dos Jogos de 20016.
Muita coisa boa pode ser melhorada e muita coisa que não deu certo precisa ser repensada. Algumas das instalações são excelentes para o padrão olímpico. Engana-se quem fala que muitas delas, apesar de belas e modernas, não têm tamanho para uma Olimpíada, que gera um maior afluxo de pessoas. Em Barcelona-92, por exemplo, o time de vôlei masculino do Brasil jogou num ginásio antigo, pequeno e sem climatização na maioria da primeira fase. Assim como o ginásio de Badalona, que recebeu o basquete, não é melhor nem maior que a Arena que recebeu o basquete do Pan.
O que não se pode aceitar são vacilos como o ocorrido no beisebol. Para nós, um esporte sem grande prestígio, mas pra muita gente o beisebol é uma paixão e merecia melhor tratamento. Assim como o comportamento em geral de alguns torcedores merece repreensão. E a questão do transporte precisa ser muito, mas muito melhorada. Assim como a cidade poderia ter sido mais convidada a participar dos Jogos. Em termos gerais, como Pan, foi muito bom e ratificou, pelo menos, o direito de o Rio oferecer-se como candiato.
Entre altos e baixos, para mim, o grande momento dos Jogos foi a vitória brasileira no revezamento 4x100 do atletismo, uma prova sensacional, emocionante. E o pior foi ver atletas campeões olímpicos envolvidos num barraco na arena do judô.
Mas, com certeza, deixou saudades.

BRASILEIRÃO

Andei afastado do dia-a-dia do Brasileirão, mas pouca coisa se alterou. A pricipal mudança foi a arrancada do São Paulo para encostar no Botafogo, ainda que com um jogo a mais. Fico imaginando o que dirão agora aqueles eternos críticos do Muricy, que acham que tudo era culpa dele, que o elenco é espetacular, maravilhoso, que tudo que acontece de errado é por causa do treinador.
O Botafogo segue sendo o time mais interessante, que joga de forma mais consistente e alegre. Mas corre o risco de ver tudo isso ruir se alguém não chegar para uma conversa com o goleiro Júlio César. Ele é atabalhoado demais, não tem noção de quando e como deve sair do gol e comete algumas barbaridades. Dá pra resolver com orientação e conversa, mas que ele compromete em algumas ocasiões, isso é fato.
São Paulo e Botafogo à parte, a briga é embolada. Grêmio, Vasco, Fluminense, Palmeiras, Inter, essa turma toda está ali à espreita, preparando um bote. O Inter conta com um grande reforço, a volta de Alex, que é bom jogador e versátil taticamente. O Vasco tem um problema de dupla personalidade. Se jogasse apenas em São Januário, seria campeão. Mas tem jogo fora de casa e aí o time se complica. O Palmeiras tem mais transpiração que inspiração e vai se segurando numa raça fora do comum. O Grêmio é competitivo, mas parece faltar um algo mais, assim como no Verdão. Por fim, o Fluminense campeão da Copa do Brasil ensaia uma arrancada, mas por enquanto a banda ainda não mostrou que pode sair em turnê.
Em resumo, é um campeonato interessante como compeitção, mas que deve e muito como espetáulo. Infelizmente, a tônica do futebol brasileiro atual é a destruição. Quase todos os times têm como premissa básica não deixar o adversário jogar e acabam se esquecendo, eles, de jogar um pouquinho. Bota e São Paulo fogem a essa regra. Os outros escapam de vez em quando.
E por falar em destruição, de tanto tentarem, os dirigentes de Corinthians e Flamengo parece que, desta vez, caminham em ritmo acelerado para conseguir seu intuito de destruir esses patrimônios do nosso esporte. O caso do Corinthians é bem pior que o do Flamengo, que parece ter percebido um pouco antes que não há nada além do fundo do poço. Mas chamar Joel Santana de novo é a maior prova de que o Flamengo já pensa, de novo, apenas em não cair. O Corinthians, que virou um clone do Bragantino, não pode mesmo esperar muita coisa enquanto não se livrar desse encosto chamado MSI. Tristes dias para as maiores torcidas do Brasil.

sexta-feira, julho 27, 2007


SE A CRÍTICA ODEIA...


