Ódio não será
a sua herança
Reproduzo aqui no blog o texto que abriu minha coluna de terça-feira no Diário de S.Paulo.
São tempos estranhos esses. Tempos em que torcedores um dia choram de alegria com a vitória do seu time, fazem juras de amor eterno, tatuam o distintivo na pele para toda a vida. Dias depois, esses torcedores pulam cedo da cama para destilar ódio contra os mesmos jogadores que eles juravam amar incondicionalmente.
Há um rastro de ódio contaminando o futebol brasileiro. O que era esporte, diversão, gozação sadia, está sendo transformado em sangue, ameaças, violência e radicalismo por um grupo de pessoas que acredita poder mudar o sentido da palavra torcedor.
Corintianos fizeram uma ação de guerrilha contra o ônibus do clube. O time ganhou o clássico contra o Palmeiras e esse grupo, que nem de longe representa o torcedor como um todo, declarou trégua, certamente achando que se impôs pelo terror.
Palmeirenses viram uma bandeira do Corinthians no alto de um prédio residencial e tentaram tomar de assalto o local para capturar o pavilhão inimigo.
Parece difícil de acreditar, mas houve um tempo, há uns 20 e poucos anos, em que palmeirenses e corintianos assistiam a um dérbi misturados em pleno tobogã do Pacaembu e tudo acabava bem, independentemente do resultado.
Vi isso com meus próprios olhos.
Essa gente que se fantasia de torcedor fanático não ama clube algum. Aliás, não amam, não têm essa capacidade. Devotam seu ódio ao que conseguiram desfigurar: organizações que nasceram para celebrar a alegria de torcer juntos por um time de futebol.
Fazem dirigentes e autoridades como reféns. Expulsam os verdadeiros apaixonados pelo jogo de bola dos estádios.
Nada acontece.
Que as futuras gerações possam recuperar a paixão pelo futebol, pelos clubes, e não façam do ódio sua herança, como vimos nos últimos dias.
5 comentários:
Obrigada, Nori, pela lucidez de seu tempo. Estou compartilhando, porque o que menos tenho visto são torcedores assim.
Meu sonho era assistir um jogo assim, como antigamente, tudo misturado!
Caro Noriega,
te sigo no Twitter, leio sempre seu blog... sou uma apaixonada por futebol. O grande problema de toda essa questão da violência é que as pessoas esquecem que futebol é lazer, diversão!!! Qd o Fluminense foi campeão brasileiro, fui trabalhar com uma camisa do time... teve um aluno que me ofendeu simplesmente pq ele torce por outro time... aí podem pensar, coisa de adolescente... não eu dou aula na UFRJ, na faculdade de Direito... imagina se o cara faz isso dentro de uma sala de aula, imagine o q ele é capaz de fazer dentro de um estádio com alguns doentes como ele... é lamentável... futebol pra mim só pela TV...
Oi Noriega, blz?
Parabéns pela qualidade dos comentários tanto no blog quanto nas transmissões do SporTV. Você é disparado o melhor comentarista esportivo do País hoje. Continue sempre com a sua transparência e com comentários independentes. Parabéns.
Aproveito para pedir tua autorização para colocar o link do teu blog em meu blog (htpp://edwin.blog.terra.com.br) e citar teus comentários, quando pertinentes em meus post, com os devidos créditos.
Abraços
Infelizmente o futebol tomou um rumo lamentável. Porém, é preciso lembrar que essa mentalidade dos torcedores tem uma parte de sua origem na postura de quem comanda o esporte e de quem divulga o esporte.
Não existe causa isolada para explicar esse comportamento, mas sim um conjunto de fatores.
Um deles é o comportamento da imprensa, talvez o mais difícil de ser consertado porque jornalista em geral se julga deus e não admite ser analisado, quanto mais criticado.
Minha observação é geral e não se refere a profissional A ou B. Apenas aproveito o espaço deste blog e o tema exposto para colocar a questão.
No caso específico dos clubes paulistas, especialmente do chamado "trio de ferro", li no começo desta semana a melhor e mais didática avaliação feita sobre o comportamento da imprensa em relação aos três times.
O jornalista Alcides Drumond, em seu blog OAV, publica um texto sob o título "A Imprensa não quer mesmo a paz no Palmeiras". Nesse texto ele consegue com muita clareza mostrar aos seus leitores qual a realidade das redações e como a imprensa trata os clubes. O comportamento descrito por ele indica a mentalidade que se implanta, uma mentalidade que espalha o favorecimento a uns e a perseguição a outros, incentivando as rivalidades ruins para o esporte. Logicamente, não é esse fator o responsável pelo que acontece. Seria muita ingenuidade afirmar isso, mas ele é mais um ponto que contribui para esse estado de coisas.
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