AFINAL, SOMOS O PAÍS DO
ETANOL, DO PRÉ-SAL OU
DA NOVA LEI DE IMPRENSA?
Tudo bem que o Brasil nunca foi um País fácil de entender. Mas até outro dia éramos a terra do etanol, o combustível do futuro, limpo, ecologicamente correto, alternativa prioritária ao petróleo. Até Bush filho veio ver por aqui que o álcool pode ter outras utilidades que não aquelas que ele conhece bem.
Repararam que agora não se fala mais em etanol? Os discursos do presidente Lula mudaram de tema. Sai o combustível verde e entra o ouro negro do pré-sal, o petróleo que o Brasil vai extrair sabe-se lá quando e a que custo. O que fazer com o etano, com os 30 anos de pesquisa, investimento? Ou o presidente foi seduzido pela brincadeira do amigo Hugo Chávez, que o chamou de sheik do petróleo?
Não somos bobos, e sabemos, todos, que uma foto com as mãos sujas de óleo, ao lado da primeira-candidata Dilma Roussef vale muito em ano eleitoral. Que as promessas ao estilo "Brasil é o País do Futuro" descem bem temperadas com petróleo e os dividendos que ele trará, com certeza. Duro mesmo é ver que antes de o petróleo jorrar já se falava em nova estatal. Afinal, em ano de eleições, não interessa o partido, pouco importa a ideologia, no Brasil o que vale é arrumar um empreguinho público em troca de votos e favores.
O que eu não consigo entender, e como existe gente muito mais capaz do que eu em compreender a política aí fora, por favor, me expliquem: qual é o projeto desse País? O que se espera do Brasil daqui a 20 anos? A bonança econômica mundial passou, tiramos nosso proveito, milhões passaram a consumir, mas como fundamento, ficou o quê? Ainda pagamos impostos absurdos, temos medo de sair às ruas quando escurece, vemos compatriotas morrerem assassinados em portas de banco, cidades inteiras serem dominadas pela criminalidade. O Governo, aliás como todos os outros, continua gastando mais do que arrecada e os escândalos se sucedem, sem dar bola para ideologias.
O que mais me assusta nisso tudo é ver o presidente Lula defender mudanças na Lei de Imprensa. Justo ele, que na hora do aperto da sujeira dos anos 70, sentiu na pele o que era a censura e gozou do pouco que se conseguia, aos poucos, escapar dela. Lula foi adotado pela classe jornalística em suas várias campanhas eleitorais. Os broches do PT vestiram repórteres, fotógrafos e editores pelo Brasil afora. Por que Lula era uma esperança de liberdade, não de controle. De imprensa livre, não de censura.
Quantas vezes em seus discursos o então sindicalista não usava temas que a imprensa levantava a duras penas para criticar o sistema então vigente? Agora que virou sistema, Lula não tem o direito de querer cercear o direito da imprensa de investigar, mostrar os podres do seu e de todos os Governos.
Principalmente porque ele só virou o Lula que hoje preside o País porque houve uma imprensa que lutou muito quando não era livre. Do alto de sua bela biografia, Lula não pode se deixar levar pelos ventos retrógrados que sopram da Venezuela e nem se deixar seduzir pela diretriz de imprensa adotada em Cuba. Quem publicar errado, que seja processado dentro da Lei. Quem publicar certo, contra ou a favor do Governo, que o povo tenha o direito de ler, ver e ouvir e decidir por sua conta. Por que como disse o grande Joseval Peixoto hoje, no Jornal da Manhã, a notícia não pertence ao Governo, ao repórter, ao editor ou ao dono do veículo. A notícia é do povo.
12 comentários:
Maurício, vc tocou numa questão importantíssima e que é resumida na seguinte frase: quer conhecer um homem? Dê poder a ele.
Abraço.
Caro Nori,
gostaria de saber sua opinião sobre o tipo de jornalismo praticado hoje em dia pela Revista Veja e órgãos similares.
Ao criar essa denúncia do grampo e não apresentar a gravação ou qualquer documentação comporbatória você não acha que ela, mais do que ninguém estica ao limite da irresponsabilidade o direito de proteção da fonte e com isso prejudica toda uma comunidade de jornalistas que usam fontes secretas de modo responsável ?
Digo isso porque acho fácil culpar o governo mas me parece muito mais difícil entender que parte da culpa pode estar nos seus próprios colegas de profissão.