Nunca fui muito chegado a intelectualidades e intelectuais. Tenho interesse por cultura, é óbvio, mas esses chamados papos-cabeça, cinema iraniano, música da Islândia, nada disso faz muito a minha cabeça. Talvez eu tenha uma orientação cultural mais voltada para o pop, embora me permita gostar de alguma música mais complicada, uns discos de jazz, lamentar não ter tempo para ir ao teatro e admirar alguns filmes que não fazem parte da temática do chamado cinemão.
Tenho alguns amigos que são críticos culturais, uns de cinema, outros de música. Destaco um parceiro das antigas, Fabian Chacur, um dos pucos críticos musicais sem preconceito que já li.
Em virtude disso, resolvi adotar uma tática com relação a novas músicas e filmes. Leio alguma crítica que detona um filme que vem cumprindo uma carreira pelo menos boa e que, no boca a boca, conta com boa cotação. Vou pelo lado oposto do crítico. Aposto no que ele detona e geralmente saio feliz do cinema. Não consigo imaginar que alguns detonem a falta de filosofia ou mensagem num filme tipicamente de ação, para divertir. E aí elogiam cada coisa sem nexo.... Vá lá, talves eu não tenha o preparo intelectual para certo tipo de cinema. Embora goste de coisas como Janela Indiscreta, Blade Runner e cinemão do tipo Star Wars, De Volta para o Futuro.
Quando o assunto resvala para a música, aí chega a ser irritante. Porque falta, desculpem a força da palavra, honestidade. Boa parte dos chamados críticos músicais quer, na verdade, impor o gosto musical deles e de sua turminha em suas colunas e análises. Aí pintam aquelas bandinhas obscuras da Escócia chamadas como as melhores do mundo, em textos descaradamente copiados de revistas londrinas. Essa corrente que tenta transformar, sem sucesso, o Oasis em maior banda do mundo há uns 15 anos. Mas o mundo não é trouxa. Se a crítica músical, em especial a da Folha, excelsa um disco de rock da Escócia, passo longe. Seria, mal comparando, como um jornalista que cobre esportes querer convencer todo mundo que o melhor time é o dele só porque ele acha. Ou querer afirmar que West Ham e Southampton é melhor que um jogo do Brasileirão só porque é da Inglaterra.
Admito um certo radicalismo de minha posição, já que gosto de música velha (dos 50 aos 80, preferencialmente), acho o cenário pop-rock atual medíocre e admiro - como alguém que gostaria mas não tem o dom - músicos talentosos e criativos.
Cada um tem sua preferência. Nunca fui grande fã do Nirvana, acho Foo Fighters muito, mas muito melhor, mas como negar o poder de uma música como Come As You Are?
Depois tem gente que não entende porque bandas das antigas ainda saem em turnê, lotam estádios e são celebradas após 30, 40 anos de carreira. Tá faltando qualidade no mercado. Algo como explicar porque tem tanto jogador com mais de 30, 35 jogando direitinho no futebol brasileiro. As novas gerações não ajudam.

quinta-feira, julho 26, 2007

RESPOSTA A UM ANÔNIMO


O espaço é sempre democrático e incentiva a troca de idéias, ainda que algumas venham sob o manto do anonimato, como um comentário muito bem articulado de um internauta, falando sobre o que escrevi a respeito do Pan e dos comentários da final do futebol feminino.

1) O time de futebol feminino dos EUA que jogou o Pan é sub-20, não sub-17 como o senhor anônimo afirma. E sendo um time sub-20, reforço, é um time muito bom, sim, dentro da sua categoria. Só não se pode compará-lo ao time principal do Brasil, que é vice-campeão olímpico. Se os EUA decidiram mandar seu time Sub-20, não é problema do Brasil, ou meu, ou seu. É dos EUA, que, inclusive, são a maior potência do futebol feminino.

2) Sobre a natação, se o amigo anônimo acompanhou com atenção as análises da equipe do SporTV, todos foram unânimes ao apontar Cielo como o nadador com melhores condições para a Olimpíada. Com o que não posso concordar é com certo tipo de comentário que desmerece uma conquista de um atleta, dentro de um parâmetro. Se ganhar tantas medalhas como o Thiago Pereira ganhou é assim tão fácil, porque demorou tanto tempo (40 anos) para que alguém fizesse o que Mark Spitz fez em 1967?

3) O SporTV é um canal de gente séria e responsável, que procura informar e opinar com profissionalismo. Ninguém ali está tentando enganar no que faz, nem tem motivos para isso. Muito menos fazer comentários mentirosos, como o senhor anônimo afirma. Concordar ou não é outra história, assim como achar que eu ou algum colega meu entendemos ou não de determinado assunto. E outra coisa: não brinco quando estou trabalhando. Agora, se o senhor gosta ou não, é outra história e respeito isso. Portanto, não existe desinformação.

