AS MIL E UMA CARAS
DA CRISE NO FUTEBOL
Crise e futebol brasileiro nasceram um para o outro. A cada dia essa palavra aparece em destaque nos noticiários futebolísticos. Nos quatro cantos do Brasil a crise parece onipresente. Derruba treinadores, dirigentes, desemprega jogadores e funcionários.
Tem crise que surge do nada, ganha força e provoca um tremendo estrago. É aquela que costuma pintar quando um time vence uma partida e a estrela reclama ao ser substituída, desabafa ao primeiro microfone que encontra e está materializada a dita cuja.
Há aquelas silenciosas, tramadas em noites de insônia de quartos de concentração ou em jantares promíscuos de dirigentes amadores. Quando, enfim, chegam à tona, costumam causar mais estragos que as crises de ocasião.
Mas o que anda fazendo um baita sucesso é a tal crise financeira. Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Fluminense, Santos, Flamengo, para citar os casos mais conhecidos, todos convivem com alguns problemas de caixa.
É paradoxal que clubes de futebol populares, que arrecadam fortunas, como mostrou uma reportagem da Folha de S.Paulo nesta semana, tenham problemas financeiros - graves. Ao que consta, a maioria recebe em dia gordas cotas de patrocínio, de TV e ainda conta com o ingresso do dinheiro das bilheterias, de placas de publicidade. Pelo que arrecadam, o que é mais do que muitas grandes empresas do País, não deveriam estar como estão.
Exercitando um pouco a razão, parece fácil entender por que algumas contas não fecham. Vejamos o caso do Santos. São mais de 20 - isso mesmo, você leu direito -, mais de 20 pessoas na comissão técnica! Some-se a isso o fato de que Zé Roberto, Kléber, Maldonado, Fábio Costa e o técnico Wanderley Luxemburgo têm um peso de mais de milhão na folha de pagamento. Como o time ainda não fechou contrato com um novo patrocinador de camisa, algum dinheiro deixou de entrar. A grana do Robinho parece ter acabado. E isso porque o Santos arrecadou cerca de R$ 150 milhões em seu último exercício fiscal. Ou R$ 12,5 milhões por mês. Que o futebol custe a metade, o que para padrões brasileiros já seria um assombro, o Santos deveria ter, numa conta de guardanapo, sem sofisticação alguma, uns R$ 60 milhões em caixa. Não tem. E corta salários de lendas do clube que trabalham para o mesmo, como Zito, para conter custos.
O Flamengo é um caso especial. Poderia, como o Corinthians, ser um Barcelona, uma instituição brasileira que não dependesse nem de patrocínio e vivesse apenas da arrecadação de uns milhões de sócios pelo País. Mas luta contra a insolvência e dívidas monumentais. E, como sempre, se ouve falar de altos salários, exceção feita há uma temporada, a passada, de ajuste financeiro - em princípio - muito sério.
O Corinthians, isso para mim é fato, arrendou seu futebol para salvar a pele de uma administração endividada até o último fio de cabelo. O arrendatário foi embora e o clube continua procurando alguém para saldar uma dívida. Uai, ela não tinha sido paga? Como surgiu uma nova em tão pouco tempo? E para o Corinthians vale o mesmo raciocínio do Flamengo. Um pingo de competência e seriedade e talvez nem de patrocinador o time precisasse.
Caso muito, mas muito estranho é o do Palmeiras. Há um par de anos era o time com o maior patrimônio líquido do futebol brasileiro. Hoje está se afundando em dívidas e empréstimos e até jogador está para perder por falta de pagamento. O patrimônio, pelo que sei, segue lá. Dois clubes, um social e um de campo, um estádio antigo e em péssimo estado de conservação, mas em área nobre, assim como o bem frequentado clube social. Dois CTs e um grande número de imóveis em volta de sua sede social e de seu estádio. E ainda assim, está com uma grande dívida e carrega nas costas um inútil time B, que só aumenta sua despesa.
O Botafogo navega em águas turbulentas, tentando se recuperar, sem ter patrimônio a que recorrer, a não ser a grandeza de seu passado, de seu presidente e de sua torcida.
Parece-me claro que uma conta básica nesse caso não fecha nunca. Como pagar R$ 200 mil, R$ 500 mil de salário para um jogador de futebol no Brasil? E existem alguns casos assim. Se pagam e arrecadam dezenas ou até mais de uma centena de milhões de reais por ano, porque quase nunca estão bem financeiramente?
Não que isso seja absolutamente necessário. É muito melhor um time campeão com pouco dinheiro em caixa do que um time em oitavo com boa poupança. O lucro do futebol é o título, a história, a hierarquia.
Sobram alguns exemplos de recuperação e boa gerência, como Inter, São Paulo. Ambos já andaram muito mal das pernas, mas encontraram seus caminhos com boas idéias, bom marketing e bons times. Podem não estar nadando em dinheiro, mas seus jogadores sabem que podem contar com o dinheiro caindo na conta no dia certo. Talvez isso explique muito do sucesso dos dois últimos campeões da América.
Um comentário:
o Palmeiras é mais ou menos simples de explciar: Della Monica precisou remodelar muita coisa - CT, iluminação, algumas cadeiras e ainda contou com o louco do Palaia para agar 400 mil mensais para Leão, 350 mil para Gamarra, etc...
Os imóveis que o time tem viraram um problema, pois estão com impostos atrasados. Ao que parece, não podem ser vendidos sem a assinatura do Mustafá, que, obviamente, não assinará.
Acrescente mais de 100 jogadores que ainda possuem contrato com o clube e precisam receber mensalmente - segundo a CBF, só o Atlético-PR tem mais, com quase 120 - e as péssimas contratações, e pronto.
Precisa mais? Sem o tripé Della Monica-Palaia-Mustafá, o Palmeiras seria bem mais feliz. E rico.
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