COMO É QUE O SANTOS FOI SE
METER NESSA SINUCA DE BICO?
Imagimemos a seguinte situação: um torcedor do Santos deixou o Brasil em 2004 para viver isolado do futebol, morando em algum rincão da Nova Zelândia ou do Nepal, sem acesso a Internet, rádio, TV, nada. De repente, terminado o período sabático, ele retorna ao Brasil em agosto de 2008. Citando o famoso personagem do Jô Soares, o santista pediria: "tira o tubo!"
Em 2004 o Santos era o grande time do Brasil. Tinha sido campeão nacional daquele ano e em 2002, além de vice da Libertadores em 2003. Acabara de revelar a última grande geração de talentos do futebol brasileiro, com Robinho, Diego, Elano, Léo etc. Era um clube cheirando a tinta, com CTs, obras no estádio, patrocinadores bombando. Ainda seria bicampeão paulista em 2006 e 2007. Com poder para repatriar jogadores há muito na Europa e Wanderley Luxemburgo, após uma rápida passagem pelo Real Madrid.
Havia nos cofres do Santos uma fortuna. Só com a venda de Robinho foram cerca de 70 milhões de reais. Antes tinham saído Diego, Renato, Elano, Léo.
O Santos acabava de ressurgir de um longo período em que foi apenas coadjuvante. Uma época em que foi a negação de sua gloriosa história, do maior time do mundo, onde jogou o maior de todos, ao lado de alguns dos maiores de todos.
A pergunta que deve passar pela cabeça de todos os santistas é a seguinte: como é que tudo isso foi acontecer?
Analisando a história recente de dois dos maiores rivais, Palmeiras e Corinthians, o santista talvez encontre algumas coincidências. A maior delas é o fato de o Santos ter, literalmente, um dono, há muito tempo: o presidente Marcelo Teixeira. Como o Palmeiras tinha um dono, Mustafá Contursi, e o Corinthians também, Alberto Dualibi. O Palmeiras foi parar na Série B após um período de glórias e só agora começa a se reposicionar. O Corinthians viveu semelhante calvário, do qual começa a sair, ainda na Série B. Foram clubes tocados como estados autoritários durante um longo período.
No caso de Teixeira, é preciso reconhecer que ele teve coragem, que, pelo que se sabe, colocou muito dinheiro do próprio bolso, ou dos cofres das empresas familiares, para ajudar o Santos, que vivia uma situação terrível. Seria justo que, uma hora, ele sacasse esse investimento. A questão é que quando uma instituição é administrada por dez anos ou mais por uma mesma pessoa, ambos, instituição e pessoa, passam a se confundir em uma coisa meio amorfa, sem muita definição, que depois de um certo tempo não cheira bem. Onde termina o Santos e começa a família Teixeira?
O resultado é que o Santos, que era o maior vencedor do novo século, hoje está terrivelmente ameaçado de rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Na cidade de Santos e na Vila Belmiro muita gente pergunta se acabou todo o dinheiro arrecadado com a geração de 2002. Que foi um golpe de sorte muito bem administrado pelo Santos. A sorte uma hora acaba e a competência precisa se estabelecer.
Para os santistas, infelizmente, o que se vê passa longe da competência. Pode-se falar qualquer coisa de Emerson Leão, mas ele vinha recuperando o Santos, dando alguma forma a uma equipe destroçada no início de 2008. Havia uma rota a ser seguida. Enquanto ainda era técnico do Santos, ele soube que o clube procurava outros treinadores. Veio Cuca, e sua cabeça de trevo. Bom técnico, mas um bom líder? Não tem como ser bom líder, comandante, alguém que muda de idéia a cada dia. Que entrega o cargo aqui, volta atrás ali, pensa e repensa a toda hora. Que soldado acreditaria num general reticente em pleno campo de batalha?
Ainda assim, Cuca é o menos culpado. O falecido repórter santista Ibrahim Mauá costumava pontuar seus boletins na rádio Jovem Pan chamando a cidade de Santos de "terra da caridade e da liberdade". Talvez seja um pouco disso que esteja faltando ao Santos. Liberdade para que novas caras e idéias possam gerir o clube. Caridade para que todas as pessoas envolvidas no processo do clube de futebol possam ter um pouco mais de tranquilidade.
Ir à Vila Belmiro sempre foi um prazer. É um templo do futebol, um estádio aconchegante, ótimo para se ver o jogo, numa cidade bonita e hospitaleira. Atualmente, ira à Vila é perigoso para jogadores, torcedores, dirigentes e jornalistas. Há um clima de guerra e de ameaças no ar. Só quem perde com isso é o Santos. Não tenham dúvidas de que um jogador hoje procurado para atuar no clube pensa duas, três vezes antes de aceitar.
A pressão política no clube é enorme. Envolve setores da imprensa santista. Fora isso, a cidade reúne inúmeros ex-atletas, alguns deles foram craques de nível mundial. Pela qualidade de vida, foi escolhida como residência por dezenas de treinadores. Em suma, a cada prenúncio de crise existem muitos nomes prontos para assumir o Santos, alguns se oferecendo inclusive.
De nada vai adiantar a torcida agredir dirigente, jornalista, brigar com ela mesma. Só tende a piorar as coisas para o Santos, pode gerar punições.