4) Talvez o senhor anônimo esteja um pouco desinformado sobre o Pan e as modalidades que classificam para as Olimpíadas e outras das quais participam, inclusive, campeões mundiais. Algumas delegações, como os EUA, Canadá e outras, no caso de certas modalidades, não enviam seus principais atletas. Por opção. Talvez seja preciso entender que os jogos são Pan-americanos e não Olímpicos e que cada competição tem sua importância e seu peso no aspecto técnico.

5) Cuba é, sim, uma potência olímpica. O Brasil não é.

6) A título de esclarecimento, para o COI e para a Odepa, a classificação do quadro de medalhas não existe, ela é meramente simbólcia e adotada pela imprensa de maneira geral. Cada resultados dos finalistas nas provas tem um peso que é atribuído a uma pontuação final e, encerrados os jogos, uma delegação é apontada como vencedora por esse critério. A disputa medalha a medalha é muito mais simbólica.

terça-feira, julho 24, 2007

OS VERDADEIROS DONOS DO PAN


Talvez no afã de quererem ser mais realistas que a realidade, algumas pessoas têm desmerecido resultados de atletas brasileiros nos Jogos Pan-Americanos. Antes de mais nada, que fique claro: Pan é Pan e Olimpíada é outra coisa, outro nível. Mas nem por isso é preciso diminuir o valor de algumas conquistas. Tampouco aumentá-lo. O caso de Thiago Pereira, por exemplo. Quando se usa o exemplo do legendário americano Mark Spitz para dimensionar o tamanho do desempenho de Thiago, não se pretende comparar um e outro. Mesmo porque Thiago teve menos conquistas em revezamento no Pan de 2007 do que Spitz no de 1967. Assim como as marcas de Spitz foram fenomenais. E basta recordar que passaram-se 40 anos para que alguém, em números absolutos, fizesse o que Spitz conseguiu.
Não basta apenas gostar de esporte, é preciso dimensionar a real importância de uma competição como o Pan para quem é, de fato, o dono do mesmo: os atletas. Milhares de atletas passam por um rigoroso processo de seleção natural do esporte, até chegar ao nível competitivo regional, depois nacional e, finalmente, internacional. Em cada modalidade, são dezenas que atingem o patamar pan-americano de desempenho. Que dirá do patamar olímpico. Os campeões, então, nem se fale. Quem por um dia foi atleta, em qualquer nível de competição, sabe do que estou falando.
Uma coisa é política no esporte, outra é o atleta. E alguns resultados desse Pan são auspiciosos para o Brasil. Aqueles obtidos por Thiago Pereira e César Cielo na natação. A profusão de medalhas do judô. O bom nível de jogo do vôlei feminino, apesar da derrota na final. O ótimo padrão alcançado por garotas e rapazes no handebol.
Fora isso, há a festa que é uma competição como essa, mesmo com todos os seus defeitos, que não são poucos. Apenas a vontade de praticar esportes que o Pan está despertando em milhares de jovens e crianças já é um feito. Lembro que Janeth, nossa craque do basquete, botou na cabeça que jogaria um Mundial de basquete, uma Olimpíada, assistindo ao Campeonato Mundial Feminino de 1986.
No aspecto da promoção e organização de uma competição dessa magnitude, há aspectos positivos e negativos, como sempre. As falhas no beisebol e no softbol são imperdoáveis. Assim como a briga no judô que teve, sim, pisadas na bola de brasileiros e de cubanos. Mas o nível de algumas instalações, como as arenas do basquete e da natação, do estádio olímpico, é sensacional. Resta apenas que a utilização dos mesmos no futuro compense o investimento feito e os excessos acarretados.
O nível de segurança com que os Jogos estão sendo disputados também impressiona positivamente. Em Barcelona, por exemplo, nos Jogos Olímpicos de 1992, o número de furtos dentro e fora da Vila era parecido. E os Jogos de 92 foram considerados exemplares.
Algumas lições o público também precisa aprender, assim como algumas individualidades. Torcer não significa ofender, desrespeitar. Muito menos partir pra briga. E a vaia em esportes individuais é tremendamente cruel. O atleta não tem com quem dividir esse peso. Coletivamente, essa pressão se dilui. Mas com um atleta ali sozinho, é muita maldade.
Outro ponto positivo: o respeito dispensado à delegação cubana, apesar da rivalidade, e a ausência quase total de comentários alusivos a questões políticas. Não compartilho das idéias políticas cubanas, mas admiro profundamente o ideal esportivo e a educação de seu povo. Assim é que eu entendo que se faz esporte.
Enfim, apesar de tudo, o Pan está valendo - e muito - a pena, pelo menos para mim.

