terça-feira, outubro 02, 2012



XÔ, INTOLERANTES!



Admito que cansei do clima que tomou conta dos nossos estádios e do assunto futebol em geral. A intolerância e a imbecilidade ameaçam tomar conta de um dos passatempos mais divertidos e relaxantes que inventaram, o jogo de bola.

Vi as cenas do que ocorreu em Curitiba, no jogo entre Coxa e Tricolor paulista. Presenciei o que ocorreu com um torcedor no Pacaembu, quando jogavam Corinthians e Sport, jogo que comentei.

Não se deve atribuir a uma massa torcedora o comportamento de meia dúzia de idiotas. Mas deve-se combater esse comportamento, porque uma dúzia de idiotas, infelizmente, tem o poder de conduzir centenas, milhares a protagonizar atos deploráveis. Esse tipo de atitude transforma uma multidão aparentemente pacífica numa turba sem controle.

Repito: não se pode atribuir o comportamento de alguns a uma torcida. Mas é preciso repelir alguns do meio da verdadeira torcida.

Nosso futebol vive um momento tenso, de alta combustão. A responsabilidade deve ser atribuída aos que fazem mau uso de todas as ferramentas e situações envolvidas.

Aos jogadores que optam pela má educação em todos os sentidos e preferem, em vez de tentar a melhor jogada, enganar juiz, adversário e a eles próprios com encenações fajutas e comportamentos de quinta categoria.

Aos treinadores que passam o tempo inteiro querendo apitar o jogo, pressionando a arbitragem e criando um clima insuportável à beira do gramado, apenas para ter no bolso a desculpa pronta em caso de derrota.

Aos jornalistas que fazem mau uso de sua profissão, procurando o texto barato, a polêmica vazia, fomentando o confronto desnecessário em busca de migalhas de audiência ou centenas de jornais a mais a serem vendidos.

Aos árbitros que, cegos pela exposição repentina e a suposta fama, escolhem o caminho mais curto - e errado - de elevar o narcisimo à enésima potência.

Aos dirigentes que não pensam antes de falar e provocam situações que podem fugir ao controle por causa de um discurso idiota, uma postagem irresponsável numa rede anti-social da vida.

Às autoridades que, com um olho na massa politica formada por gangues que tomaram de assalto o ato de torcer, se omitem e não atuam como deveriam.

Finalmente, ao torcedor que chama de paixão um comportamento xenófobo, intolerante, sectário e irracional, e que transforma o ato de exercitar o amor por um clube, por suas cores, em declaração de ódio e guerra a quem manifesta sentimento semelhante por outras cores.

Os estádios de futebol se transformam em barris de pólvora em poucos minutos.

A irresponsabilidade de muitos é a responsável pela vulnerabilidade de tantos outros.

É preciso uma ação cidadã em torno do esporte mais popular do País.

A questão envolve educação, comportamento, cidadania e respeito ao próximo. Temas que são negligenciados ultimamente, em todos os níveis. Da casa ao trabalho. Da escola à fila do banco.

Muitas tragédias aconteceram e poderiam ter sido evitadas. Muitas outras estão rondando as arenas esportivas. Ainda há tempo para evitá-las.

Resta saber se há vontade.

Antes que seja tarde.

3 comentários:

Thaisa disse...

Olá Noriega! Concordo com tudo o que relatou neste texto! Foi a mais clara e coerente análise que vi até o momento sobre esta "chatice" que está ocorrendo no nosso futebol por conta deste comportamento errôneo e abusivo destas pessoas que fazem parte do mundo futebolístico. Um abraço

Francisco J.Pellegrino disse...

Nori, são mais de 27 anos de governos democráticos e investimos bastante em saude,segurança e educação, avançamos muito e ainda discutimos os acontecimentos lá dos anos de chumbo, as nossas próximas eleições discutimos a influência das igrejas evangélicas no resultado final delas....não dá Noriega, vc conhece melhor o futebol pelo mundo e sabe que enquanto não dermos valor à liberdade, continuaremos consumindo as invasões do Carandiru....

Jose Paulo disse...

Boa noite Noriega. Como sempre você foi muito feliz no tema abordado e na colocação das suas idéias. Concordo com você. Para mim o maior problema ainda são estas minorias de torcedores bárbaros, que se acham donos dos estádios, ditando suas próprias regras e as impondo pelo terror. O que aconteceu com aquela menina no Paraná, deveria ser assunto de polícia. Mas como você bem colocou, as nossas "autoridades" se omitem em benefício próprio. Infelizmente a história mostra que somente após as grandes tragédias é que as "autoridades" resolvem agir de forma mais contundente. Basta lembrar que na Europa, os terríveis hooligans só começaram a ser banidos dos estádios após a aquela tragédia na Bélgica em 1985, onde 38 pessoas perderam a vida.