quarta-feira, agosto 06, 2008

CLUBES X SELEÇÕES:
A GUERRA DA BOLA


Há tempos defendo essa tese. Não é possível a coexistência pacífica entre clubes e seleções no atual cenário do futebol. Sempre que cito isso participando de algum programa no SporTV sou chamado de exagerado, de catastrofista. Pois está aí a última polêmica sobre o tema, no caso da decisão da Corte Arbitral do Esporte liberando clubes da obrigação de ceder jogadores para suas seleções nacionais nos Jogos Olímpicos.
A questão é cristalina. O futebol é um baita de um negócio atualmente. Negócio do qual a Fifa ainda é dona de uma grande e atraente fatia: a Copa do Mundo. Acontece que o dinheiro circula e rende mais entre os clubes. Basta citar como exemplo o fato, puro e simples, de que a Liga de Clubes Campeões da Europa paga mais que a Eurocopa de Seleções. Um clube de futebol bem administrado é uma máquina de fazer dinheiro na Europa. E de pagar muito dinheiro a seus principais jogadores. O atleta profissional atualmente é uma commodity. E por que diabos um clube vai ceder esse bem valioso para que ele brilhe por uma seleção nacional, usando um raciocínio puramente maniqueísta? Já estão terminando os tempos em que, para ser valorizado, um atleta precisava jogar por sua seleção nacional. Curiosamente, esse fenômeno ainda está vivo no Brasil. Muitos jogadores são convocados pela Seleção para um, dois jogos e, depois de vendidos, somem do mapa da CBF.
Fico imaginando se o Barcelona, o Real Madrid, o Chelsea, o Milan estariam preocupados com as seleções dos países em que estão situadas suas sedes. Por que essas instituições são multinacionais do esporte. A Espanha foi campeã européia e isso não muda uma vírgula na rotina do Barcelona. O clube catalão - assim como seus colegas do grupo de times mais ricos do mundo - seguramente está mais interessado em seus compromissos no torneio espanhol e na Liga dos Campeões. Aliás, tenho certeza de que, se dependesse desses clubes bilionários, eles já estariam, há tempos, jogando uma Superliga Mundial entre eles, ano a ano, sem querer saber de times médios e pequenos - ou pobres.
A Fifa, sempre esperta, percebeu que estava perdendo terreno nessa disputa por cifrões. Se assim não fosse, porque teria resolvido, depois de muitos anos de puro desinteresse, criar seu Campeonato Mundial de Clubes? Ou, então, inventar a Copa das Confederações? Ela quer as grandes estrelas atuando para os seus patrocinadores e não apenas para os clubes.
Enquanto isso, no Brasil, os grandes clubes, pessimamente administrados, ainda são escravos de práticas pré-históricas. Precisam que seus jogadores passem por um período de "engorda" na Seleção, ganhem uma suposta "valorização" por isso (como se uma convocação valorizasse alguém) e encham os bolsos de seus empresários com uma negociação.
Alguém poderia imaginar um time brasileiro entrando na Corte Arbitral do Esporte?
A guerra ainda está nas primeiras batalhas e é difícil prever algum movimento. Exauridos por um calendário que beira o irracional, os jogadores pagam um alto preço com contusões e chegam à Copa do Mundo, que ainda é a jóia da coroa, no limite de sua capacidade física. Como qualquer recurso natural, o atleta tem sua capacidade, que está próxima do esgotamento.
Mas não há limite para a ganância empresarial. Resta saber, certamente em mais alguns anos, quem levará a melhor: o dinheiro dos clubes ou o dinheiro e a política da Fifa?

NOSTALGIA OLÍMPICA

Lembro-me até hoje do momento em que pisei em Barcelona para a cobertura das Olimpíadas de 1992. Do benvinguts (bem-vindo em catalão) quando peguei minha credencial. Alguns que frequentam esse espaço sabem, muitos não. Fui atleta durante uns bons dez anos. Um razoável jogador de vôlei que até ganhou um dinheirinho com o esporte. Tive meus sonhos de, um dia, jogar uma Olimpíada. Interrompidos, claro, pela falta de talento compatível. Acabei realizando o desejo de outro modo, trabalhando como jornalista. Por vários motivos, jamais voltei a fazer parte da família olímpica. Abri mão disso para Sydney-2000, sabendo que estava tomando a medida mais justa profissionalmente e sendo o mais correto possível com dois grandes amigos que eram, naquela época, por mim chefiados. Em outras ocasiões não quiseram que eu fosse.
Lembro-me como se fosse hoje da fantástica vitória do espanhol Fermín Cacho nos 1.500 metros, da frustração com a eliminação de Sergei Bubka, da alegria incontrolável com a vitória do vôlei masculino, de ver Carls Lewis, Jim Courier, Summer Sanders, o Dream Team, grandes mitos do esporte desfilando pela Vila Olímpica.
Para quem ama o esporte de verdade, a Olimpíada é como ir à Disney. Pena que haja tanta perfumaria envolvendo a cobertura esportiva hoje em dia. Porque existem histórias maravilhosas pipocando. Felizmente, ainda existem - cada vez menos - boas penas e microfones dispostas a contá-las.

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