terça-feira, abril 19, 2016

Vamos à luta, ó campeões!

Era uma tarde dos anos 70. Chutaria 1975. Como quase sempre fazia, acompanhava meu saudoso pai, Luiz Noriega, quando ele ia narrar, com sua incomparável categoria, jogos de futebol, basquete, vôlei etc.
O estádio era o Morumbi e um dos times era a Portuguesa, com certeza. O adversário? Tanto faz.
Provavelmente era um domingo - e de verão. Porque o dia de sol espetacular rapidamente se transfigurou e precipitou-se um aguaceiro monumental.
O estádio não estava cheio, mas a torcida da Lusa, que como quase sempre era minoria, foi deslocada, saindo da arquibancada para o anel intermediário, das numeradas superiores do estádio. Chovia uma enormidade.
Recordo-me perfeitamente que a torcida da Portuguesa estava posicionada à esquerda da cabine da TV Cultura, onde meu pai narrava o jogo.
Mesmo em minoria, a gente lusa gritava a plenos pulmões e sobrepujava a torcida que estava em maior número. Uma cena em particular me marca até hoje, 41 anos depois. Ensopada pela chuva, uma senhora de meia idade, braços fortes e traços de quem já batalhara muito na vida, gritava a plenos pulmões pelo seu time. Ao seu lado, um pequeno torcedor, que ela ora acalentava e ora abandonava pelo time, engrossava a cantoria.
Em campo, pouco importa contra quem jogava, a Lusa conseguia uma vitória improvável e consagradora.
O que me comoveu naquela cena foi o amor. A entrega.
Sei que muita gente acha bobagem, mas naquele dia aquele pequeno grupo de fanáticos pegou seu time no colo e o conduziu a uma vitória encharcada de simbologias.
Imagino que muita gente que esteve naquele jogo ainda se recorde de um desses momentos que fazem a magia do futebol.
Que o espírito, em vida e em outros planos, daquelas pessoas possa iluminar a Associação Portuguesa de Desportos, sua gente, sua alma.
A Lusa faz parte da minha vida de esportista, da minha vida de jornalista.
Fez a vida de muita gente, de muitas famílias.
Representa, sim, muito e muitos,
Ainda que não seja um fenômeno de popularidade é um importante laço social, cultura e esportivo entre dois povos. Foi, é e sempre será o clube dos amores de seus torcedores.
Que o grito daqueles bravos lusos encharcados de chuva e paixão possa ecoar ainda hoje e indicar o caminho da salvação.
Vamos à luta, ò campeões!
Força, Lusa!