A CRISE AÉREA

Parece-me incrível como no objetivo de defender uma idéia, uma ideologia ou mesmo um governante, algumas pessoas simplesmente se transformam em torcedores. E não se torce com tragédias. Escrevi sobre a tragédia de Congonhas nesse espaço. E é impossível para quem pensa um pouco não ver a evidente culpa de governos anteriores e do atual nisso tudo, sem mesmo esperar pelas investigações. Ninguém entende mais de avião e de pista do que piloto, e pululam depoimentos dos mesmos sobre o perigo ofereceido por Congonhas. Basta lembrar que dias após a tragédia houve um deslizamento de terra na cabeceira da pista!!!!
O Brasil ostenta hoje o vergonhoso título de País a protagonizar duas tragédias aéreas num período inferior a um ano. Nesse espaço de tempo, o que foi feito para organizar, para regulamentar e para disciplinar o sistema aéreo no País? E ainda temos que suportar, horrorizados, uma foto de funcionários da Infraero sorrindo em frente ao cenário infernal de uma tragédia que vitimou 200 e poucas pessoas diretamente e outros milhares indiretamente. E tem gente que acha que tudo se resume a ser contra ou a favor de um Governo. Assim vamos mal.

segunda-feira, julho 23, 2007

O PERIGO DE CONGONHAS
NAS PALAVRAS DE QUEM
O ENFRENTA TODO DIA


Reproduzo o relato de um piloto trazido no excelente site JETSITE, do Gianfranco Betting, irmão do Mauro e um especialista no assunto aeronáutico. É para que gente que acredita que a tragédia não estava anunciada e que só não foi evitada por inércia de quem deveria mandar e uma enxurrada de incompetência.

Quais as reais condições da pista principal de Congonhas?Péssimas, impróprias para utilização em caso de contaminação. Outro trecho assinado pelo comandante Paulo Marcelo Soares não poderia ser mais claro quanto à este aspecto:"Na noite do dia 16, eu pousei em CGH. Não havia chuva, mas a pista estava bastante molhada. Estava com 90 pax no meu avião. Toquei na marca de 500, o avião aquaplanou e eu tomei susto. Um dos maiores sustos em meus 17 anos de aviação profissional. Eu gostaria muito, na verdade eu daria tudo para ter no meu jump seat os (ir)responsáveis por esta crise que se arrasta há meses. Queria que eles vissem o anti-skid trabalhando, a aeronave escorregando para a lateral da pista. Queria que eles vissem as luzes da cabeceira oposta chegando rapidamente, e nós lá, sem poder fazer nada. Queria que eles sentissem a tremedeira que eu e meu copiloto sentimos quando livramos a pista lá na taxiway "E" (a última). E, acima de tudo, QUERIA QUE ELES TIVESSEM A CARA DE PAU DE DIZER QUE A PISTA DE CONGONHAS NÃO TEM PROBLEMAS!!!!!! Não varei a pista naquela noite por sorte. Não foi por habilidade, foi pura e simples SORTE. Sorte que meus colegas no MBK não tiveram."

Quem quiser ler o material na íntegra, segue o link http://www.jetsite.com.br/2006/mostra_destacando.asp?codi=96