O Santos agora precisa dos verdadeiros santistas. De um nome de consenso para administrar a crise e evitar a mais dolorosa das consequências, o rebaixamento. Porque já passou da hora de se tomar alguma providência. E aquele papo de o time não cai já ficou pelo caminho. Tantos outros caíram em processos semelhantes. Como cantou Beto Guerdes, "a lição sabemos de cor, só nos resta aprender". Que os santistas de bem aprendam enquanto é tempo.
7 comentários:
Ótimo post Noriega.. Eu também acho um absurdo um presidente de clube passar mais de 4 anos como presidente.. Como vc disse, o tempo vai passando e as duas coisas vao se misturando..
Nori, tava dando uma olhada no youtube e olha o que eu achei, espero que parabenize o kleber machado por essa perola..hahaha..
abraços e continue com o bom trabalho
http://br.youtube.com/watch?v=wLdz6Md1LrA
Nori, concordo com tudo que você escreveu. Não tem como entender porque o Santos está hoje na atual situação. Certamente o continuísmo é algo que nunca acaba bem!Contudo, os associados do clube também têm culpa, por votar no Marcelo Teixeira.Sem o Leão ou o Luxemburgo, ele se mostrou incapaz,inexperiente e perdido frente ao clube.É apenas lembrar no ano de 2000,2001 e 2005, onde o mesmo fez várias contratações de "medalhões" pagando a eles altíssimos salários.Em 05, por exemplo, trouxe desesperadamente giovanni, cláudio pitbull e luizão pagando salários muito altos, em poucos meses depois ele dispensou os jogadores, pagando mais dinheiro ainda de recisão contratual.
O sr. MT também pagou salários altos para o Luxemburgo.
E na minha opinião, o sr. Marcelo Teixeira também não sabe usar a marca do Santos, certamente um dos times mais famosos do país.ELe não manda de jeito nenhum jogo em SÃO PAULO, onde temos muitos torcedores!
Bom, se eu fosse colocar todos os erros aqui, levaria um mês escrevendo, então vou parar aqui mesmo.
Abraços
Caio Costa
São Paulo - SP
Muito bom o seu texto sobre o Santos, achei muito oportuna a comparação com as "ditaduras" passadas de Corinthians e Palmeiras. Dão certo num primeiro momento (lembrando que Teixeira, Contursi e Duailib ganharam muitos títulos à frente destes clubes), mas chega a hora em que deve haver a entrega do bastão, caso contrário a derrocada é certa! (Como a história tem mostrado.)
Você poderia incluir mais um exemplo típico, o de Eurico Miranda no Vasco: é o mesmíssimo cenário.
Prevejo que se o Juvenal Juvêncio tiver ares de arrogância e quiser se manter no poder por muito tempo (como já mostraram recentes manobras da situação são-paulina), a derrocada vai ocorrer também pelos lados do Morumbi. Porque o São Paulo não é diferente dos outros clubes, embora parte da mídia queira passar uma imagem diferenciada.
Caro Noriega, tanto você, autor do texto, como os colegas que já deram suas opiniões mataram a charada de forma muito competente; há pouco tempo, em aula, discutíamos exatamente este aspecto.
O ciclo é bem esse mesmo, continuismo, investimentos, títulos, dívidas e decadência e o inferno é o limite; não sabemos e nem temos como saber se Santos e Vasco vão cair pra série B e viver momentos complicados de suas histórias, porém, os "sintomas" são absolutamente os mesmos...quisera eu crer que outros vão aprender algo com isso, afinal, eles já sabem tudo já que o esporte brasileiro é um celeiro de lucros e boas administrações.
Abraços a todos,
Robert
Noriega,, parabéns pelo ótimo texto! Acompanho seu trabalho na Sportv e gosto muito dos seus comentários nos jogos do meu time, o BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, e de outros times.
Você é diferenciado, apesar de paulista não é bairrista e convenhamos a imprensa paulista é quase que em sua maioria bairrista, por isso você sobresai sobre ela.
O que acontece com o Santos, aconteceu recentemente com o Vasco, acontece com o Fluminense, mas no Tricolor das Laranjeiras, quem manda é o presidente do Plano de Saúde, por isso, coincidênicia ou não, todos estes famosos e tradicionais clubes do futebol brasileiros estão ocupando a vergonhosa parte de baixo da tabela, com grandes chances de serem rebaixados no final. O CAM também corre o risco de cair, concorda?
Ainda bem que no "meu" BOTAFOGO o ciclo do Bebeto está acabando. Sou fã do Bebeto e agradeço muito por tudo que ele e seus apoiadores vem fazendo em prol do FOGÃO, que vem ao longo dos últimos anos disputando títulos e jogando um futebol bonito, os campeonatos são consequência e não tardarão para a chegar, o BOTAFOGO tem um bom time e um bom elenco hoje em dia, diferente do ano passado e 1º semestre, mas de qualquer forma, penso que o BOTAFOGO está pronto para uma nova gestão, quem sabe do Renha, que é bom, competente e entende do negócio e é tão botafoguense, quanto o Bebeto.
Um abraço!
Saudações Alvinegras!!!!
... e ninguém cala!
Luiz Rogério
Nori, acho que faltou você comentar a "Era Luxemburgo", porque na minha opinião, ele conseguiu acabar com aquele dinheiro todo da venda do Robinho em pouco tempo. Sem contar que em 2002 ele deixou o Palmeiras, e logo após, o time foi rebaixado. Parece acontecer o mesmo com o Santos.
Um abraço Nori
boa noite nori gosto muito do seus comentarios no sportv e pfc parabens.
acho que dessa ves o santos não escapa o time é muito fraco
um forte abraço
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