JOGAR NA ALTITUDE É UM DIREITO
DE QUEM NASCEU E VIVE LÁ NO ALTO
O Palmeiras atropelou o Potosí e praticamente garantiu sua passagem à fase de grupos da Libertadores. Terá que enfrentar os temíveis 4 mil metros de Potosí no jogo de volta. O que reanima a discussão sobre a realização de jogos em cidades que fiquem acima de 2,5 mil metros do nível do mar. Eu defendo o direito que os povos e times dessas cidades têm de jogar futebol. Pelo princípio da universalidade do jogo, que faz do futebol o esporte mais popular do mundo. Não se pode simplesmente impedir que se jogue futebol em Potosí, na Cidade do México, em Oruro ou La Paz ou Quito. Opinião pessoal, que busco avalizar com pesquisas e citando artigos científicos.
Como, por exemplo, uma pesquisa citada pelo jornal boliviano La Razón, em junho de 2007. O estudo, chamado "La Pelota No Dobla: Altitud y Resultados en el Fútbol Sudamericano, é de autoria de três economistas do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Fidel Jaramillo (equatoriano), Carlos Scartascini (argentino) e Gabriela Andrade (equatoriana). Entre 1996 e 2006 os economistas analisaram os resultados de 252 partidas realizadas pelas Eliminatórias Sul-americanas para a Copa do Mundo. De acordo com o que pesquisaram, obtiveram os seguintes números:
- 59 partidas foram realizadas em cidades situadas em grandes altitudes.
- destas, 33 foram vencidas pelas equipes locais, aproveitamento de 56%
- o percentual de aproveitamento das equipes que jogam em cidades situadas em locais em que a altitude não interfere no desempenho atlético foi de 57%.
A pesquisa também cita o caso do Equador. A seleção nacional equatoriana manda a maioria de seus jogos na altitude de Quito. Como mandante, o Equador tem aproveitamento de 73% e fica em quarto lugar na média de aproveitamento, à frente de países como Uruguai, Colômbia e Chile. Como visitante, sem o apoio da altitude, o Equador ocupa o quinto lugar em aproveitamento, apenas uma posição atrás. Ou seja: importa mais a qualidade do futebol do que a altitude.
Também há um estudo na Universidade de Oxford que aponta perda e ganho de desempenho na altitude em jogos de futebol. Segundo o estudo, feito com base em 1.460 jogos do arquivo da Fifa num período de 100 anos, um time baseado em grandes altitudes vê suas possibilidades de vitória subirem de 53% para 82% quando recebe uma equipe que costuma jogar ao nível do mar.
Outro artigo, que já citei anteriormente aqui no blog, foi publicado pelo jornal El Deber. O médico Jorge Flores Aguillera, que estuda o tema da altitude no futebol há décadas, cita argumentos para derrubar a tese da proibição de jogos no topo do mundo. A conclusão básica da pesquisa de Aguillera é de que a altitude não afeta a saúde e, sim, os resultados. Eu, que não sou cientista, acredito que jogar às 15 horas em Manaus ou numa tarde ensolarada de fevereiro no Rio de Janeiro também afeta os resultados e pode, sim, afetar a saúde.
O estudo de Aguillera aborda 2.748 partidas de futebol profissional na Bolívia, a partir de 1977. A conclusão médica foi de que não houve relatos de danos ao organismo nos aspectos respiratório, cardíaco, vascular cerebral e também no que se refere a desidratação. Sobre os prejuízos no desempenho físico, estão citados no estudo os seguintes:
- diminuição da capacidade aeróbica (resistência) e, principalmente, anaeróbica (reação, velocidade)
- aumento da frequência cardíaca
- acumulação de lactato, que provoca alcalose respiratória (A alcalose respiratória é uma situação em que o sangue é alcalino devido a que a respiração rápida ou profunda tem como resultado uma baixa concentração de anidrido carbónico no sangue. Uma respiração rápida e profunda, também chamada hiperventilação, provoca uma eliminação excessiva de anidrido carbónico do sangue. A causa mais frequente de hiperventilação, e portanto de alcalose respiratória, é a ansiedade. As outras causas de alcalose respiratória são a dor, a cirrose hepática, baixos valores de oxigénio no sangue, febre e sobredose de aspirina).
A conclusão final do estudo é que se pode jogar na altitude, desde que com uma adequada preparação física, sociológica e técnica.
Os debates seguirão. Eu acho que o correto seria dar mais tempo de preparação para equipes que precisam jogar em grandes altitudes, adaptando o calendário. Nada de outro mundo, mas que interfere em questões políticas e comerciais que são, em última análise, o que realmente faz girar o mundo da bola.
Um comentário:
Grande Noriega! Na conclusão a chave para o sucesso: o tempo de adaptação! Foi assim que o Brasil voou em campo em 1970, pois teve um longo período de adaptação e nem sentiu a altitude! Belo post!
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