quarta-feira, novembro 27, 2013

Seu Nilton


A missão era secreta. Precisava entrar em contato com alguns amigos de meu pai, Luiz Noriega, a fim de convidá-los para a festa na qual comemoraríamos seus 50 anos de carreira, em 1997. Desconfiado até o último fio dos poucos cabelos, ele dificilmente se deixava levar por tentativas de surpresas. O jeito era aproveitar quando ele não estava em casa para fazer os contatos.

Entre os escolhidos estava A Enciclopédia. Nilton Santos. Um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Ele e meu pai eram muito amigos. Lembro-me de uma ocasião, em 1991, quando eu fui cobrir um torneio de tênis em Brasília e meu pai pediu para que eu fizesse contato com o Nilton, que estava morando lá. Conversei com ele, pedi aos organizadores do torneio que conseguissem uma credencial especial. Mas eu telefonava e aquela voz sempre mansa, calma, respondia com uma simplicidade contagiante:

- Maurício, obrigado, mas eu não gosto disso, não. Não gosto de tratamento especial, de aglomeração. Fico aqui no meu cantinho, agradeço sua gentileza.

Seis anos depois eu telefonava de novo para o seu Nilton. A mesma simplicidade e a calma na voz que me atendeu, agora na Ilha do Governador, no Rio.

- Maurício, eu morro de medo de avião. Dê um abraço no Luiz, fale que eu telefono para ele depois para a gente conversar.

E assim ele fez. Telefonou, conversaram longamente, lembraram de viagens, jogos, da Copa de 1962, no Chile.

Ontem fez 11 meses que meu pai partiu para a sequência de sua jornada. Hoje partiu seu Nilton. Tenho certeza que meu velho estava a postos para recebê-lo e colocar o papo em dia.

Partiu fisicamente um dos grandes. Seu Nilton. De uma era que não volta mais, de estilistas, de refinamento técnico, do futebol de fundamentos perfeitos, da Era de Ouro da seleção brasileira.

Fica o legado eterno de alguém que foi figura determinante para transformar esse esporte no sucesso planetário que é hoje.