terça-feira, novembro 25, 2008

SANTA CATARINA: A TRAGÉDIA
ANUNCIADA DE UM PAÍS PODRE



Santa e Bela Catarina. Esse era (talvez ainda seja) o slogan turístico desse pequeno, belo e carismático estado brasileiro. De gente simples, acolhedora, guerreira, que construiu um dos melhores exemplos de trabalho e miscigenação deste País. A mistura do sangue e da cultura de brasileiros, açorianos, alemães, italianos e outras raças faz deste chão um pedaço do Brasil que aprendi a admirar em muitas viagens que para lá fiz.
Por isso dói especialmente em mim ler, ver e ouvir as notícias da tragédia anunciada das enchentes em Santa Catarina. Por que em 1983, portanto, há quase 26 anos, o Estado foi vítima de algo parecido, em especial a região de Blumenau e do Vale do Rio Itajaí. O que foi feito desde então? Aquele monte de promessas eleitoreiras e demagógicas. A população que vive em áreas de risco aumentou, já que neste país programas habitacionais são mais uma forma de se roubar o cidadão. O rio Itajaí subiu 11 metros. O que foi feito para domar esse fenômeno da natureza nesse período? Para retirar de áreas de risco a população ribeirinha ou de encostas?
Santa Catarina é dependente de uma estrada horrorosa, a BR-101, que rasga o estado de Norte a Sul. Há séculos os governos se sucedem em promessas de ampliação. Passei por ela, de Floripa a Ciriciúma, há alguns dias. É um pandemônio de engenharia. Há trechos duplicados de um quilômetro em meio a dezenas de quilômetros de pavimentação esburacada, sem sinalização, curvas mal projetadas e a barbárie dos motoristas.
O relevo acidentado da região, que confere belezas ímpares, serviu de abrigo a favelas e construções irregulares para suprir a ausência do Estado como provedor de programas de habitação popular. O morro desce rumo à tragédia anunciada.
Durante os meses de seca o que foi feito, ano a ano, para esperar as chuvas? Desde que me entendo por gente ouço falar das tempestades em Santa Catarina, dos verões chuvosos. Testemunhei alguns. E ano a ano a procissão de promessas. Num Páis abençoado por Deus mas podre pela natureza humana da gente que o governa, estamos vendo o espetáculo do abandono, de famílias e patrimônios destroçados. Melhor seria, em vez de decretar estado de emergência, promover o estado de decência e desinfetar essa nojenta classe política brasileira.
A tristeza e o desespero tomam conta de Santa Catarina às véspera de um verão que poderia ser de alegria, de turistas lotando as praias e serras. Mas será o verão de mais um doloroso recomeço, de limpar a lama e reconstruir a vida. A lama da natureza é possível limpar. A lama do ser humano.....

6 comentários:

Robert Alvarez Fernández disse...

Maurício, de total acordo com suas palavras, não me ocorre complemento a ele....apenas talvez um comentário que, em 1.a análise, possa ter pouca correlação : o voto continua obrigatório...talvez pra compensar a mediocridade dos candidatos; tá difícil de acreditar neste país mesmo.

Abraços,

Robert

.. disse...

Parabens Nori!!
Seu post é tudo o que queremos dizer a esses seres realmente podres.

abç.

Angelica

Marcelo Rayel disse...

Pois é, Nori...

Era garoto quando as águas quase varreram do mapa a cidade de Itajaí.

Anos mais tarde, visitei a região. Blumenau e Itajaí, em especial. Para as águas inundarem Itajaí, sendo uma cidade portuária, até se entende. Mas para inundar Blumenau, haja água.

E o mais duro disso tudo é exatamente o que você disse. 26 anos depois... E nada foi feito.

Vidas ceifadas nessa tragédia. Justamente no estado mais carismático e bem-quisto dos estados brasileiros.

Sentimento de indignação e repulsa ao poder público, esse sim, craque! Craque em pegar o dinheiro do contribuinte catarinense e jogar na lata do lixo!

Fé e coragem, Nori! Paz!

P.S. - Fico no aguardo de uma postagem sua falando de cinema. Fica aqui a sugestão.

Anônimo disse...

Falei para minha mãe, que me visitava em Porto Alegre no sábado, exatamente a mesma coisa. Perguntei pra ela detalhes da época, já que nem era nascido na época e ela me disse que só foi pior na época porque todo o estado tinha sido atingido na época, de leste a oeste. Mas em termos de destruição no litoral é igual.

Como diz o grande narrador aqui do RS, Haroldo de Souza: isto é profundamente lamentááááááável.

Abraços, Nori

Emerson disse...

É...

A coisa vem de longe, ainda antes de 83, pelo que lembro de ver na Manchete e Fatos & Fotos.

As serras fluminenses... Todo ano o mesmo drama, com outros atores.

No começo desse ano levamos minha cunhada para Blumenau, onde operou o pé em uma emergência, depois de acidentar-se em Bombinhas.
Minha mulher ficou apaixonada pela cidade, de fato muito bonita.
Conhecemos pessoas legais, que nos apoiaram na necessidade, e agora não sofremos por elas, que estão bem, mas pela cidade e pelas pequenas cidades do Vale.

Mais do mesmo, uma vez mais.
Infelizmente.

Anônimo disse...

Ola, Nori...
Acho que o brasileiro é muito grandioso...
Somos um país pobre, de 3° mundo e temos problemas estruturais...
Mas a natureza é assim, se desse uma chuva desse tipo (coisa que acontece de 50 em 50 anos (?), de 100 em 100 anos (?)), cidade nenhuma do mundo suportaria... Isso também acontece em países ricos e de 1° mundo (como em New Orleans - nos EUA)...
Imagina só se toda cidade do mundo fosse superdimensionada para eventos "raros", ainda mais um país pobre como o nosso, que nem malha ferroviária tem!?
Se tem um culpado é a natureza!? E cá entre nós não é hora de achar culpados, mas de ajudar, com roupas, alimentos, dinheiro, fé e no que for possível...
Um abraço, Nori...