Mais uma semana passou, recheada de jogos de futebol repletos de vontade, suor, dedicação, preparo físico exemplar.
Mas onde foram parar os talentos, o bom toque de bola, a matada perfeita, a técnica apurada, a habilidade? Cadê o drible, o lançamento, a enfiada de bola?
Não que se trate de saudosismo. É apenas uma constatação. O futebol que se pratica no Brasil vive uma crise técnica sem precedentes.
Como bem definiu o Muricy, que manja muito de futebol, é uma correria danada. Os caras correm para caramba, tentam se superar, mas os fundamentos básicos foram deixados de lado em algum lugar do passado.
Não vou perder tempo com a busca por culpados, apontar o exato momento em que deixamos de ser referência.
Pouco importa se o Brasil vai ou não ganhar a Copa do Mundo. Isso pouco interfere na qualidade do futebol praticado. Ganhamos em 94 e 2002 e não houve evolução. O centroavante titular para 2014 era o terceiro reserva de 2006. São oito anos e não apareceu mais ninguém nesse período. Nada contra o Fred, pelo contrário. É o melhor dos centroavantes que temos em atividade frequente.
O que só ressalta as burradas que o Adriano fez na vida. Porque em forma ele seria o nove titular, na moleza.
Mas voltando ao tema principal, a pergunta que eu me faço e lanço para os que me dão o prezar da leitura, é se haverá alguém capaz de romper esse paradigma de mediocridade? Teremos um treinador ou um clube, uma diretoria que será capaz de investir num projeto em longo prazo de mudança de mentalidade futebolística? Como fez o Barcelona nos anos 70 ou a Alemanha há uns 15 anos?
Temos treinadores extremamente capacitados para tal. Mas eles estão presos à roda viva, ou seria roda da fortuna? Eles sabem que se mudarem o estilo de jogo podem perder jogos, torneios e o emprego. Prezam a competitividade. Querem ser campeões e se valorizar. Não que estejam errados, mas também serão engolidos pelo processo com o correr do tempo.
Se o jogo hoje é correria, chutão para a frente, competitividade, redução de espaço e marcação, o que aconteceria com quem ousasse jogar diferente? Não precisa voltar aos tempos de futebol romântico e cadenciado, claro. Os jogadores hoje são mais rápidos, mais altos e mais fortes. Ainda assim, a melhor seleção que apareceu no planeta bola nos últimos seis anos, a Espanha, é recheada de baixinhos, todos bons de bola.
Que dizer dos alemães, outrora chamados de cinturas duras, bitolados? Estão aí craques como Schweinsteiger, Thomas Mueller, Lam, Ozil, jogando o fino da técnica.
Acho que falta coragem aos treinadores brasileiros que estão no topo da cadeia futebolística para romper com esse estado de coisas. Todos estão ricos, muito bem de vida, garantiram o sustento de netos e bisnetos. Será que algum deles (embora todos estejam cientes da realidade) vai ousar quebrar a regra vigente?
Os dados estão aí. Estádios vazios, audiência caindo. Claro que o mau futebol não é o único fator, mas certamente contribui.
Dia desses estava passeando pelo clube do qual sou sócio e vi uma molecada feliz da vida jogando bola. Eram uns doze. Apenas um vestia camisa de clube brasileiro. Outro usava a da Seleção. Os demais estavam com camisetas de times ou seleções europeias.
Nossos grandes treinadores são muito corajosos para bradar suas conquistas em entrevistas coletivas, distribuir algumas patadas e apontar erros de categorias de base ou de seus antecessores.
Gostaria que demonstrassem a mesma coragem para romper com a mediocridade e devolver um pouco de magia e alegria ao futebol que deu tanto a eles.
Ou seria sonhar mais um sonho impossível?
Um comentário:
Culpa de um jornalista pretensioso que atende pelo apelido de Juca que criou a Lei Pelé e extinguiu o futebol no interior.
Uma praça como Ribeirão Preto era para ter times vivendo a seca que vivem o Botafogo e o Comercial?
Nem vou mencionar outras praças, outrora prósperas e com times ricos e preparados para disputar qualquer campeonato, porque é chover no molhado.
Juca e seguidores acabaram com os campeonatos regionais, com os clubes do interior do Brasil e já não existe mais quantidade para tirar a qualidade. Essa é a crise!
A TV aberta, a quem interessa um campeonato longo e único, que dure o ano todo por conveniência de sua grade de programação é a grande cúmplice desses cronistas que se jactam em importantes, mas que não conseguem enxergar um palmo diante dos olhos, de tanta miopia.
O fortalecimento do futebol brasileiro não será possível mediante a elitização como querem muitos cronistas, mas, exclusivamente se retornar as suas raízes.
Falta quantidade de jogadores para que se possa tirar a qualidade.
Para extrair nata, é necessário, primeiro, que exista leite!
O resto é teoria ou conversa fiada!
Regionais ou interregionais fortes já, com atividade para os clubes de janeiro a janeiro, antes que morram todos os clubes, o próprio futebol e o que ainda sobrou da crônica esportiva interiorana
(Alcides Drummond)
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