Sou, por princípio, contrário ao patrocínio de esporte de alto rendimento pelo Governo ou qualquer uma de suas empresas. Acho que o Governo e suas empresas devem, sim, investir em esporte. Mas no esporte de base, de formação, educação. É apenas e tão somente um ponto de vista de quem foi atleta na juventude e hoje trabalha com jornalismo esportivo.
O esporte e os feitos dos grandes atletas e equipes sempre foram sedutores para a política. Em especial para os governos de tom populista, sejam eles de direita ou de esquerda, ou de ideologia alguma.
Reis, ditadores, presidentes eleitos, golpistas, todos adoram tirar uma fotografia ao lado de uma taça, de uma medalha e de seus ganhadores.
Hitler tentou usar os Jogos de 1936 e se deu mal. Felizmente, o ditador nazista esqueceu de avisar Jesse Owens. No auge da Guerra Fria, os governos comunistas e os capitalistas adoravam travar batalhas ideológicas usando seus melhores atletas como garotos-propaganda.
No Brasil não é diferente. Os militares apostavam no sucesso da seleção de futebol para que o País não soubesse o que acontecia nos porões. Os governantes eleitos democraticamente após os anos de chumbo sempre se aproveitaram do sucesso dos atletas de alto nível para capitalizar politicamente.
Enquanto isso, neca de pitibiriba de projeto esportivo para o País. Seja ele de base ou de alto rendimento.
O que mais faz falta é a inserção do esporte nas escolas. A partir do devido reconhecimento da educação física e de seus profissionais. Não custa nada lembrar que recentemente o Governo Federal avaliou a possibilidade de desregulamentar a profissão de professor de educação física. Lamentável!
Hoje vemos uma forte presença de empresas estatais ou de economia mista ligadas ao Governo no esporte de alto rendimento, no topo da cadeia esportiva. Inclusive patrocinando times de futebol, um esporte rico, com forte penetração da economia de mercado e incentivo de outras fontes públicas, como Loterias.
Sigo com meu raciocínio que pode soar antiquado para propagandistas de sistemas de governo neoliberais de direita ou estatizantes de esquerda. Cabe ao Governo fornecer esporte de qualidade como educação e regulamentar a prática esportiva competitiva de base. Após a passagem para o profissionalismo, a história deve ser outra.
O processo é bem conhecido por quem tem conhecimento do esporte, seja ele básico ou complexo. Iniciação, aprendizado, aperfeiçoamento, treinamento e competição. Iniciação e aprendizado devem receber injeção de recursos públicos, porque é um serviço para o cidadão e a sociedade.
Aperfeiçoamento, treinamento e competição em alto nível podem contar com incentivos fiscais, sem dúvida.
Mas o investimento direto por parte do poder público no alto rendimento inverte a estrutura correta da pirâmide que considero ideal para sustentar um bom projeto esportivo e social.
2 comentários:
Muito Bom Nori! Concordo em gênero, número e grau! E se me permitir, vou um pouco mais além. País que não tem Políticas Públicas claras de Educação, não as tem também no Esporte. Sou Professor de Educação Física, Técnico Esportivo, e sei que carecemos de Esporte de Base. A Escola não deve ser formadora de atletas, mas sim de exercício de cidadania. Mas a Escola é o espaço mais democrático para a aprendizagem e a prática de atividades físicas e esportivas. Se a gestão da Educação, da Educação Física e do Esporte mudar sua atual visão distorcida para uma visão de médio e longo prazo, fazendo da Escola o berço para a formação de bons cidadãos e de praticantes de atividades físicas e esportivas, com a qualidade de nossa população amplamente miscigenada em alguns anos poderemos sim nos tornar uma potência esportiva, uma verdadeira potência olímpica. Claro, se perdermos um pouco a ligação escravista que temos com nossa monocultura esportiva-futebolística. Mas esta é uma outra estória!
mto bom o blog
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