sábado, julho 21, 2007


BRASIL X CUBA NO PAN


Lá se foi uma semana de Pan no Rio e repete-se uma rivalidade que já é tradicional nas disputas pan-americanas: Brasil contra Cuba. No judô, no vôlei, no handebol, no basquete. Como já virou piada nesses tempos de 24 horas de esporte, para a Argentina o Brasil deixa apenas o Thiago Pereira, que já basta.
Cuba é uma potência esportiva, e o Brasil caminha para isso. Existe uma diferença enorme de propostas, de desempenho e participação entre as duas nações. O esporte de competição em Cuba é um instrumento para a divulgação do regime e tem como base uma premissa que considera uma honra ser atleta, sem contar a excelência em técnica e conhecimento de algumas modalidades, sem que isso represente ter muito dinheiro ou tecnologia. No Brasil, o esporte de competição é um poderoso intrumento de inclusão social e acaba cumprindo, ainda que em pequena escala, o papel que deveria ser de todos os Governos de fomentar a prática esportiva.
O atleta de sucesso em Cuba vira herói nacional e goza de privilégios a que o restante da população não tem acesso. O atleta de sucesso no Brasil ganha dinheiro, fama e conquista privilégios a que a maioria da população não tem acesso. E os diversos regimes de Governo que o País já teve sempre encontram uma maneira de usar o esporte como propaganda.
O que causa espanto é o fato de uma minúscula ilha ser uma potência olímpica se comparada ao Brasil, que tem e aplica muito mais recursos em esportes de competição. O primeiro passo para tentar entender a diferença é a participação. Cuba participa de uma gama maior de modalidades com chances de medalha. Levantamento de peso, boxe, judô, atletismo, tiro e outros esportes nos quais o Brasil tem pouca ou nenhuma tradição e número de praticantes. Há alguns buracos na estrutura esportiva cubana como, por exemplo, a natação, o futebol. O Brasil concentra sua força em um número menor de modalidades e, lentamente, começa a ampliar esse espectro. Handebol e natação crescem, o judô se reafirma, o vôlei é uma realidade e o basquete busca reencontrar seu rumo. Pela imensa tradicão histórica, o atletismo brasileiro deveria chegar com mais possibilidades ao Pan, afinal são mais de 50 medalhas em disputa.
O segundo passo é a excelência na formação do atleta, que passa pela simples valorização da prática esportiva pelo regime cubano. Pela lógica de que, além da glória, a vitória no esporte vende a imagem de um projeto vencedor, então faz sentido que o atleta seja parte de uma elite cubana. Assim como o sucesso financeiro e de mídia faz do grande atleta brasileiro um integrante da elite em seu país. E não vai aqui nenhuma análise política, apenas uma tentativa de entender as diferenças e consequências de cada projeto. O Brasil importou e importa know-how cubano para diversas modalidades, assim como muitos atletas e treinadores cubano, quando optam por deixar seu país, são extremamente valorizados no mercado esportivo. Em algumas modalidades, atletas e treinadores brasileiros também são requisitados mundo afora. As diferenças de cada país e de cada sistema político facilitam e dificultam essas movimentações. Um atleta brasileiro que sai do País bucando uma outra realidade não é considerado um desertor, o que é uma particularidade do regime cubano.
Em resumo, o sucesso cubano é fruto de uma idéia muito bem executada. O Brasil tem algum sucesso com algumas idéias muito bem executadas no esporte. Tem muito o que aprender com Cuba, desde que adapte seus ensinamentos à realidade brasileira.
Para um fã do esporte, contudo, sem entrar no mérito político, ver lendas como Alberto Juantorena, Teófilo Stevenson, Raul Diago e outros ex-atletas cubanos participando do projeto esportivo e vibrando comose fosse uma competição escolar, causa uma ponta de inveja. O esporte brasileiro só ganharia se a maioria de seus ídolos também participasse do processo de formação de novos atletas e fizesse parte de um grande time. No caso do Brasil, Oscar, do basquete, tem se revelado um torcedor sincero e apaixonado. Mas não faz parte do processo técnico ou administrativo sequer de suaq modalidade.

quinta-feira, julho 19, 2007

É PRECISO SABER PERDER
E APRENDER A GANHAR

Histórico não é nada menos do que mereça ser chamado o jogo que decidiu a medalha de ouro do vôlei feminino nos Jogos Pan-americanos do Rio. Brasil e Cuba fizeram uma partida de técnica, entrega, superação e reviravoltas. Tudo e mais um pouco do que se pode esperar de um espetáculo esportivo de alto nível. E, sem nenhum resquício de frustração, cravo que o Brasil, como time, é muito melhor que Cuba. Por que perdeu, então? Claro que há dezenas de teorias e explicações, mas nenhuma delas será mais completa do que a que reconhece a superioridade e a superação de Cuba. Ao ótimo time do Brasil acho que, fundamentalmente, faltou saber vencer. Resta a essa equipe muito bem montada e comandada por José Roberto Guimarães ser aprovada na lição final do esporte de alto rendimento: aprender a ganhar.
O Brasil teve o jogo nas mãos várias vezes, seja em pontos do jogo ou em situações psicológicas favoráveis. Mas se deixou levar, em especial a ótima ponteira Paula Pequeno, pelas eternas e batidas provocações cubanas. Paula fazia um jogo espetacular, de antologia, até que, ao ser pega num bloqueio no quarto set, respondeu às provocações cubanas e saiu um pouco do jogo. O Brasil ainda se equilibrou com Sheila, mas faltava Paula em alto nível, o que demorou a voltar a acontecer. No set decisivo, num lance fundamental, o time brasileiro parecia já partir para a comemoração de um ponto, com Fofão e Fabi se trombando na quadra e muitas jogadoras dando as costas para o jogo. Cuba, em vez disso, disputava todas as bolas, com defesas e coberturas praticamente impossíveis.
O craque Tande disse, na transmissão da Globo, que para ganhar um jogo é preciso, na medida do possível, não pensar que se está ganhando. Não sair da concentração, não pensar no que vem depois. É naquele momento único que um ponto, um torneio se decide. Há pesquisas sérias que apontam o seguinte: 70% dos resultados em esporte de alto nível são decididos no aspecto psicológico. Assim foi ontem com o vôlei feminino. Cuba fez o que sempre soube fazer. Um jogo algo quadrado, taticamente antigo, mas consistente, recheado de provocações. Só joga provocando o tempo todo quem tem o hábito de fazê-lo. As brasileiras não o têm.
Fora isso, valeu pelo espetáculo e pela certeza de que o futuro do vôlei feminino do Brasil é muito mais brilhante que o de Cuba.

