A batalha das Arenas
Não deixa de ser interessante essa disputa entre os times de futebol envolvendo suas Arenas, o nome pomposo dado hoje ao que antes era conhecido como estádio ou praça esportiva.
É reflexo de um novo tempo no futebol e no esporte em geral, o tempo da busca incessante por inovações e recursos, por reforço no caixa e ampliação de negócios.
A briga é mais acirrada na cidade de São Paulo, por questões óbvias. A capital bandeirante é um dos maiores centros de negócios do mundo e, li em algum lugar, talvez o maior pólo de convenções e turismo de negócios do planeta.
Acontece tanta coisa em São Paulo, quase sempre simultaneamente, que parece sempre haver espaço para novos empreendimentos na área de entretenimento e negócios.
Essas novas arenas se enquadram nesse propósito. Não apenas para jogos de futebol ou eventos esportivos. Mas para grandes shows, convenções, apresentações de teatro, festas, feiras etc.
Por isso hoje os três grandes times de futebol da cidade travam uma espécie de disputa extra-campo por esse espaço.
O São Paulo tem o Morumbi e há muito tempo lucra com o aluguel para shows e eventos corporativos. O Palmeiras tinha o velho Palestra Itália, que gerava receita com muitos shows, mas tinha a limitação de tamanho. O Corinthians entra agora nessa disputa com a construção de seu estádio em Itaquera.
A demanda da cidade é tamanha que não é absurdo pensar em grandes eventos realizados simultaneamente nas três praças.
Mas há particularidades envolvidas.
No caso do Palmeiras, o clube e a WTorre, sua parceira na nova Arena, deram um grande passo ao assinar acordo com a AEG, empresa que administra arenas, promove shows e tem equipes esportivas em vários pontos do planeta. Também faz parte da disputa ter alguém que possa abastecer o espaço que vem sendo criado com uma linha de espetáculos e clientes.
Outro aspecto favorável ao espaço palmeirense é a localização privilegiada, de fácil acesso e com estrutura próxima de apoio, como shoppings que multiplicam a oferta de estacionamento. Além da modernidade do projeto.
Assim como o Corinthians ganha com o projeto moderno e atualizado de seu espaço. Mas deixa uma dúvida quando à infra-estrutura do local, que é distante do centro da cidade. Mas é próximo ao aeroporto e atende a uma região carente desse tipo de empreendimento. Tem o metrô próximo, mas o acesso via automóvel é bastante complicado para quem vive longe da Zona Leste.
O Morumbi ganha pelo fato de já ser um palco estabelecido e conhecido nesse tipo de evento, mas perde pelo fato de o estádio, mesmo que venha sendo constantemente modernizado, ser um projeto antigo e que necessita de uma série de adequações que, ao que parece, devem ser feitas. Outro ponto a se destacar é o acesso ao estádio, também complicado, longe de regiões como as Zonas Norte e Leste, a falta de área no entorno para ampliar estacionamento etc.
Creio que há espaço para que todos os clubes possam oferecer bons estádios aos times de futebol e boas opções para a área de entretenimento.
No Rio a situação é diferente. O Vasco pode lucrar muito se conseguir modernizar São Januário. Mas precisa resolver a questão do entorno, uma região perigosa e de difícil acesso.
O Engenhão pode oferecer ao Botafogo boa receita, mas também é preciso melhorar os acessos, já que o estádio parece ter sido encaixado a fórceps em meio a uma série de ruas minúsculas.
Em Minas o América terá no novo Independência uma excelente oportunidade de buscar recursos e crescer. Cruzeiro e Atlético podem pensar em conjunto e explorar o Mineirão, que pertence ao governo do estado.
Boa disputa se anuncia também em Porto Alegre, com Inter e Grêmio. Os tricolores investem em um estádio novo, e o Inter luta para reformar o seu palco. Resta saber se há mercado no que se refere a eventos para duas grandes arenas na capital gaúcha. Para jogos de futebol, tudo bem. Mas Porto Alegre teria demanda para eventos artísticos, feiras e convenções com dois espaços desse porte?
Temos o caso de Recife, onde o Náutico parece disposto a abrir mão dos Aflitos e utilizar o novo estádio que será construído para a Copa.
Em Curitiba a Arena da Baixada deve ganhar a concorrência do novo estádio do Coritiba, provavelmente no local onde está o Pinheirão, que foi mais um espetáculo de desperdício de dinheiro público.
4 comentários:
Caro Noriega o episódio do Hino em Belem já acontece em Salvador em todos os jogos do Bahia desde o ano passado na Serie B.Abraço
Fred
Nori, não sei se já esteve em Itaquera, mas eu sim, todo fim de semana, inclusive. E vamos falar a verdade que quase ninguém tem coragem de falar: Itaqurera não dá... Não é ofensa ao povo de lá (meus filhos moram lá, ok?), mas não dá. Nunca ninguém se perguntou por que não há casas de show, hotéis, hospitais de referência, restaurantes de primeira, etc., lá? As pessoas endinheiradas simplesmente não querem ir para lá. É ruim de chegar, ruim de ir embora, e o metrô, o povo sabe, em horário de pico, é um absurdo de cheio. Vejo só as notícias sobre a construção do estádio, mas projetos para desafogar o metrô linha vermelha e o acesso à ZL (principalmente a Radial Leste), nada.
Nori, duas considerações a fazer:
1. O termo 'estádio' ganha nova configuração na medida em que deixa de ser um local destinado apenas à prática do futebol e incorpora outras atividades como shows e afins. 'Arena' não me parece o termo mais apropriado, já que remete aos gladiadores romanos em seus dias de glória e carnificina,mas até aí não faz a menor diferença
2. O que verdadeiramente incomoda é o fato de um país como o nosso, repleto de carências e deficiências, voltar seus recursos para a construção de estádios, amealhando o dinheiro público e alimentando a máquina corrupta movida por políticos e empreiteiros. É uma vergonha, sobretudo se considerarmos as prioridades para as quais deveríamos estar voltados.
Abraço!
Com raras exceções, a mesma imprensa que discursa favor da seriedade no futebol, que diz combater cartolas como algumas figuras tradicionais que conhecemos fecha os olhos e aplaude o favorecimento explícito a um clube que consegue seu estádio graças a generosidade de autoridades que buscam votos.
São programas especiais, reportagens e publicidade de todo o tipo festejando a conquista e tratando do caso com a mesma indiferença que foi dada ao caso do mensalão. Tanto o Mensalão como o Itaquerão são coisas do dia a dia, que todos devem se acostumar.
Tudo como se a obra fosse a mais normal do mundo. Ao contrário disso, quem constrói seu patrimônio com recursos privados já foi até motivo de chacota e ironia em reportagem de televisão, como fez o Globo Esporte no meio deste ano.
Não toda, mas a maior parte da imprensa esportiva perdeu toda a autoridade moral que ainda podia lhe restar para criticar qualquer coisa do futebol brasileiro ou de seus cartolas. Uma parte concorda, apoia e incentiva e outra não fala nada para não perder seu emprego.
Mas todos eles são profissionais, equilibrados, coerentes, o restante é apenas torcedor que se expressa por emoção. Não é assim que costumam dizer para sair pela tangente e se esquivar da realidade?
Marcelo
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