Maurício, peço licença para trazer um dado, a meu ver, terrível e que ajuda a responder sua pergunta : saiu na Folha hoje que 84,5% das crianças que não sabem ler estão matriculadas na escola e que os professores são a favor de punições severas aos alunos pois "são agredidos verbalmente em classe". Respondendo, somos um país onde a educação pública é uma fábrica de analfabetos, terreno fértil para o desqualificado discurso populista de sempre; quanto à lei de imprensa, não nos enganemos, os que lutaram contra a ditadura apenas queriam trocá-la por outra, pela deles, taí uma amostra, por enquanto grátis.
abraços a todos,
Robert
Prezado Eduardo, penso da seguinte maneira: a Veja tem sua linha editorial, seu compromisso noeliberal de direita, como outros veículos abraçam a causa governista, caso da Carta Capital. Agora, daí a achar que uam revista com um patrimônio histórico como a Veja invente gravações. Revelar a fonte não é obrigação, tudo depende da reportagem, das condições da investigação etc. O jornalismo investigativo também é de concessões e negociações complicadas. A mesma revista denunciou situações do velho SNI e agora está trazendo à tona situações que envolvem a ABIN. Ao que me parece, a questão dos grampos é um fato, não uma invenção.
Abs
Sábias palavras, Álvaro.
Abs
Professor Robert, nossa tragédia é o desprezo que as pessoas e o poder têm pela educação. Mesmo nosso presidente, com sua bela biografia e hoje todas as condições para tal, parece jamais ter se interessado por estudar. Já imaginou que exemplo ele seria se estivesse estudando?
Abs
Noriega,
Dizer que a Carta Capital abraça a causa governista é, com certeza, uma opinião dos neoliberais de direita.
A Carta Capital não tem posicionamento favorável ao atual Governo então? E se tiver, problema dela. Cada um abraça sua causa. Se eu fosse, caso que não sou, neoliberal de direita, algum problema? Cada um escolhe seu caminho. Carta, Veja e eu preferimos não ficar no (des) conforto do anonimato, pelo menos.
Caro Noriega,
A Veja que existiu outora não é a Veja de hoje em dia. Aquele era um veículo jornalistico, essa é apenas um panfleto.
Minha colocação anterior vai no sentido de que fico sentindo falta de ver indignação dos bons jornalistas com práticas que nada tem a ver com o que se ensina na faculdade de jornalismo ou comunicação social, como dar espaço os dois lados de uma disputa, por exemplo.
Eu agora lhe pergunto, voce crê honestamente que o nível do jornalismo praticado por Veja e CartaCapital são iguais, apenas com sinal trocado ? Eu não.
CartaCapital é um veículo que tem sua linha (assim como todos os outros, uns mais declarados outros menos) mas pratica jornalismo. Veja já perdeu qualquer compromisso com notícias e fatos.
Abraços,
Eduardo
Amigo Eduardo, obrigado por mais uma mensagem. Captei seu ponto de vista. Acho que independência em comunicação, 100%, nunca existirá porque os veículos têm donos e os donos têm muitos interesses. A regra, talvez, fosse que a empresa mais independente economicamente fosse a mais independente jornalisticamente.
A Veja de hoje é muito pior como revista que aquela que eu assinava há dez anos, por exemplo. Tanto que hoje compro uma semana uma revista, noutra semana outra.
A questão dos anúncios do Governo em algumas publicações me faz crer que existe algo por trás de muita coisa, como sempre existiu e sempre existirá. Não sei se é panfleto, mas que para mim a Carta Capital lulou, ela lulou.
Abs e volte sempre.
Amigo Nori,
Uma coisa não invalida a outra e a criaçaõ de uma estatal nesse caso é uma forma de impedir que gente de fora faça a farra habitual.
Se o governo erra, como todos os outros, não é nessa área.
Basta ver o que a imprensa mundial vem publicando sobre Lula a respeito disso.
Deixe de preconceito.
Preconceito, eu? Longe disso. Só vou guardar tudo isso e ver se teremos mais uma estatal para distribuir cargos ou o pré-sal servirá para outra coisa.
Em tempo: a Venezuela tem uma estatal para o Petróleo que virou exatamente isso, o cabidão de empregos de um país. Isso ninguém em disse, eu constatei em um mês na terra de Bolívar.
Abs
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