Ronaldo, sim senhor.

Recebo uma pergunda sobre a presença ou não de Ronaldo, o Fenômeno, na Seleção Brasileira. Fecho questão com Luiz Felipe Scolari. Enquanto não aparecer ninguém melhor que ele - e não apareceu - a camisa 9 da Seleção tem dono, independente de peso.

quarta-feira, julho 18, 2007


TRAGÉDIA E IRRESPONSABILIDADE


Um gesto de alento e uma oração para as famílias que agora choram mais uma tragédia áerea brasileira. Mais um fruto da irresponsabilidade das autoridades brasileiras, mais um retrato de um país apodrecido, carcomido pela corrupção. Um país que torra milhões em reformas de salas de embarque, pedras de mármore e deixa a segurança em segundo plano. Um país em que atitudes vergonhosas de políticos nojentos são defendidas por alguns que consideram tudo um plano de quem quer derrubar o governo, uma atitude reacionária, de gente que é do contra. Será que essa gente dorme tranquila? Olha para seus filhos, amigos, parentes, sem um pingo de remorso?
Andar nas ruas, viajar de carro, ônibus e voar nesse País é sinônimo de perigo.
E ainda temos de ouvir a ministra-perua, esse monumento à estupidez, ao pseudo-intelectualismo pequeno-burguês, dizendo relaxa e goza. Tremo só de pensar no que ela diria agora, com mais uma tragédia.
O caos se instalou no sistema aéreo brasileiro e o governo não fez nada em um ano. Claro que pra quem tem avião 24 horas à disposição, pra quem tem o espaço aéreo fechado quando viaja, nada disso importa. Acontece que esse País precisa de gente voando para funcionar. Tem gente que vive disso, gente que ganha a vida trabalhando, de maneira honesta, sem laranja, sem empresa de fachada, sem lobista pagando conta de amante. Então, é irresponsabilidade, é uma vergonha o superfaturamento das contas da Infraero e as pistas dos aeroportos caindo aos pedaços, os controladores fazendo greve, a falta de estrutura, tudo é nojento.
É preciso mais que decretar luto de três dias, é preciso decretar vergonha na cara. Hombridade para fechar esse aeroporto e construir outro, porque a tragédia maior ainda pode acontecer.

segunda-feira, julho 16, 2007


A DUNGA O QUE É DE DUNGA


Não há um reparo a ser feito sobre a vitória do Brasil sobre a Argentina na final da Copa América. Foi incontestável, saiu barato para os vizinhos, e mostrou, finalmente, um time brasileiro jogando bem, ao seu estilo, competitivo e executando perfeitamente um projeto tático. Pode-se argumentar que a qualidade do futebol jogando pelo Brasil em toda a competição foi ruim - e foi. Mas a final compensou tudo isso.
Sem contar o título, que é dos mais importantes, já que a Copa América, pra mim, vale muito, o que fica dessa Seleção? Pelo menos alguns jogadores se credenciaram para fazer parte do grupo que disputará as Eliminatórias. Júlio Batista, Mineiro, Josué, Maicon, Gilberto, Daniel Alves, Vágner Love, Alex, Elano, até mesmo Diego, todos eles merecem ser chamados pelo que produziram na Copa América. Robinho e Juan são titulares em qualquer formação brasileira.
E Dunga? Bem, eu ouvi dele mesmo que ainda não sabe se quer seguir a carreira de treinador. Ele diz que tem uma missão a cumprir na Seleção. Em termos gerais, a missão seria reformular o grupo de jogadores e passar um pito nas estrelas. Nisso ele foi extremamente feliz, não se discute. O Brasil, sem alguns de seus principais jogadores, deu um chocolate na Argentina. O recado está dado. Agora é hora de deixar de lado castigos de estilo colegial e trabalhar num time forte e competitivo para as Eliminatórias. A base da Copa América, com um goleiro um pouco mais seguro e mais Ronaldinho, Kaká e Ronaldo, será um ótimo time.

