segunda-feira, junho 03, 2013



Maracanã



Lembro-me até hoje da primeira vez que fui ao Maracanã. Na verdade, fui ao Maracanãzinho, e acabei conhecendo o Maracanã.

Meu pai me levou com ele ao Rio para as transmissões do Campeonato Mundial Juvenil de Voleibol de 1977. O torneio foi o marco de arrancada para o sucesso do voleibol brasileiro, foi quando tudo começou. Um dia, antes de entrarmos no ginásio, meu pai me levou para conhecer o Maracanã.

É difícil descrever o impacto. Porque é algo gigantesco, que pulsa, que tem vida própria, emana uma vibração única. Ainda mais para um garoto de dez anos que respirava futebol 24 horas e só conhecia aquele colosso pelas imagens da TV.

Anos depois, o Maraca passou a ser um destino regular graças ao meu trabalho. Por pior que fosse o jogo, estivesse vazio ou lotado, o "Maior do Mundo" provocava espanto e admiração.

Certa vez, no ano 2000, o site em que eu trabalhava, o SportsJÁ!, organizou um jogo entre veteranos do Brasil e da Argentina, no Dia Nacional contra o fumo. Estiveram ali Zico, Dinamite, Renato Gaúcho, Goycoechea, Luque, Enrique, entre outros.

Estava batendo um papo com Leopoldo Jacinto Luque à beira daquele gramado que parecia interminável. Luque, um dos destaques da Argentina campeã de 1978, tem cara de bandoleiro de filme do Tarantino, mas é uma figura dócil, amável, típica do argentino do interior (ele é da província de Santa Fé).

Reparei que enquanto os outros jogadores aqueciam, Luque estava de jeans e camiseta.

- Não vai jogar? - perguntei.

- Não - respondeu. Minhas pernas já não deixam. Mas só de estar aqui e pisar nesse gramado já vale a pena - afirmou.

E aproveitou para emendar:

- Ah, você sabe onde anda o Paulo Isidoro? Esperava vê-lo aqui. Jogamos juntos no Santos. Mande um abraço para o Negrito. Ele jogava muito!!!

Esse é o efeito do Maracanã.

Algumas horas depois, jogo encerrado, goleada brasileira, estava eu, ao lado do colega Anelso Paixão, em pleno vestiário do Maraca, batendo papo com Zico, o Galinho de Quintino, estrela maior do estádio Mário Filho, que era colunista do nosso site. Privilégio para poucos ver o astro maior daquele palco em seu camarim.

Dia 16 estou escalado para comentar Itália x México pela Copa das Confederações, no SporTV. Será meu reencontro com o Maraca.

Que me lembre, a última vez em que lá estive foi no jogo final do Brasileiro de 2009, entre Flamengo e Grêmio. Talvez a memória me traia.

Mas confesso que estou ansioso para ver como está aquele velho conhecido.

Não me furto a dizer que a reforma saiu absurdamente cara, como todas as outras, e isso não pode acontecer.

Li relatos de gente que gostou e que não gostou.

A geral certamente fará falta, assim como as eternas cadeiras azuis das numeradas.

Mas o mundo mudou, é preciso mais conforto e segurança.

Claro que há muita coisa ainda a ser feita, mas não é apenas aqui. O que pega aqui é o preço sempre muito alto das obras.

Na Copa da África o Soccer City estava ainda em obras no dia da abertura, havia estádios cercados por lama gelada nos estacionamentos. Na Euro de 2012 o estádio de Gdansk foi utilizado sem que obras de acesso estivessem prontas, e os torcedores tinham que andar quilômetros ao relento, enquanto áreas enormes estavam interditadas e acumulavam material de construção.

Aqui não será diferente.

Espero que nesse reencontro o espírito do velho Maraca esteja presente, ainda que de roupa nova.

O Maracanã é a maior catedral ecumênica do futebol. É bom tê-lo de volta.

Nenhum comentário: