terça-feira, setembro 06, 2011




Taça solteira procura

Oferecida, a recompensa para o campeão brasileiro de 2011 espera ser conquistada. Muitos galanteiam, mas ninguém chega junto

*coluna publicada hoje no Diário de S.Paulo

 Num luxuoso condomínio empresarial da Barra da Tijuca, no Rio, dorme a taça de campeão brasileiro de 2011. Sonhadora, romântica, ela espera ser conquistada por um time forte, vencedor, competitivo, que justifique a honra de tê-la nos braços na festa de encerramento, em 5 de dezembro, provavelmente.

 O problema da taça solteira que procura um dono é a absoluta falta de firmeza e personalidade dos pretendentes. O Brasileirão 2011 é um deserto de grandes times. Muita gente ameaça, promete, mas na hora de cumprir...
        
O caso emblemático é o ainda líder Corinthians. Já poderia estar preparando a lista de convidados para a festa, mas perde pontos preciosos e a cada rodada gasta quase tudo que conseguiu economizar no começo da temporada. Deu tanto mole que, abusados, São Paulo, Vasco e Botafogo estão ali, fitando a taça com olhos de cobiça. É verdade que nenhum deles com aquela pinta de Don Juan, mas todos com reais possibilidades de dormir na liderança já na próxima rodada. Como teve o Flamengo, outro time que inspira pouca confiança.

Por falar em confiança, acreditar no próprio taco, todas essas frases de efeito usadas no jogo das conquistas (também futebolísticas), no Palmeiras tudo isso parece miragem. O time dá a impressão de ter desaprendido a vencer. Ou será que mais do que isso não pode fazer mesmo? Fica sempre armando o bote, rondando, à espreita, mas aborta a missão, tal qual a famosa mosca de padaria.

 A disputa por essa donzela que é a taça de campeão brasileiro é um retrato do nosso futebol atual. Muita correria, pouca qualidade, pobreza de ideias. O discurso parece combinado de tão chato e previsível. Equilíbrio, desgaste, muitos jogos, falta de tempo para treinar e blábláblá.

Vai que aparece um pretendente abusado, atropela por fora e deixa pelo caminho os favoritos de plantão? Na procura por uma equipe que faça justiça ao título de campeã brasileira de 2011, nossa solitária taça pode até ser surpreendida por um abusado pretendente em desabalada carreira a partir de novembro. Afinal, até agora o medo de subir ao altar parece estar prevalecendo.

Sede de história

 Rogério Ceni é um profissional iluminado. Daqueles que têm sede de fazer história. Mais de cem gols marcados e agora chega à marca de mil jogos com a camisa do São Paulo. Chega bem, diga-se. Poucos atletas conseguem manter sua regularidade, principalmente aos 38 anos. Merece todas as homenagens.

Frescura demais
           
Pipocam nos grandes times paulistas histórias de jogadores de equipes adversárias e até do mesmo time que não se falam, que não se suportam e gostam de espalhar isso. Muita frescura para pouco futebol, na maioria dos casos. Comportamento de estrela de cinema e futebol de extra.

Agora vai?
     
Vou conferir as promessas de endurecimento do Ministério Público para cima das malfadadas torcidas bandidas. Já faz mais de vinte anos que escuto essa conversa e pouca coisa de fato acontece. Por que as diretorias de clubes têm tanto carinho por esse tipo de torcedor? Ou seria medo?

Nó Tático

Não tem como fugir de uma regra em esporte de alto rendimento. Mesmo nas modalidades coletivas, quem conta com o talento individual quase sempre leva vantagem. Um Giba no vôlei, uma Hortência ou Paula no basquete. Na hora do aperto, bola para eles, que resolvem.

Aí eu me pergunto: atualmente, no Campeonato Brasileiro, alguém faz a diferença? Neymar e Ganso não têm conseguido, Ronaldinho Gaúcho vinha fazendo e deu uma parada. Quem mais?

Por mais que treinadores adorem falar de táticas, apresentar números como posse de bola, finalizações etc. eu insisto com a tese de que um grande time de futebol se faz com gente que decide jogos. Um goleiro tipo paredão, um meia que ofereça gols aos atacantes que saibam fazê-los nos momentos determinantes.

Quem decide nesse Brasileiro muito equilibrado, mas de gosto duvidoso? Talvez não seja apenas coincidência o fato de a própria seleção brasileira estar carente dessa figura. Do jogador de referência não pelo posicionamento, mas pela postura. Do cara que cresce quando o jogo fica cascudo, que gosta do clássico, do grande momento, que se acostumou a decidir e não foge desse compromisso histórico.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns! Uma análise perfeita do que está ocorrendo no Brasileirão.
O time perfeito não existe, assim como o Principe Encantado, também não. Desiludi! Espero um final feliz para aquele que conseguir, apesar de tudo, manter para nós meros espectadores bons espetáculos, no gramado verde!