TREMEDEIRA ARGENTINA

Uma coisa é o povo argentino, geralmente tão amável e simpático como qualquer outro da América do Sul, tirando um ou outro porteño metido a besta. Outra é o argentino falando de futebol. Sou admirador da bola que se joga aqui ao lado, de alta qualidade. Agora, não existe qualquer condição de se comparar com o Brasil. Não apenas pelo resultado de domingo, mas a Argentina, embora seja muito competente em futebol, está "lejos, muy lejos" do Brasil. E acrescentemos a isso o ingrediente da tremedeira. A seleção argentina, hoje em dia, se borra de medo do Brasil. Fora isso, tem alguns jogadores que pipocam absurdamente em decisões pelo selecionado de seu país. Ayala e Riquelme são o maior exemplo. Messi é um fenômeno. Mascherano tem mais mídia e panca do que bola, prefiro Mineiro e Josué.
E pra fechar, tem um sujeito chamado Estean Crustille, que vive enviando mensagens de cunho racista e preconceituoso a diversos blogs, inclusive este. Ele assina como argentino de Córdoba. Tenho dezenas de amigos argentinos, todos educados, admiradores do futebol brasileiro. O problema é que alguns deles (não os meus amigos) nutrem um enorme complexo de inferioridade em relação ao futebol brasileiro de seleções. Imagino o que estaria pensando o tonto do Esteban Crustille agora. Ele deveria, se quiser tirar um sarro, falar do Boca, esse sim uma glória argentina, da qual nossos clubes são fregueses mesmo. Agora, se falarmos de Seleção, não dá nem pra começar.

terça-feira, julho 10, 2007

OS GRANDES CLÁSSICOS DA AMÉRICA


Não existe um jogo como Brasil e Argentina. Há quem considere o futebol da Holanda o máximo, quem venere a Itália, babe ovo para a Alemanha e outras seleções européias. Eu prefiro um Brasil e Argentina, para mim o maior clássico do futebol mundial. Com essas duas camisas em campo, quase sempre estarão desfilando os maiores jogadores de suas épocas. É terreno proibido para grosso, para pernas-de-pau. Podem não ser todos exatamente craques, mas ninguém ali está fora de seu terreno.
Mas como falar do que, espero, seja a final da Copa América, sem citar outro encontro de grandes, entre Brasil e Uruguai. A maior contra a primeira potência futebolística. A Copa do Mundo nasceu no Uruguai e, quem sabe, comemore cem anos daqui a 23, novamente no Ururugai. É preciso respeitar a dignidade com que sobrevive o futebol uruguaio. São 3 milhões de uruguaios pelo mundo, é impossível concorrer com Brasil e Argentina. Ainda assim, metem medo em brasileiros e argentinos quando entram em campo. Por que lutam respeitando o adversário.
Certa vez entrevistei o grande Schiaffino, maestro do time campeão do mundo em 50. Nunca vi tamanho respeito por um time como o que ele tinha pelo Brasil. Nem por um povo como ele tinha pelo nosso. Quase me pediu desculpas por ter vencido em 50. Mas respeito não significa temor. Por isso o Uruguai ainda está aí, e ainda merece, também, ser respeitado.
No meio disso tudo aparece um convidado dos mais abusados. O México melhora a cada ano e vai enfrentar a Argentina quase em condição de igualdade. Quase porque Riquelme é argentino, e Riquelme faz a diferença. Acontece que Nery Castillo, que joga no México, nasceu no Uruguai...
É por essas e outras que eu adoro a Copa América.

sexta-feira, julho 06, 2007

A COPA AMÉRICA E
O MUNDIAL DE 82


Volto a escrever da sempre abafada Venezuela, um dia após a lembrança dos 25 anos da derrota do Brasil para a Itália na Copa do Mundo de 1982, que entrou para a história do nosso futebol como A Tragédia de Sarriá. Costumo ser voto vencido nas discussões que abordam o tema. Admirava, sim, aquela Seleção com gênios como Sócrates, Falcão e Zico, mas nunca fui fã incondicional. Na minha maneira de ver o futebol, a grande equipe do Brasil foi a de 1970, não apenas porque ganhou a Copa, mas por tudo que mostrou, por ter Pelé, outros grandes jogadores e muito mais equilíbrio que o time de 82. Isso, no entanto, é uma outra história.
Qual seria a relação entre 82 e esta Copa América de 2007? Alguns estudiosos e torcedores de futebol acham que a derrota brasileira em 82 mudou para sempre alguns conceitos. Entendem que o fracasso de um meio-campo de craques (Falcão, Sócrates e Zico) e um bom jogador (Cerezo) provocou um recrudescimento do futebol e inaugurou a era dos brucutus, os volantes ou cabeças-de-área cuja missão era apenas destruir, nunca participar da criação. Jogadores como Mauro Silva, por exemplo. Ou o próprio treinador da Seleção Brasileira atual, Dunga. Embora eu ache que Dunga tenha sido um jogador de bom passe e excelente posicionamento.
É uma boa tese, mas acho que está carregada de um certo ingrediente apaixonado. A Seleção de 82 talvez tenha sido a mais adorada por aqueles que entendem o futebol mais como espetáculo e menos como competição. Eu prefiro o equilíbrio dessas duas vertentes. Por isso fecho com o time de 70, que era extremamente moderno para a época. Reparem nos vídeos que até Pelé voltava um pouco quando o time perdia a bola, assim como Tostão e Jairzinho. O quarto gol da final contra a Itália surge de uma bola roubada pelo meio-campo brasileiro, que depois passa por uma jogada de alta classe de Clodoaldo e um gol maravilhoso de Carlos Alberto. Aquilo eu chamo de futebol moderno, bem jogado e espetacular.
O time de 82 adorava jogar, mas não sabia muito o que fazer quando não tinha a posse da bola, dava espaços demais ao adversário, confiando em sua enorme capacidade técnica para vencer os jogos. É meu único ponto de divergência com aquela histórica formação. Telê Santana, dez anos mais tarde, comandou um belo time do São Paulo que era muito mais competitivo, sem abrir mão do conceito básico de jogar bem o futebol.
Felipão, tão injustamente criticado e chamado de retranqueiro, montou um grande time em 2002, uma Seleção que ganhou a Copa vencendo todos os jogos e mostrando grande equilíbrio tático. Pena que no Brasil não se dê o devido valor a um time que tinha Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Cafu e Roberto Carlos no auge de suas formas. Assim como pouca gente dá valor à sensacional dupla de zaga de 1994, Aldair e Márcio Santos, talvez a melhor que já tivemos em um Mundial, ao lado da de 1974, com Luís Pereira e Marinho Peres. Mas para sorte de Aldair e Márcio Santos, Cruyff já não estava mais em campo em 1994.
O time de 2007 ainda não existe. Parte da premissa de um treinador cujo trabalho, na maior parte da vida, foi proteger sua defesa e combater o meio-campo adversário. Parece-me óbvio, portanto, que Dunga seja um iniciante treinador que prima pela cautela. E sempre ressalta em suas entrevistas que sua maior preocupação é não dar espaço, não deixar o adversário jogar. Pois era disso que ele vivia.
Para concluir, não acho que o futebol mais pegado, marcado e menos espetacular que se joga hoje seja consequência da derrota brasileira em 82. Porque, separados, Zico, Sócrates e Falcão continuaram sendo gênios do futebol. E por pouco não acertaram contas com a história em 1986. Talvez o que falte à geração de 82 é admitir que, mesmo sendo um grande time, naquele 5 de julho a Itália jogou melhor. Talvez também falte a Dunga beber um pouco na fonte do time de 82, entender que, apesar de derrotada, aquela equipe deixou coisas boas e que, se mescladas à competitividade inevitável dos dias de hoje, podem resultar muito interessantes.
No meio disso tudo temos o Robinho, um oásis em meio a uma Seleção calada, reticente, politicamente correta e formada por uma maioria de jogadores que pouco conquistaram em termos mundiais, em glórias internacionais, mas já acumularam (com todo o merecimento) dinheiro suficiente para algumas gerações. Outra diferença básica. Em 82, Falcão, Sócratez e Zico, que jogaram mais, muito mais que os 22 convocados para a Copa América, certamente não tinham acumulado um terço do patrimônio que hoje tem o time da Copa América. Talvez seja um problema do futebol atual. Hoje em dia a riqueza chega muito antes do sucesso.